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Presidente do IPCA: “Espero deixar uma Universidade Politécnica verde, digital e inclusiva”

No início do seu segundo mandato à frente do IPCA, Maria José Fernandes reafirma a fidelidade à matriz e a continuidade da estratégia de crescimento sustentável, respondendo às necessidades de formação da população, das empresas e da região.
16 Janeiro 2022, 21h00

Maria José Fernandes está a tornar o IPCA – Instituto Politécnico do Cávado e Ave cada vez mais relevante dentro e fora do Minho, onde se insere. Chegou à presidência em 2017 e em quatro anos fez crescer o número de alunos, professores e pessoal não docente, alargou e diversificou a oferta educativa e as parcerias e criou duas novas escolas, que já estão em funcionamento – a Escola Superior de Hotelaria e Turismo e a Escola Técnica Superior Profissional. Até 2025 continuará a espalhar a sua marca fazedora, uma vez que tem pela frente um segundo mandato. A sua dinâmica e ambição fazem dela a pessoa certa no lugar certo.

Como olha a presidente do IPCA para a função? Quais são as suas competências e preocupações?
Gerir uma Instituição de Ensino Superior, nos dias de hoje, é um desafio constante e com a obrigação de ter o olhar atento a tudo o que nos rodeia e influencia, compreendendo a forma como podemos e devemos também influenciar o meio em que atuamos. Os novos desafios de hoje são oportunidades concretizadas amanhã. Esta capacidade de transformar desafios em oportunidades exige uma atuação responsável, comprometida e sustentável nos vários eixos e dimensões que caracterizam a nossa missão, em que a valorização do capital humano é a chave central de toda a atuação.

No início dos anos noventa do século XX, a região do Vale do Ave, onde se insere o Instituto Politécnico do Cávado e Ave, viveu uma crise económica e social de grande dimensão. O Instituto nasceu em 1994. Que papel desempenhouna recuperação da região?
A educação é um pilar fundamental para o desenvolvimento da comunidade e das regiões. Vivemos numa sociedade centrada na informação e no conhecimento e neste contexto é crucial, quer para as pessoas, quer para o país, que se atinjam níveis cada vez mais elevados de formação graduada e de formação ao longo da vida. Só desta forma conseguiremos ter uma sociedade económica, social e culturalmente desenvolvida. É neste âmbito que o IPCA trabalha, desde 1994, no sentido de proporcionar a melhor formação aos seus estudantes, ao mesmo tempo que procura dar resposta às necessidades da região onde está inserida, e do próprio país – aliás este tem sido o nosso propósito desde o início. Desde logo a comissão instaladora começou a idealizar os primeiros cursos da Escola Superior de Gestão, com a visão estratégica das áreas de formação que eram necessárias na região em complementaridade com o que já era oferecido percebendo também que, para responder às necessidades de qualificação da população adulta, teria de oferecer bacharelatos em regime pós-laboral.

O que representa o IPCA para o desenvolvimento futuro do Minho?
O IPCA é uma instituição dinâmica e ambiciosa, em constante crescimento. Com forte aposta na ligação às empresas, seja através de oferta educativa que lhes seja útil, como no desenvolvimento de investigação aplicada e apostando na internacionalização. É, por isso, um parceiro estratégico na formação de jovens e adultos profissionais altamente qualificados, assim como na transferência de conhecimento e sua aplicação na resolução de questões/problemas propostos pelo tecido económico e social. Somos reconhecidos como uma instituição com impacto muito significativo nas regiões onde nos inserimos.

Onde se localiza?
O IPCA nasceu em Barcelos, mas nos dias de hoje, já se estende a Braga, onde está a sede da Escola Técnica Superior Profissional; Guimarães (no Avepark), Vila Nova de Famalicão e, este ano, chegou a Esposende, em instalações provisórias para já. Este alargamento em infraestruturas e em oferta educativa proporciona aos jovens, e à população ativa, a possibilidade de tirar um curso superior devido à proximidade e aos regimes de ensino praticados — laboral, pós-laboral e ensino a distância —, assim como a possibilita de responder às necessidades das empresas e instituições locais. Acresce ainda, o facto do IPCA ser uma das sete instituições portuguesas integradas num dos 24 consórcios aprovados pela Comissão Europeia como Universidades Europeias.

Quais são as suas grandes temáticas do IPCA? Alguma nova aposta na forja?
O IPCA orgulha-se de ser uma referência a nível nacional em áreas como a Contabilidade e Fiscalidade, o Design e a Tecnologia. Está, também, a crescer no domínio da Hotelaria, Turismo e Marketing, com a construção da Escola-Hotel que será distintiva em relação a tudo aquilo que existe em Portugal. Simultaneamente, tem uma oferta muito alargada de Cursos Técnicos Superiores Profissionais, que respondem às necessidades identificadas no constante diálogo que temos com as empresas e o meio industrial. Por outro lado, procuramos que a formação dos nossos estudantes não termine quando eles finalizam a sua licenciatura ou o mestrado. Investimos ainda na formação executiva, visando a atualização e aquisição de novas competências.

