• Daniela Frabasile, de Austin
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Joseph Lubin durante o SXSW 2019 (Foto: Matt Winkelmeyer/Getty Images for SXSW)

Joseph Lubin durante o SXSW 2019 (Foto: Matt Winkelmeyer/Getty Images for SXSW)

Quem comprou um bitcoin no fim de 2017 definitivamente não está muito feliz com o mercado das criptomoedas. Ao longo de 2018, o preço da criptomoeda passou de US$ 15 mil, em janeiro, para US$ 3,8 mil em dezembro. Mas ainda há otimistas nesse mercado – mesmo que estejam menos ricos que um ano atrás. Em painéis diferentes nesta quinta-feira (14/03), durante o SXSW 2019, Joseph Lubin, cofundador da Ethereum Project, e David Schwartz, CTO da Ripple, defenderam que o desenvolvimento de novas aplicações em blockchain (o sistema por trás das criptomoedas) vai muito bem, obrigado.

“Desde que foi criado, em 2009, o bitcoin passa por grandes ciclos de valorização, seguidos por importantes correções. A última nos levou a voltar um ano”, diz Lubin. Picos anteriores, como o visto em 2013, parecem leves flutuações nos gráficos de hoje. “Quem estava prestando atenção só no preço está menos ativo no mercado, mas ainda há muita ação entre quem está criando soluções em blockchain”, afirma Lubin. A rede Ethereum foi desenhada de forma a conseguir abarcar smart contracts (contratos inteligentes), tokens e outras criptomoedas, permitindo a criação de mais aplicações ao blockchain.

Schwartz confessa que nem ele entende sempre o movimento dos preços das criptomoedas, algo frustrante para quem trabalha diretamente com o tema. “Penso que o preço não é exatamente a métrica para o sucesso, mas as pessoas parecem achar que sim”. Mais do que concorrer uma com as outras, as criptomoedas "lutam por um espaço" na economia global, diz ele. Há uma correlação forte entre os preços dos principais criptoativos como bitcoin, ethereum, litecoin, EOS, Stellar e outros. "É como se o mercado estivesse apostando nas criptomoedas em geral, e espalham essa aposta porque ninguém sabe qual vai virar a Apple ou o Google", afirma.

Para David Schwartz, do Ripple, o blockchain não entregou a revolução que prometia - ainda. “Estamos tão no início que não conseguimos sequer entender quais as possibilidades que o blockchain trará”, afirma. Quando o e-mail foi criado, diz, imaginava-se que ele poderia substituir o correio. Em 2019, a maior parte dos e-mails enviados nunca teria sido enviada por correio. “A tecnologia criou algo inteiramente novo, que sequer poderíamos imaginar em 1990”. O Ripple criou uma plataforma que conecta instituições financeiras para realizar transferências internacionais. Nos mercados domésticos, diz Schwartz, a maioria dos países já têm essa questão "resolvida". Ele reconhece, contudo, que entre as iniciativas que surgem hoje com base no banco de dados descentralizado poucas são realmente úteis.

Lubin busca facilitar o desenvolvimento de novas aplicações. Sua iniciativa, a ConsenSys, permite a desenvolvedores criarem ecossistemas usando a infraestrutura do Ethereum. Um dos exemplos citados por ele é o Civil, uma plataforma de jornalismo que permite o financiamento coletivo de reportagens e registra os textos no blockchain. Lançada neste ano, porém, a iniciativa não atraiu tanto capital como esperado.

Lubin acredita que o blockchain permitirá construir modelos de negócios e processos mais eficientes. “Começamos a trabalhar com empresas três anos e meio atrás e tínhamos que explicar tudo do zero. Agora várias companhias têm projetos avançados”, diz.

O desafio agora é “trazer o resto do mundo” para o blockchain, diz Lubin. “Se não conseguirmos isso, tudo fracassa”. Para isso, ele está envolvido no desenvolvimento do “Ethereum 2.0”, que promete multiplicar a capacidade de processamento do sistema.

Schwartz concorda que a tecnologia ainda não está pronta para a adoção em massa. No ano passado, o sucesso do jogo CryptoKitties já foi suficiente para congestionar a rede Ethereum. Por isso a dificuldade de prever o que o blockchain poderá permitir no futuro. “Sequer podíamos pensar que queríamos YouTube, Netflix e Spotify antes de ter a banda larga suficiente para isso”, diz.

Para solucionar a questão, David Schwartz volta a falar do preço do bitcoin. “Quero ver pessoas inteligentes trabalhando com blockchain, quero que seja a coisa legal em que os melhores estudantes queiram trabalhar, e o preço em baixa não facilita isso”. Entre os desafios que precisam ser resolvidos, ele cita a computação quântica, que pode quebrar os sistemas criptográficos que garantem hoje a segurança do blockchain.

Sobre a concorrência entre diversas moedas e plataformas, os dois defendem que o importante nesse momento é criar um ecossistema sustentável. “O Twitter não teria o sucesso que tem se fosse a única aplicação da internet”, diz Schwartz. “A internet era formada por poucos entusiastas enquanto ainda não tinha muitas plataformas, e começou a alcançar as massas quando começou a ter informações e aplicações relevantes, quando a American Airlines começou a ter um site”, afirma.