GPA vs. Carrefour: com rumos diferentes, concorrentes enfrentam desafios do setor

Enquanto o GPA opta por colocar ativos no mercado, rede francesa aposta em hiper para conhecer melhor o cliente

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Na última quinta-feira (20), após divulgar resultados trimestrais que desagradaram o mercado e enquanto via sua ação cair 7% no pregão, o GPA (PCAR4) não escondeu que passa por um momento desafiador, divulgou planos de converter mais dez hipermercados Extra para a bandeira Assaí Atacadista e mencionou planos de venda de ativos, que podem incluir as drogarias e o Éxito. As bandeiras de aproximação, como Minuto Pão de Açúcar, devem receber mais atenção e acordos com fornecedores serão revistos.

Vinte e quatro horas depois, o Carrefour (CRFB3) passou um recado diferente ao enfatizar a importância da operação de hipermercados e seu ecossistema aos clientes – e não descartou a possibilidade de comprar unidades do Extra (do GPA) que sejam colocadas à venda, caso haja possibilidade. Para a empresa, investir nessa categoria significa conhecer melhor o cliente e ganhar mais espaço com o Banco Carrefour, que está prestes a ganhar uma carteira digital que deve ajudar a obter dados de compradores desbancarizados.

Na estratégia das duas redes supermercadistas, o ponto em comum, e que, na avaliação de especialistas é acertado, é o foco cada vez maior no segmento de “atacarejo” ou cash & carry: com as bandeira Assaí e Atacadão, GPA e Carrefour, respectivamente, deixaram bem claro ao mercado que abrir mais lojas no segmento que atende B2B e B2C com preços mais baixos será prioridade em 2020, seguindo uma tendência de fortalecimento que já dura vários trimestres.

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Em teleconferência com jornalistas, o presidente do Atacadão, José Roberto Meister Müssnich disse que deve gastar, em média, R$ 10 milhões para converter cada loja comprada da Makro em Atacadão – totalizando cerca de R$ 300 milhões. Já o GPA tem expectativa de fechar o ano com dez novos endereços do Assaí – resultado da conversão de lojas que hoje são hipermercados, além de 60 inaugurações orgânicas em três anos.

Aparentemente, os dados dos franceses agradaram mais: as ações do Carrefour são negociadas com preço praticamente estável nesta sexta – não sofreram o baque que a concorrência sofreu no pregão seguinte ao seu balanço.

Mas as expectativas para o futuro não refletem, necessariamente, os movimentos dos papéis pós-balanço. PCAR4 tem 14 recomendações de compra (82,4%), três de manutenção (17,6%) e nenhuma de venda, de acordo com o levantamento da Bloomberg com casas de análise. Já CRFB3 está com quatro recomendações de compra (25%), 12 de manutenção (75%) e também nenhuma de venda.

Prato cheio para o GPA

Para o Morgan Stanley, o GPA tem um “prato cheio” para 2020, mesmo após a queda de 31% no lucro no acumulado de 2019. “Após um ano desafiador, afetado por taxas ainda altas de desemprego, a retórica da empresa para 2020 foi mais otimista”, escreveram os analistas do banco, elogiando a intenção de manter o processo acelerado de expansão do Assaí e os planos para o multivarejo, segmento que reúne a operação do Pão de Açúcar, do Extra e das bandeiras de proximidade, com o Minuto Pão de Açúcar.

Os analistas da XP Research veem o Multivarejo, que sofreu perda de 2,6 pontos base na margem Ebitda, como um ponto a se monitorar ao longo do ano. Mantendo recomendação de compra para a ação, eles ressaltam que a recuperação desta vertical “deve ser gradual e, portanto, os resultados podem continuar pressionados no curto prazo”.

A recente entrada do GPA no Novo Mercado, segmento de mais alto padrão de governança da B3, também pode melhorar a visão do mercado sobre a empresa, de acordo com analistas.

Surpresa positiva no Carrefour

Para o Itaú BBA, o desempenho do Atacadão (alta de 10 pontos base na margem Ebitda) foi uma “surpresa positiva” no resultado do grupo francês no Brasil, mas o varejo trouxe lucro 20 pontos-base abaixo da expectativa dos analistas do banco. O lucro caiu 39,1% em relação a 2018.

“Continuamos observando uma perspectiva mais difícil para o cash&carry [atacarejo] em 2020”, escreveu o analista Thiago Macruz. “Por isso, nossa perspectiva implica números mais conservadores para a divisão”. Ainda assim, o BBA mantém recomendação de compra para a ação.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney