Economia

Sonae reforça na NOS (com ajuda do BPI) depois de pôr termo à parceria com Isabel dos Santos

Miguel Almeida, presidente da Comissão Executiva da NOS
Miguel Almeida, presidente da Comissão Executiva da NOS
José Carlos Carvalho

Meses após estalar o Luanda Leaks, a Sonae e Isabel dos Santos acordaram o fim da empresa que controla a NOS. Na mesma data, o grupo da família Azevedo assegurou mais de um terço dos direitos de voto

Sonae reforça na NOS (com ajuda do BPI) depois de pôr termo à parceria com Isabel dos Santos

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Sonae reforça na NOS (com ajuda do BPI) depois de pôr termo à parceria com Isabel dos Santos

Pedro Lima

Editor-adjunto de Economia

O BPI andou a reforçar a participação na NOS nos últimos meses, o que permitiu à Sonae assegurar pelo menos um terço dos direitos de voto na operadora, agora que está a romper a parceria com Isabel dos Santos na empresa Zopt.

Segundo o comunicado à CMVM, a Sonae acordou a compra de uma posição de 7,38% da operadora de telecomunicações que estava nas mãos do banco detido pelo CaixaBank. Não há preço para a aquisição, mas é claro que esta participação do BPI representa um reforço expressivo ao longo deste ano, período em que a NOS, que é liderada por Miguel Almeida, foi abalada pelo Luanda Leaks (três membros de órgãos sociais tiveram de sair da empresa após o escândalo em torno da empresária angolana ter rebentado).

A posição de 7,38% da NOS é superior à última que tinha sido comunicada pelo BPI. A 1 de julho, o banco liderado por João Oliveira e Costa tinha 5,01% do capital da NOS. Em mês e meio, portanto, acrescentou mais de dois pontos percentuais de posição na empresa.

Mas este não foi o único reforço este ano. A 14 de maio, o BPI tinha alcançado a barreira de 2,02% da NOS. É só quando se ultrapassa determinadas percentagens de capital (como 2% e 5%) que as entidades têm de comunicar à CMVM.

Ou seja, este ano, o BPI reforçou por completo a sua ligação à NOS. Nos comunicados que enviou a dar conta dessas posições, a entidade controlada pelo CaixaBank diz que a aquisição foi “efetuada com a finalidade de cobrir o risco económico inerente a contratos de equity swap com liquidação financeira”. Nessa operação, paga e recebe montantes consoante a valorização ou desvalorização das ações. Não se sabe quem seriam as contrapartes nestas transações.

O que é certo é que é com a participação de 7,38% que estava nas mãos do BPI que a Sonae consegue assegurar pelo menos um terço dos direitos de voto da NOS agora que rompeu a parceria que tinha com Isabel dos Santos. O BPI tem 5% da Sonae.

BPI já tinha estado na NOS e foi parceiro de Isabel dos Santos

Este reforço do BPI é uma inversão face à postura do banco desde que passou para o controlo do catalão CaixaBank, em 2017. Vendeu a participação na Super Bock, vendeu a posição na Ibersol (que tem direitos sobre a marca Burger King e Telepizza em Portugal) e não só: também saíra do capital da NOS.

Em 2018, o banco privado deixou de ter uma participação relevante (desceu abaixo da fasquia de 2%) no capital da NOS, onde estava presente através do seu fundo de pensões.

Se a compra ao BPI ajuda a Sonae a assegurar um terço dos direitos de voto da NOS, é verdade que o banco foi um parceiro de Isabel dos Santos.

A empresária era uma das maiores acionistas do BPI (vendeu a posição na OPA do CaixaBank, depois até de alterações legislativas promovidas pelo Governo de António Costa e de uma guerra com os catalães), sendo que a Unitel, que presidiu (e da qual saiu recentemente), é a principal acionista do Banco de Fomento Angola (BFA), e que o BPI é o outro acionista.

A Sonae e Isabel dos Santos tiveram uma parceria nos supermercados angolanos, a Candando, que não correu bem. Aliás, logo ali a relação entre ambos esfriou - ao ponto de se começar a especular que não seria um 'casamento' para toda a vida.

Divórcio meses após Luanda Leaks

Este anúncio surgiu logo após a divulgação pela Sonaecom, esta quarta-feira ao final da tarde, de que o acordo com Isabel dos Santos em torno da NOS foi desfeito. Esse acordo limitava a alteração das posições acionistas quer da Sonae quer de Isabel dos Santos. Agora que está desfeito, cada qual é livre de seguir o seu caminho - e Isabel dos Santos pode tentar vender a sua participação.

A Sonaecom, que é controlada pela Sonae SGPS, comunicou que chegou a acordo com a investidora angolana de forma a promover as diligências necessárias à dissolução da ZOPT, empresa que detém uma participação de 52,15% da operadora de telecomunicações NOS. A empresa da Sonae tem 50% da ZOPT e Isabel dos Santos os outros 50%.

Os acionistas da ZOPT “acordaram promover as diligências necessárias à dissolução da ZOPT, de modo a que os respetivos ativos, incluindo a participação na NOS, sejam repartidos proporcionalmente pelos acionistas da dita ZOPT”, refere a Sonaecom em comunicado.

Como consequência, “a NOS deixará de estar sob o controlo conjunto da Sonaecom e da engenheira Isabel dos Santos (enquanto acionista de controlo da Unitel International Holdings, BV e da Kento Holding Limited)”, refere ainda o comunicado. Nele pode ainda ler-se que “a Sonaecom informa ainda ser sua intenção manter-se como acionista de referência da NOS, SGPS, SA e continuar a assegurar um quadro de estabilidade acionista favorável ao desenvolvimento do seu importante projeto empresarial no sector das telecomunicações”.

Quando estiver consumada a rutura com Isabel dos Santos, a estrutura acionista da NOS passará a ser composta pelo grupo Sonae com 33,45%, Isabel dos Santos com 26,075%, MFS Investment Management com 2,14% e Norges Bank com 2,11%.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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