E na investigação?
Ao nível da investigação, desenvolvimento e inovação (I&D+i), o IPCA tem três centros: o Centro de Investigação em Contabilidade e Fiscalidade (CICF), o Applied Artifical Intelligence Laboratory (2Ai) e o Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura (ID+), este último em colaboração com a Universidade de Aveiro e a Universidade do Porto. O IPCA promove uma política de I&D+i claramente alinhada e articulada com a estratégia de especialização inteligente da região e do país, de forma a canalizar os recursos disponíveis para o desenvolvimento de atividades de I&D+i com impacto no desenvolvimento sustentável e na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Para responder aos desafios societais, o IPCA atua seguindo uma abordagem colaborativa e de cooperação com todas as entidades do tecido económico e social da região, envolvendo professores, investigadores e estudantes, de forma a potenciar as atividades de I&D+i desenvolvidas e aumentar a sua utilidade social, no contexto nacional e internacional. Neste sentido, e conscientes da necessidade de crescer na área da investigação, vai nascer o B-CRIC (Barcelos Collaborative Research and Innovation Center) no terreno, adquirido pelo Município de Barcelos, onde edificaremos, entre outros equipamentos, este espaço dedicado à investigação, valorização e transferência de tecnologia. O complexo conta ainda com uma residência universitária, um auditório com 500 lugares, gabinetes administrativos e espaço de restauração.

Que relação tem o IPCA com o tecido empresarial da região onde se insere? As empresas vêm ao Instituto procurar soluções para os seus problemas?
A sinergia com as empresas é fundamental e cada vez mais importante pela inovação, pela criação de talento e pelo desenvolvimento económico e social da região, é um vetor que tem atravessado os 27 anos do IPCA. Procuramos ajustar a nossa oferta educativa às necessidades e evolução das empresas da região, através de um profundo trabalho no terreno. Alguns dos nossos cursos são, inclusive, promovidos em parceria com empresas, decorrendo a componente prática nas instalações destas, tal como acontece com o CTeSP em Soldadura Avançada, cujas aulas são lecionadas na Bysteel (DSTGroup). Para além da educação superior orientada para as necessidades das empresas, a oferta do regime pós-laboral permite melhoria das competências dos recursos humanos, promovendo também assim a fixação de talento na região.

Este ano, dando continuidade à sua estratégia de expansão e serviço ao território, o IPCA alargou a sua oferta letiva a Esposende, que embora ainda em instalações provisórias, está em concurso lançado pela Câmara Municipal de Esposende a construção o Laboratório de Inovação e Sustentabilidade Alimentar (LISA) e a escola de verão do IPCA neste município.

Qual é o retrato do corpo docente do IPCA e a qualificação dos professores?
O IPCA tem um corpo docente bastante jovem e qualificado. Os dados recolhidos para o Relatório de Atividades do ano de 2020 regista um total de 359 docentes, correspondendo a 213 ETIs. Em 2021, este número aumentou substancialmente fruto do crescimento verificado na oferta formativa. De salientar ainda o aumento de doutorados a lecionar no IPCA, em 2015, tínhamos 82 docentes com doutoramento, em 2020 contamos com 115 docentes com grau de doutor.

Quantos alunos tem?
Assistimos a um aumento global de candidaturas ao ensino superior que se tem verificado em termos gerais, não apenas no âmbito do concurso nacional de acesso, mas também no âmbito dos concursos locais que o IPCA promove para o acesso aos cursos de mestrado, o acesso aos cursos de licenciatura através dos concursos especiais (incluindo os estudantes internacionais) e o acesso aos cursos técnicos superiores profissionais. O IPCA, neste ano letivo 2021-2022 atingiu os 6100 estudantes nas várias áreas de ensino.

Quantos saem formados por ano? Onde se empregam?
Até hoje o IPCA já formou 9187 estudantes, sendo que no ano anterior, formaram-se no IPCA 1147 diplomados nos vários níveis de ensino.

Em Portugal os empresários e gestores queixam-se frequentemente que não encontram pessoas com as competências que precisam. Qual é a sua leitura da situação?
No IPCA tentamos sempre que a nossa oferta educativa vá de encontro às necessidades, quer da região, quer das empresas. Aliás, temos 35 cursos técnicos pensados para promover a rápida integração dos estudantes no mercado de trabalho e assegurar que as empresas encontram profissionais com o perfil desejado. Uma realidade semelhante verifica-se nas nossas licenciaturas, assim como nas pós-graduações e mestrados, estes cada vez mais procurados. A pensar em todos os públicos, desde os jovens que terminaram agora o secundário ao público ativo a precisar de reciclar e afirmar conhecimentos, a nossa oferta em regime pós-laboral é cada vez mais alargada. Assim como temos de chegar aos jovens que não estão a estudar, o grupo dos “nem – nem”, ou seja, os que nem estudam nem trabalham – e cativá-los para voltar a estudar, aumentar a suas qualificações ajudando-os a inserir-se profissionalmente, por exemplo, estudar de noite e trabalhar durante o dia.

