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XTB alerta que “remoção do excesso de liquidez pode ser maior desafio para mercados em 2022”

A implementação de estímulos monetários e fiscais maciços deu um enorme suporte aos mercados bolsistas, constata a XTB. No entanto, “esta festa financiada pelos bancos centrais não vai durar para sempre”, alerta a corretora.
17 Janeiro 2022, 18h00

A corretora XTB publicou as suas previsões para os mercados em 2022. “A remoção do excesso de liquidez poderá ser o maior desafio para os mercados no próximo ano”, alertam os corretores da XTB.

Aqui a corretora analisa dois mercados que têm perspetivas diferentes sobre a durabilidade da inflação e como tal com diferenças de atitude quanto à remoção dos estímulos de política monetária por parte dos bancos centrais. Fed e BCE não defendem o mesmo quanto à necessidade de subir os juros para responder à inflação.

“A nossa impressão é que os mercados estão a descontar esta crença positiva [numa inflação transitória]”, refere a XTB.

A implementação de estímulos monetários e fiscais maciços deu um enorme suporte aos mercados bolsistas, constata a XTB. No entanto, “esta festa financiada pelos bancos centrais não vai durar para sempre”, alerta a corretora.

A XTB considera que a normalização da política monetária parece ser o maior risco para os mercados, e “a questão é se a Fed estará mesmo disposta a intervir se a potencial turbulência dos mercados bolsistas não for acompanhada pela deterioração da economia real”, questiona a corretora no que toca ao mercado norte-americano.

“Espera-se que a Fed [banco central dos Estados Unidos] termine o Quantitative Easing em março de 2022 com as subidas de taxas logo a seguir”, refere a análise.

O fim antecipado do programa de compras de ativos poderá levar a uma subida das taxas de juro mais cedo do que se esperava, uma vez que a economia continua a dar sinais de recuperação à medida que o mercado de trabalho continua a recuperar (significativamente) e os níveis de inflação mantêm-se em níveis elevados.

“Os principais índices de Wall Street ultrapassaram em 100% os seus mínimos pandémicos depois de registarem ganhos de dois dígitos em 2021, recorda a corretora.

No que toca às métricas de avaliação que ligam os preços de mercado aos fundamentais, “o rácio price-to-earnings (PER) para o índice S&P 500 disparou para um recorde de quase 31 no final de 2020, ultrapassando o recorde anterior de quase 30 alcançado no final de 1999 – no auge da bolha dot-com”,  diz a XTB que lembra que as ações parecem ainda mais caras quando comparamos os preços de mercado com os dados das vendas. “O índice S&P 500 transacciona a um rácio price-to-sales superior a 3, comparado com 2,25 durante a bolha dot-com ou 1,6 antes da crise financeira de 2008″, diz a corretora que considera que o rácio price-to-book “parece o menos extremo dos três, mas mesmo neste caso o rácio está a aproximar-se dos seus níveis da bolha dot-com”.

“É um facto – as ações dos EUA nunca foram tão caras como agora em relação aos seus fundamentais. Isto significa que o mercado está à beira do colapso? Não necessariamente, diz a XTB

Já na Europa e ao contrário da Reserva Federal, não se espera que o Banco Central Europeu comece a aumentar as taxas rapidamente. “De facto, os programas de emergência pandémicos expiram na primeira metade de 2022, mas a presidente do BCE, Christine Lagarde, advertiu que as taxas de juro podem não aumentar tão rapidamente como os mercados esperam.

Por outro lado, a zona euro está também a enfrentar elevadas taxas de inflação. Embora não sejam tão elevadas como nos Estados Unidos, continuam muito acima do objetivo do BCE. No entanto, uma maior aceleração do crescimento dos preços poderia desencadear uma ação política por parte do BCE, defende a XTB.

 

DAX condicionado pelo impacto das  encomendas mais lentas nas empresas alemãs 

No entanto, há também outra fonte de preocupação quando se trata da Europa, e da Alemanha em particular, alerta a corretora.

“A Alemanha é o coração industrial da Europa e, por isso, a economia alemã é vulnerável a rupturas na cadeia de abastecimento. A escassez de componentes-chave, como semicondutores, ou os preços elevados das matérias-primas estão a abrandar a produção industrial, enquanto o crescimento das encomendas está a vacilar após um salto no início de 2021”, contextualiza a XTB.

“Embora o salto no crescimento das encomendas em 2021 possa ser fundamentado com uma base comparativa relativa a 2020 bastante baixa, não deixa de ser motivo de preocupação. Parece haver uma forte correlação entre o crescimento ano após ano das encomendas de fabrico alemãs e o desempenho ano após ano do índice DAX”, refere a corretora.

A XTB cita então o Instituto Ifo que espera que os problemas da cadeia de abastecimento permaneçam graves na primeira metade de 2022, antes de começarem a recuperar durante o verão.

Por sua vez o Bundesbank também não vê a situação a melhorar nos próximos meses, prevendo-se que as restrições da cadeia de abastecimento comecem a abrandar até ao final de 2022.

