Ações de varejistas subiram demais? Analistas veem que o rali pode ir ainda mais longe

Contudo, mesmo tendo uma visão positiva geral para o setor, os analistas avaliam que é preciso analisar com cuidado em qual ação investir

Ricardo Bomfim

SÃO PAULO – O Ibovespa avança mais de 1% no ano, mas um setor tem chamado mais a atenção dos investidores. Trata-se do varejista, liderado pela Via Varejo (VVAR3), que vê seus ativos subirem 34% no acumulado de janeiro até o dia 22 após ter registrado uma das maiores altas (de 154%) em 2019. Ações como B2W (BTOW3) e Magazine Luiza (MGLU3) também registram expressiva alta, com ganhos respectivos de 20% e 17%.

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Com ganhos menos expressivos, mas ainda em alta bem superior ao Ibovespa, estão os ativos da Lojas Americanas (LAME4), com avanço de 10%, e de Renner (LREN3), com valorização de 6,5%. Em meio a esse cenário, novamente a pergunta vem à tona: os papéis das varejistas subiram demais? Ou ainda há espaço para mais altas?

Segundo o analista Pedro Fagundes, da XP Investimentos, o prêmio de risco do setor de varejo não só continua atrativo como está até acima dos últimos 12 meses.

A princípio, a alta nos preços das ações resultou em um aumento no múltiplo preço por ação dividido pelo lucro por ação (conhecido como P/L), que saiu de 24 vezes há dois meses para 27,5 vezes hoje, o que significaria um valuation mais esticado. Isso significaria uma atratividade menor para os papéis das varejistas cobertas pela casa de análise. Enquanto isso, as estimativas de lucro das empresas para os próximos 12 meses aumentaram por volta de 2% nos últimos dois meses, mostrando que não houve tantas mudanças nas expectativas para as companhias.

Contudo, o analista da XP avalia que a atratividade para o setor aumentou dada a recente redução nas taxas de juros e no risco-país, levando a uma queda relevante do custo de oportunidade e do risco dos investimentos no Brasil de maneira geral, avalia Fagundes. Assim, a análise é de que, apesar da alta expressiva dos preços das ações do setor de varejo, o prêmio de risco na realidade hoje é mais alto do que aquele observado 12 meses atrás.

Neste contexto, entre as varejistas, a XP acredita que as ações com maior potencial de valorização são aquelas com forte perspectiva de crescimento como Via Varejo ou de maior visibilidade de resultado, tais quais Vivara (VIVA3) e Lojas Renner.

No caso da Via Varejo, mesmo após a alta de 154% em 2019, Fagundes entende que o processo de reestruturação já melhorou as condições da empresa, mesmo estando apenas no começo. “Houve uma recuperação significativa do ritmo de crescimento de vendas totais no canal online”, lembra, destacando que a expectativa da XP é de um crescimento de 19% na comparação anual ao longo do quarto trimestre do ano passado.

“Continuamos confiantes na capacidade da nova administração continuar acelerando o ritmo de crescimento por meio de iniciativas importantes, como reformas de lojas, integração omnichannel e redução de despesas relacionadas a provisões trabalhistas”, defende. O preço-alvo da XP para Via Varejo é de R$ 17,00 por ação ao final de 2020, o que corresponde a uma valorização de 13% sobre a cotação atual dos papéis.

As ações de Pão de Açúcar e C&A, apesar de estarem com múltiplos P/L descontados de 17,7 vezes e 20,7 vezes respectivamente, devem ter resultados mais fracos na opinião de Pedro Fagundes, e portanto, o investidor deve ter mais cautela com elas.

A recomendação da XP é neutra para B2W, Carrefour Brasil (CRFB3), Lojas Americanas (LAME4) e Magazine Luiza.

