Ibovespa cai 1% em meio a Copom e descompasso entre crescimento americano e de emergentes

Mercado apaga ganhos apesar do movimento das bolsas internacionais na esteira de reduções de tarifas da China

Ricardo Bomfim

Painel de ações e gráfico (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa vira para queda forte nesta quinta-feira (6) ao mesmo tempo em que o dólar sobe contra o real seguindo a tendência global. O Dollar Index vai às máximas. Segundo José Faria Jr., diretor da Wagner Investimentos, o índice global da moeda se fortalece porque a economia americana tem se mostrado muito mais forte do que as de países emergentes.

Ontem, o ISM de serviços nos EUA mostrou um crescimento maior do que o esperado em janeiro, subindo de 55 pontos para 55,50 pontos. A expectativa mediana dos economistas era de um avanço para 55,20 pontos. Já o relatório ADP revelou a criação de 291 mil vagas de trabalho no mês passado, contra 154 mil esperados.

“Os dados americanos estão mais fortes, e isso fortalece o dólar. Amanhã o mercado deve ter atenção redobrada ao Relatório de Emprego”, avalia. Faria Jr. entende que a Balança Comercial brasileira já está prejudicada pelo acordo comercial EUA-China, que obrigou os chineses a comprar soja e petróleo dos americanos, e agora o País ainda terá que enfrentar uma redução no crescimento chinês como reflexo do surto de coronavírus.

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“O dólar pode até voltar para os R$ 4,00, mas com o cenário internacional que temos hoje o mais provável é que a moeda se estabilize em patamares mais elevados.”

Já com relação à Bolsa, o analista Gabriel Fonseca, da XP Investimentos, destaca que o comunicado mais cauteloso do Comitê de Política Monetária (Copom) ontem gerou um certo desconforto. “O mercado precificava queda de juros e não é mais possível sustentar essa posição”, explica.

Para Fonseca, os bons dados nos EUA indicam uma pausa nos cortes de juros por lá, o que vaza como risco para bolsas de países emergentes, já que investir em ativos dos EUA é mais seguro. No entanto, o analista ressalta que isso não muda a sua visão estrutural para o Ibovespa, que é positiva em Bolsa no longo prazo.

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Às 17h07 (horário de Brasília) o Ibovespa tinha queda de 0,98% a 114.894 pontos. Enquanto isso, o dólar comercial vira para alta de 0,73% a R$ 4,2694 na compra e a R$ 4,2701 na venda. O dólar futuro para março avança 0,81% a R$ 4,275.

Mais cedo, o câmbio refletia a decisão tomada ontem pelo Comitê, que reduziu a Selic para novo piso histórico de 4,25%, surpreendendo com comunicado hawkish que anuncia interrupção dos cortes, citando efeitos defasados e peso crescente da meta de 2021.

Com isso, são desmontadas as apostas que ganharam força nas últimas semanas de que o Banco Central estendesse o ciclo de reduções nos juros. Assim, o diferencial de juros entre Brasil e EUA não cai tanto como muitos esperavam, o que é bom para as operações de carry trade.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 tem alta de nove pontos-base a 5,01%, o DI para janeiro de 2023 avança 10 pontos-base a 5,54% e o DI para janeiro de 2025 ganha seis pontos, a 6,13%.

No comunicado da véspera, o Copom indicou o fim do ciclo de redução de juros, afirmando que “vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”.

Mario Mesquita, do Itaú, destacou que o BC deve manter taxa inalterada em 4,25% até fim do ano; Copom utilizou “interromper” ao invés de “finalizar”, o que indica que pode, eventualmente, em circunstâncias apropriadas, revisitar a questão.

Já a Fitch afirmou que enxerga as taxas de juros brasileiras em um patamar mais baixo pelo resto do ano. Segundo os executivos da agência de classificação de risco, a economia real brasileira ainda não está indo bem.

Lá fora, as bolsas sobem depois da China cortar de 10% para 5% as tarifas de importação sobre alguns produtos americanos e de 5% para 2,5% para outros. A redução nas taxas, que foram impostas em setembro de 2019 no âmbito da guerra comercial, beneficia um total de US$ 75 bilhões em produtos dos Estados Unidos. Em contrapartida, no dia 14, os EUA vão cortar de 15% para 7,5% as tarifas sobre US$ 150 bilhões em produtos chineses.

A notícia de redução de tarifas animou os mercados ao se somar à esperança de contenção do coronavírus após informações de possíveis desenvolvimentos de vacina do coronavírus. A doença já infectou 28 mil pessoas e matou 560.

Apesar do avanço no número de casos gerar temores, especialistas dizem que é algo natural, visto que há mais de 50 mil casos suspeitos de coronavírus na China e, mesmo que não haja mais nenhuma transmissão, as estatísticas de infectados devem aumentar conforme saem os resultados de exames sobre todas as pessoas com suspeita de estarem com o vírus.

No radar corporativo, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informou que embolsou R$ 22 bilhões com a venda das ações da Petrobras, maior valor em uma transação no mercado de capitais do país em uma década.

Noticiário corporativo 

A Localiza Hertz (RENT3), maior locadora de carros do Brasil, fará uma emissão de debêntures no valor de R$ 1 bilhão, com vencimento para 2025. A empresa decidiu realizar a emissão após reunião do Conselho na sede, em Belo Horizonte (MG). Já a Sanepar, Companhia de Saneamento do Paraná, também planeja realizar uma emissão de debêntures em breve, no valor de R$ 350 milhões. Os papéis terão vencimentos em 2027 e 2029.

O BNDES arrecadará R$ 22 bilhões com a venda das ações da Petrobras (PETR3; PETR4), informou a Folha de S. Paulo. Em oferta concluída ontem, os investidores se comprometeram a pagar R$ 30 por ação. É a maior operação de venda de ações ocorrida no Brasil em uma década, em termos nominais. O maior valor foi registrado em 2010, quando a Petrobras levantou R$ 120,3 bilhões no mercado de capitais.

A Cia. Hering (HGTX3) anunciou novo programa de recompra de até 1,49 milhão de ações, o que corresponde a 1,17% do total de papéis ordinários em circulação. Segundo a varejista, a recompra é para permanência em tesouraria e posterior alienação ou cancelamento, bem como para utilização em planos de opção de compra de ações ou outras formas de remuneração baseada em ações.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.