O seu primeiro mandato como presidente do IPCA ficou marcado pelo crescimento em todas as áreas: alunos, professores, pessoal, cursos, escolas, etc. Qual é o objetivo agora?
O IPCA é hoje uma instituição consolidada, reconhecida pela qualidade da sua formação, utilidade da produção científica e transferência de conhecimento e tecnologia para a sociedade, assim como pelo seu forte contributo para o desenvolvimento sustentável do envolvente. O IPCA aumentou o número de estudantes, passando de 4100 estudantes em 2016 para mais de 6100 estudantes em 2021. Foi feito um investimento no número e na qualificação das pessoas que trabalham na instituição. Em 2016, o corpo docente do IPCA era constituído por 175 docentes a tempo integral; em 2021, em período homólogo, o número situa-se nos cerca de 300. Em síntese, o nosso objetivo é continuar a crescer de forma sustentável, respondendo à região, adaptando-nos a novas necessidades e novos desafios em compromisso com uma região de elevada população… só no quadrilátero são quase 100 mil.

Há alunos estrangeiros no IPCA? A internacionalização é uma prioridade?
Sim, temos estudantes internacionais a estudar na Instituição, sendo a internacionalização uma prioridade e ao mesmo tempo um dos grandes desafios que temos. Se visse daqui a dez anos o IPCA via-o inserido numa rede regional internacional com uma grande afirmação em algumas das suas áreas. Prova disso foi a aprovação da candidatura da RUN-EU (Regional University Network – Universidade Europeia), liderada pelo Politécnico de Leiria e envolvendo sete instituições europeias, na qual o IPCA está integrado, colocando a instituição num patamar privilegiado e de maior responsabilização no âmbito da modernização e internacionalização do ensino superior.
No ano letivo 2021/22, foram admitidos 316 novos estudantes, ao abrigo do estatuto de estudante internacional, nos vários regimes de ensino: CTESP, licenciatura, pós-graduação e mestrado.

Que considerações lhe merece o Plano de Recuperação e Resiliência, sobretudo no que respeita ao ensino superior?
Considero que o PRR será uma oportunidade para fazer investimentos que são necessários às Instituições de Ensino Superior, investimentos não só ao nível das infraestruturas, mas também no aumento da oferta formativa para responder a desafios com que o país está confrontado, designadamente, aumentar as qualificações da população adulta e dos jovens nas áreas das STEAM (Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). No caso concreto do IPCA, temos já aprovada a candidatura para estas duas áreas no valor de 9,7 milhões de euros. Permitirá, ainda, avançar com a construção da residência académica, com cerca de 300 camas, uma obra estruturante e que nos permitirá acolher mais e melhor os estudantes deslocados, quer os nacionais, quer os internacionais.

Qual o peso da palavra sustentabilidade na Escola?
O IPCA pretende ser uma verdadeira alavanca para o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, tendo como objetivo estratégico mobilizar toda a comunidade em torno do conjunto de objetivos e metas comuns aí estabelecidos e promover a convergência em todas as suas áreas de atuação. Nos próximos anos, intensificaremos as medidas e práticas que garantam um Campus sustentável e socialmente responsável.

Quando em 2025 terminar o mandato, onde gostaria de ver o ensino superior politécnico?
No final do meu mandato quero, e estou muito esperançosa que a designação dos Institutos Politécnicos seja alterada passando a designar-se Universidade Politécnica, e ainda que os politécnicos possam atribuir o grau de doutor, que neste momento não nos é possível. No entanto, face ao crescimento e reconhecimento da investigação que se promove nas instituições politécnicas faz todo o sentido, pois acabamos por ser penalizados por esta limitação.

E o IPCA, onde quer quer esteja, nessa altura?
No que se refere ao IPCA, espero deixar uma Universidade Politécnica verde, digital e inclusiva envolvida e comprometida com as autarquias locais e todo o tecido económico, empresarial e social. Um Politécnico que dá cartas no panorama nacional e internacional, quer ao nível da oferta formativa, quer na investigação e na investigação aplicada. Um Politécnico que reconhece que o seu papel não é só a co-criação de conhecimento, mas também formar jovens e adultos capazes de responder aos desafios vindouros, pelo que a aposta no desenvolvimento de competências transversais (soft skills) será uma constante.

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