Otimistas, mas com cautela…

O analista Richard Cathcart, do Bradesco BBI, avaliou em relatório recente que o rali das varejistas em 2019 deve continuar em 2020, mas expectativas mais otimistas merecem cautela. “Esperamos que as vendas em mesmas lojas cresçam de uma média de 5% em 2019 para 7% em 2020, o que deve levar a uma expansão de margem, uma vez que inflação parece bem ancorada”, comenta.

No ano passado, o avanço do setor se deu por conta das taxas de juros nas mínimas históricas e na queda do risco-Brasil para sua mínima em sete anos. Para este ano, a retomada da economia brasileira e a tendência positiva dos lucros das empresas deve manter altos os múltiplos do varejo. Todavia, com os múltiplos das ações esticados, seria prudente na avaliação do analista escolher bem quais papéis comprar no setor.

“A maior oportunidade estrutural para crescimento dentro da nossa cobertura é o e-commerce e nós continuamos otimistas com o tema”, aponta Cathcart.

O Bradesco elevou a recomendação de B2W para outperform (desempenho acima da média do mercado) e manteve Magazine Luiza, Lojas Renner, Arezzo (ARZZ3), CVC (CVCB3), C&A (CEAB3) e Grupo Pão de Açúcar (PCAR4) com recomendação outperform.

No caso da B2W, o Bradesco elevou a projeção do crescimento de volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) de uma taxa de crescimento composta anual (CAGR, na sigla em inglês) de cinco anos de 15% para 23% apoiada por uma visão mais positiva acerca da logística da empresa.

Já Renner se beneficia do perfil mais defensivo das suas ações em relação a outras empresas do setor. A Arezzo, por sua vez, teria como trunfo o histórico de definição de tendências e adaptação.

Para CVC, C&A e Pão de Açúcar, os múltiplos de 19 vezes, 22 vezes e 16 vezes poderiam se movimentar com a tendência de aumento nos lucros do setor como um todo. “Para CVC, esperamos sinais de inflexão no primeiro trimestre de 2019 e, para Pão de Açúcar, esperamos impacto positivo das conversões e renovações de lojas recentes também no mesmo período”, aponta.

As ações da Marisa (AMAR3), neste mesmo cenário, tiveram recomendação elevada para outperform, devido ao alto nível das vendas em mesmas lojas, depois de períodos bastante complicados após uma queda no volume dos últimos seis anos.

No início de janeiro, o Morgan Stanley iniciou cobertura para varejistas, também destacando que a mudança digital está acelerando na América Latina e pode gerar boas oportunidades. A recomendação é overweight (exposição acima da média) para Magalu, Renner, C&A e Mercado Livre (MELI, negociada na Nasdaq), destacando que a visão positiva sobre liderança e multicanalidade reforça que há oportunidades ainda não precificadas nos papéis.

No caso de MGLU3 e MELI, a visão é para ganhos no longo prazo, enquanto para Renner a oportunidade com ganhos vem de margem e aumento do retorno sobre o patrimônio líquido (ROE). Já a C&A é vista como uma empresa com crescimento a um preço razoável (GARP).

A recomendação para as ações da Cia. Hering (HGTX3), o “patinho feio” das varejistas com queda de 20%, por sua vez, é underweight (exposição abaixo da média do mercado) – nesta semana, a companhia divulgou dados prévios para o quarto trimestre de 2019 bem fracos, aumenta a desconfiança dos investidores com a história de recuperação da companhia.

Confira abaixo as recomendações de analistas para as ações de varejistas, segundo compilação da Bloomberg:

Empresa Ticker Recomendação de compra Recomendação de venda Recomendação neutra
Arezzo ARZZ3 11 0 3
B2W BTOW3 6 1 11
C&A CEAB3 6 0 1
Carrefour CRFB3 4 0 11
Hering HGTX3 3 5 8
Lojas Americanas LAME4 11 0 8
Lojas Renner LREN3 16 0 4
Magazine Luiza MGLU3 9 1 5
Marisa AMAR3 4 2 1
Pão de Açúcar PCAR4 13 0 3
Via Varejo VVAR3 9 2 6
Vivara VIVA3 5 0 0

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.