“O Instituto Ifo observa igualmente que a recuperação pós-pandémica dos investimentos empresariais perdeu dinamismo no verão de 2021”, diz a análise que lembra igualmente que o instituto de investigação ZEW prevê uma aceleração do crescimento do PIB em 2022, mas apenas no pressuposto de que os estrangulamentos no abastecimento sejam resolvidos nos primeiros meses de 2022.

“Após o início da pandemia em 2020, o ano de 2021 foi um ano de exuberância, tanto na economia global, como nos mercados. Os estímulos massivos produziram uma procura muito forte que causou desequilíbrios e pressões sobre os preços, enquanto que a liquidez abundante levou os ativos a valorizarem para níveis históricos”, lembra a XTB na sua análise aos mercados para 2022.

 

O que esperar em 2022?

O consenso geral aponta para a continuação da recuperação económica e da normalização? Ou será que a inflação e os problemas de oferta irão prejudicar o desempenho económico e o sentimento dos investidores? São as perguntas deixadas pela XTB na sua antevisão completa de 2022, abrangendo a situação económica, a política monetária e os mercados cruciais, incluindo o ouro, os índices dos EUA e as criptomoedas.

“A recessão profunda, mas de curta duração, de 2020, seguida de um boom de estímulos, tornou o panorama económico extremamente difícil de interpretar”, refere a corretora que lembra ainda que devido às restrições da Covid, “as cadeias de abastecimento são constantemente desafiadas e não conseguem responder a toda a procura, mesmo com preços mais elevados”.

“Poderia dizer-se que esta é uma vitória para a teoria monetária quando a adição da oferta monetária resulta em preços mais altos em vez de crescimento mais elevado”, frisa a XTB.

O consenso económico assume um crescimento económico de cerca de 4% em 2022 nos países desenvolvidos, e em 2023 as expectativas de crescimento ainda estão acima do ano não-pandémico de 2019. A XTB diz que alguns economistas parecem acreditar numa natureza transitória da inflação pois esperam que esta seja moderada nos países emergentes e na China e que arrefeça gradualmente nos EUA.

Estagflação é possível

O cenário de estagflação parece possível aos analistas da XTB. “Sim, parece sombrio, mas é possível. Em 2022 poderemos ter uma menor procura por três razões. Maior inflação significa menor rendimento disponível e menor confiança dos consumidores; os efeitos dos estímulos governamentais estão a desaparecer (especialmente nos EUA); as poupanças acumuladas durante a pandemia estão a ser gastas.

“Se a queda na procura for significativa quando as empresas aumentarem a sua capacidade de produção, poderão enfrentar um declínio repentino das receitas numa altura em que o crescimento salarial é elevado e as taxas de juro normalizadas”, alerta a XTB.

“Pensamos que algum cenário intermédio é o cenário mais provável”, diz a corretora que defende que “os investidores devem estar atentos a 2 coisas”, por um lado “quão rapidamente estão a ser resolvidos os problemas das cadeias de abastecimento (ou se existem novos obstáculos, como restrições, devido à Covid)”. Por outro se a pressão inflacionista está a alargar-se e a alastrar-se ao crescimento dos salários (tornando mais provável o aumento das taxas de juro).

Será o ouro um bom refúgio?

O ouro tem sido visto como uma reserva de valor e como o ativo adequado para se proteger contra a subida dos preços. Mas, alerta a XTB, o ouro nem sempre proporcionou uma boa cobertura contra períodos de elevada inflação.

“Atualmente muitos investidores questionam-se sobre o desempenho do ouro em 2022, especialmente depois de um período de volatilidade reduzida como aconteceu em 2021. O ouro e outros metais preciosos registaram um bom desempenho em 2020; no entanto, 2021 não foi tão empolgante para os investidores em ouro”, refere a análise.

Já 2022 “certamente poderá ser [empolgante para o ouro], pois as próximas mudanças em torno das políticas monetárias poderão provocar períodos de maior volatilidade no mercado”, defende a XTB.

“Um maior aperto nas políticas monetárias poderia criar uma pressão ainda maior, mas o passado também nos mostrou que a materialização de alguns fatores de risco poderia ser também um sinal contrário e uma oportunidade para os investidores”, lembram os analistas da corretora.

A XTB acrescenta que “quando analisamos o comportamento do mercado em períodos onde os bancos centrais decidem dar início a uma redução dos estímulos, podemos afirmar claramente que, historicamente, tem sido negativo para os preços dos metais preciosos, principalmente devido ao aumento das yields”.

“Segundo a última reunião da Reserva Federal Americana, espera-se que a primeira subida das taxas de juro possa ocorrer já em meados de 2022, podendo ser este um momento chave para o ouro”, defende corretora.

XTB prevê recuperação da oferta de petróleo

O barril de petróleo Brent para entrega em março abriu hoje em alta no Intercontinental Exchange Futures (ICE) de Londres, a cotar-se a 86,16 dólares e está a subir 0,31% para 86,33 dólares. Nos Estados Unidos o crude avança 0,33% para 84,10 doláres. O que dizem os analistas da XTB?

