São Paulo, 28 – A restrição cambial adotada na Argentina após a eleição de Alberto Fernández como novo presidente do país, no domingo, não deve afetar o abastecimento de trigo para os moinhos brasileiros, segundo o superintende executivo da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Eduardo Assêncio. “A Argentina tem uma oferta expressiva de trigo. Se haver uma retração pelos exportadores, entendo que seria meramente um posicionamento de defesa para verificar o que vai acontecer com o cenário econômico local”, observa. O governo local decidiu limitar, até dezembro, as compras de dólares a US$ 200 por conta bancária e US$ 100 em espécie.

O executivo da Abitrigo também não acredita que eventual mudança na política de retenciones (tarifas de exportação) possa inibir o comércio. Ele lembra que o país vizinho deve colher cerca de 20 de milhões de toneladas do cereal nesta safra – o consumo local é de cerca de 6,5 milhões de toneladas. “O que podemos ter é uma instabilidade de preços, porque, quando se tem influência política e o mercado perde a regulação normal, a imprevisibilidade dos preços é natural”, disse Assêncio. Mas ele alerta que uma alteração nas taxas cobradas influenciará no plantio da safra argentina em 2020. “É uma medida que afeta a rentabilidade do produtor local e a sua capacidade econômica”, argumenta.

Assêncio ressalta que moinhos brasileiros, mesmo muito dependentes da Argentina, que fornece cerca de 90% do trigo importado (50% da moagem nacional), contam com outras fontes de suprimento. “Não faltará trigo para o pãozinho”, afirma. Mas buscar trigo de outras origens fora do Mercosul (pagando tarifa Externa Comum de 10%) tem um custo. Nesse caso, o reflexo poderia ser observado nos preços de farinha, pães, massas e biscoitos. “Este não é um cenário que consideramos no momento”, pondera.