Até quando a disparada nos preços do trigo deve prejudicar o balanço da M. Dias Branco

Ao InfoMoney, CFO e DRI do grupo falaram sobre como mitigar alta da commodity via downsizing de embalagens, aumento de preços e maior mix de produtos

Anderson Figo

A disparada dos preços do trigo e do óleo de palma no mercado internacional em 2022, diante do estouro da guerra entre Rússia e Ucrânia, prejudicou o balanço da M. Dias Branco (MDIA3) no período. Apesar de ter conseguido crescer em volume de vendas e em receita líquida, a companhia viu seus custos subirem 31% no ano, frente a 2021.

Segundo Fabio Cefaly, diretor de relações com investidores do grupo, a política de hedge e os estoques da M. Dias Branco atrasaram um pouco o efeito negativo dos preços das commodities sobre o balanço da companhia, por isso o impacto maior foi sentido no quarto trimestre de 2022, quando os custos subiram também 31% na comparação com o mesmo período do ano anterior. A boa notícia, contou Cefaly ao InfoMoney, é que os valores já estão em tendência de queda neste início de 2023, o que deve trazer certo alívio aos números do primeiro trimestre.

Gustavo Theodozio, CFO da companhia, lembrou que a empresa subiu quatro vezes os preços dos produtos ao longo de 2022 e ainda tem algum espaço para continuar fazendo isso, uma vez que as vendas seguem crescendo. Outra alternativa mais limitada seria o downsizing de embalagens (redução do tamanho), o que já foi feito também nos últimos trimestres, portanto não há muito mais espaço para isso. A aposta principal da M. Dias Branco é no aumento do mix de produtos, adicionando ao portfólio mais opções de alimentos que não levam trigo — ou adicionando ingredientes extras em produtos à base de trigo, como chocolate, reduzindo assim a proporção do grão nas receitas.

Eles participaram do Por Dentro dos Resultados, projeto no qual o InfoMoney entrevista CEOs e diretores de importantes companhias de capital aberto, no Brasil ou no exterior. Os executivos falam sobre o balanço do quarto trimestre e ano fechado de 2022 e sobre perspectivas. Para acompanhar todas as entrevistas da série, se inscreva no canal do InfoMoney no YouTube.

“A gente trabalha com uma expectativa de melhora de resultado nominal e das margens porque o preço médio está estável neste momento e o custo já está caindo. Falando de trigo, que é a principal commodity, como nós temos um estoque de cerca de quatro meses e algumas posições de hedge, tanto a alta dos custos para a M. Dias quanto a redução são coisas que acontecem de forma gradual”, afirmou Cefaly.

Theodozio frisou que, apesar do aumento de custos no fim de 2022, a companhia apresentou um crescimento de 32% ano a ano do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), o que ele disse ser “bastante relevante”. “A companhia está muito certa de que está na trajetória correta e está crescendo ano após ano, tanto em receita como em Ebitda”, afirmou.

“A margem está pressionada, mas não é só por causa da guerra. Teve a pandemia também e as discussões em torno das eleições no Brasil, que geraram certa instabilidade política. Isso ajudou a pressionar o câmbio, o que também afeta os preços do trigo, já que as cotações no exterior são em dólar”, acrescentou o CFO do grupo.

Ele comentou ainda sobre a necessidade que o Brasil tem de importar trigo, uma vez que a produção nacional não dá conta de toda a demanda interna. A companhia compra o insumo principalmente da Argentina, mas também do Canadá e até da Rússia. Theodosio citou ainda que a produção brasileira de trigo aumentou em 2022 justamente por causa do cenário: “o fato de o preço da commodity ter subido acabou incentivando produtores a produzi-la”, disse.

Os executivos falaram ainda sobre a atuação da M. Dias Branco nas áreas de defesa (Norte e Nordeste, onde o share da companhia é de 60%) e de ataque (Centro-Oeste, Sudeste e Sul, onde o share chega aos 20%), sobre as operações do grupo no exterior, sobre a possibilidade de movimentos de M&A (fusões e aquisições), pagamento de dividendos e investimentos em marketing. Veja a entrevista completa no player acima, ou clique aqui.

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.