“Os massivos estímulos à economia dos governos e dos bancos centrais, em conjunto com o regresso à normalidade, levaram a uma clara recuperação da procura de petróleo em 2021”, lembram. Perante esta situação, “assistimos a um ajuste moderado da oferta por parte da OPEP+, que tomou medidas drásticas em 2020 com o objetivo de estabilizar o mercado. Contudo, a recuperação da oferta não tem conseguido acompanhar os atuais níveis de procura, criando um desequilíbrio (défice) entre a oferta e procura”, refere a corretora que lembra que tem havido alguns esforços para combater os preços excessivamente elevados, incluindo a libertação de reservas estratégicas por parte dos EUA, mas o seu impacto tem sido reduzido e o único fator que tem contribuído para correções (pontuais) de baixa nos preços são as novas variantes do coronavírus.

“As previsões em torno da oferta e da procura para 2022 indicam que o próximo ano deverá traduzir-se numa maior recuperação da oferta, acabando assim com o atual défice no mercado. Isto deveria, teoricamente, gerar uma pressão descendente sobre os preços”, defende a XTB.

“No entanto, tenha em conta que tudo pode depender da decisão da OPEP+ de restabelecer totalmente os níveis de oferta. Além disso, a procura pode voltar aos níveis pré-pandémicos no final do segundo ou início do terceiro trimestre de 2022. Há também indicações de que a recuperação da procura está a ser subestimada por problemas no setor da aviação e por outras questões nas cadeias de abastecimento que podem desvanecer-se durante 2022”, alerta a corretora.

 

No mercado Forex, a XTB questiona se 2022 será ponto de viragem no cross Euro/Dólar

O ano de 2021 foi marcado pela recuperação da força do dólar americano, mesmo quando a Fed se
recusou a reconhecer os riscos em torno da inflação durante a maior parte do ano. Será que a “reviravolta da Fed” representa um período mais longo de valorização do dólar americano?, questiona a XTB.

“No futuro, pensamos que é essencial perceber se a decisão da Fed foi (ou não) precipitada e quais os impactos económicos que podem surgir. No caso da economia continuar a dar sinais fortes de crescimento, os aumentos das taxas serão seguidos de aumentos nas yields das obrigações. Dado que já existe um pouco de potencial de baixa para o par cambial euro-dólar, este cenário alimentaria ainda mais a força do dólar”, começa por defender a XTB que ressalva no entanto que “se se começar a verificar que tais decisões estão a ter um impacto negativo na economia, as metas em torno dos aumentos das taxas de juro podem começar a ser adiadas, os mercados poderiam reagir e o dólar poderá enfraquecer”.

Será que 2022 poderá ser um ponto de viragem? “Dito isto, 2022 poderá ser um ano de viragem para o euro-dólar se um dos dois cenários se materializar. Isto é, o BCE superar a Fed no aperto monetário (quase impossível) ou a Fed desistir dos planos de aperto se a economia começar a dar sinais de contração”, dizem.

 

Bitcoin, Ethereum

“O ano de 2022 promete ser tão empolgante como foi o de 2021”, defende a XTB no que toca às criptomoedas.

As criptomoedas têm atraído investidores devido aos ganhos exponenciais que, em alguns casos, se têm registado ao longo dos últimos anos.

“Os investidores mais cautelosos salientam, no entanto, que os ciclos de crescimento passados sugerem que o primeiro trimestre de 2022 pode trazer um fim ao mercado de alta”, dizem.

“Alguns investidores começaram a atribuir o papel de ouro digital à Bitcoin devido à sua quantidade limitada e à sua elevada valorização. Embora 2021 tenha sido um ano forte para as criptomoedas, também mostrou que os investidores em cripto ativos partilham as mesmas preocupações dos mercados de ações”, defende a corretora.

Durante períodos de incerteza, as criptomoedas também ficam expostas a períodos de grande volatilidade e a quedas significativas, alertam.

El Salvador tornou-se o primeiro país em 2021 a começar a aceitar pagamentos em Bitcoin e começou a comprar a criptomoeda em obrigações a 10 anos, entre outras coisas. Além disso, os salários dos presidentes de câmara de Nova Iorque ou Miami são pagos em criptomoedas. No Canadá, foi aprovado um ETF (Exchange Traded Fund) em BTC.

“Neste ano, os investidores estarão atentos às notícias de um ETF semelhante que poderá ser aceite nos Estados Unidos. Além disso, estão em curso trabalhos sobre sistemas que acabarão por acelerar os pagamentos em Bitcoin e aumentar a capacidade da rede, o que poderá ter um impacto positivo na sua utilização prática”, lembra a corretora.

Até agora, os EUA e a UE não têm seguido a China em termos de regulamentação. “No entanto, muitos países em todo o mundo estão a planear abordar totalmente o tema das criptomoedas e da sua potencial regulamentação ao longo de 2022”, conclui a XTB.

 

 

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