Por Igor Savenhago, G1 Ribeirão e Franca


O diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Cornacchioni — Foto: Divulgação/Abag

Investir em transporte e armazenagem, melhorar a política de crédito aos agricultores e estabelecer novos acordos internacionais são, nesta ordem, os principais desafios que o Brasil terá de enfrentar para que o agronegócio continue sendo um dos pilares da economia do país.

Essa é a opinião de Luiz Cornacchioni, diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), uma das entidades organizadoras da Agrishow, considerada a maior feira de tecnologia agrícola da América Latina e umas das três maiores do planeta. O evento começa na segunda-feira (30) e segue até o dia 4 de maio em Ribeirão Preto (SP).

Segundo ele, a feira, que está completando 25 anos, não deve ser apenas uma vitrine dos lançamentos em máquinas e implementos das principais marcas ligadas ao campo, mas um lugar de discussão de problemas estruturais que afetam a agropecuária.

“Se eu tiver oportunidade, vou falar de logística, de crédito, e que isso seja colocado como política de estado e não de governo. Se assuntos como esses continuarem como política de governo, vamos chegar à 30ª Agrishow falando a mesma coisa”.

Perdas

Transporte e armazenagem são a preocupação mais imediata por causa das perdas que geram. Dados da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a ESALQ, em Piracicaba (SP), apresentados num seminário internacional sobre o tema promovido em fevereiro, apontam que o Brasil tem uma perda, só com grãos, de mais de R$ 2 bilhões ao ano com logística mal planejada. A armazenagem é o principal vilão, respondendo por 67,2% desses prejuízos.

Esse fator, aliado à falta de um volume de recursos maior e mais barato, para que os produtores rurais consigam investir em tecnologia, e aos poucos acordos internacionais de comércio bilateral firmados nos últimos anos, pode fazer com que o país perca oportunidades no exterior.

“A curto prazo, acho que temos até oportunidades. Estamos exportando bastante. Mas, se olharmos isso como geopolítica, no médio e longo prazos, a postura do Brasil lá fora não é boa pra ninguém.”

Agricultores são vistos em uma plantação de soja em uma fazenda em São Desidério, na Bahia — Foto: Roberto Samora/Reuters

Os assuntos estruturais se arrastam há muitos anos no meio agrícola. Para o diretor executivo, o Brasil não deu a devida atenção a eles porque o foco esteve no aumento da produção e da produtividade. Como avançamos nesses quesitos, outras dificuldades tendem a surgir.

“Pode ser que elas não estivessem tão aparentes ou não atrapalhavam tanto como agora. Temos safras recordes, mas, quando pensamos que poderíamos ter rendimentos melhores, gastar menos e aumentar a competitividade, esses problemas ficam mais latentes.”

Cobrança

Os principais desafios para o desenvolvimento do campo vão integrar um documento que está sendo preparado pelas principais lideranças do agronegócio nacional e será entregue, a partir da metade do ano, aos candidatos à Presidência da República.

“O setor está trabalhando desde fevereiro nesse documento, com a participação de várias entidades, acadêmicos, gente que entende do agro. Quando os candidatos estiverem definidos, faremos um movimento para levá-lo até eles. E todos esses temas estarão em pauta.”

A agropecuária cresceu 11,5% em relação a 2016 puxada pela safra recorde de soja, milho, café, feijão e fumo — Foto: Agência Estadual de Notícias/Reprodução

No entanto, de acordo com Cornacchioni, os pré-candidatos que aparecerem na Agrishow já serão cobrados, para que instituam uma política de estado principalmente para a logística.

“É uma vergonha. Não consigo achar outra palavra para definir a logística brasileira. Isso em vários setores, não só no agro. Precisa ter uma política com começo, meio e fim. Ninguém vai investir em algo porque é simpático. Vai investir porque tem retorno no investimento. É assim que o mercado funciona.”

Pesquisa

O diretor da Abag alerta, porém, que não adianta estabelecer uma política para os três desafios que elege como principais se esquecer dos investimentos em pesquisa e inovação.

Um exemplo são as mudanças recentes na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), bastante criticadas por ele. Em janeiro, a estatal anunciou cortes em toda sua estrutura. As áreas administrativas caíram de 15 para 6 e as unidades de pesquisa e serviços, de 46 para 41. Os cargos de comissão tiveram redução de 48%.

A Embrapa também informou que estava sendo preparado um Plano de Desligamento Incentivado (PDI) para renovar 20% de seu quadro de funcionários concursados e reduzir a folha de pagamento. Uma crise que vem sendo classificada por especialistas como a maior dos últimos 45 anos.

“Se o Brasil chegou até aqui, deve muito à Embrapa. Então, ela precisa, logicamente, de uma dotação orçamentária para que consiga continuar programas de pesquisa. Não tem cabimento uma das principais instituições de desenvolvimento de tecnologia desse país passar essa ‘perrenga’ que está passando. Não pode ser assim.”

Agrishow apresenta novidades no setor agrícola e é palco de debates para melhorias no agronegócio — Foto: Divulgação/Sítio Nelson Guerreiro

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