Economia

Governo de Sánchez vê com bons olhos maior negócio da banca espanhola dos últimos anos (que envolve o dono do BPI)

Governo de Sánchez vê com bons olhos maior negócio da banca espanhola dos últimos anos (que envolve o dono do BPI)
YVES HERMAN / REUTERS

Está em preparação um grande banco em Espanha, graças à análise de uma fusão entre CaixaBank e Bankia. Fitch acredita que vêm aí mais operações desse género no país, que tem forte presença no sector bancário português

Governo de Sánchez vê com bons olhos maior negócio da banca espanhola dos últimos anos (que envolve o dono do BPI)

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Há um novo grande banco a formar-se em Espanha e essa mudança tem ramificações em Portugal. Ainda não há certezas, mas o CaixaBank, que detém o português BPI, está a estudar uma fusão com o Bankia, um banco resgatado pelo Governo espanhol no início da década. O Governo espanhol, embora sem se querer comprometer, vê vantagens na operação. Já há agências de rating a assumir que a junção de bancos no país vizinho pode não ficar por aqui. E uma coisa é certa: o Banco Central Europeu (BCE) tem tentado promover a consolidação bancária. E Espanha tem peso na banca portuguesa.

“É uma operação que tem aspetos muito positivos”. A afirmação é do líder do Executivo espanhol, Pedro Sánchez, e foi proferida numa entrevista à TVE esta segunda-feira, 7 de setembro. A coesão territorial, segundo o responsável do Governo, sairá beneficiada da operação, caso esta se concretize: “A fusão implicaria um banco com uma presença muito importante na Catalunha, em Madrid, na Comunidade Valenciana e Ilhas Baleares. Uma operação com muitas perspetivas”, continuou. A agência de rating DBRS fez um estudo em que conclui que 85% das agências do Bankia estão em locais onde se encontra o CaixaBank – o que dá espaço para cortes e poupanças, necessários numa altura em que se antecipam perdas por conta dos efeitos da pandemia de covid-19.

Na mesma entrevista, Sánchez lembrou que o Bankia, o quarto maior banco do país e do qual Estado é acionista desde o resgate, terá uma “presença importante em sectores vitais”, já que o CaixaBank, o terceiro maior, tem “importantes investimentos em sectores industriais muito importantes para o país”. O banco resultante tornar-se-á no maior banco espanhol (à frente de Santander e BBVA).

Foi na semana passada que os bancos anunciaram as “negociações” para “analisar uma fusão”. Até ao momento, não há qualquer acordo final, apenas um acordo para a troca de informações (e para a contratação de assessores financeiros).

A entidade resultante terá ativos totais de 665 mil milhões de euros, sendo que o CaixaBank (cujo principal acionista é o CriteriaCaixa, da fundação La Caixa) conta para dois terços e o Bankia para um deles, segundo a Fitch. A sua presença será fortemente doméstica, e não tanto internacional, como o BBVA e o Santander.

De qualquer modo, a operação tem implicações em Portugal: o CaixaBank é dono de 100% do BPI. Assim, o Estado espanhol pode ficar com 15% do banco espanhol resultante da operação, segundo os analistas citados pela RTVE.

Mais fusões?

A Fitch, uma das maiores agências de rating do mundo, acredita que esta potencial fusão é apenas o ponto de partida. Diz que esta operação “pode desencadear uma nova onda de consolidação no sector bancária espanhol, já que pode motivar movimentações de outros bancos para ganharem escala e fortalecerem as redes e os modelos de negócio para continuarem competitivos”.

A Fitch reforça que a crise económica provocada pela pandemia de covid-19 enfraquece a rentabilidade dos bancos, que podem olhar para a consolidação como uma solução. Além disso, o BCE já mostrou vontade em fusões – aliás, colocou até em consulta pública regras que facilitam este tipo de operações.

O sector bancário espanhol tem forte presença em Portugal. O Santander é dono de um dos maiores bancos a operar em Portugal, sendo que o Abanca e o Bankinter (e o BBVA, numa escala mais pequena) também têm presenças relevantes.

A agência concorrente canadiana DBRS também acredita que “o sector bancário espanhol tem espaço para maior consolidação sem afetar a concorrência”.

Governo tenta "salvar" banco resgatado

O Bankia é um banco resgatado pelo estado espanhol, herdeiro das antigas caixas de poupança espanholas (sobretudo a Caja Madrid). O resgate, há uma década, custou mais de 20 mil milhões de euros aos cofres públicos espanhóis, e até ao momento só foram recuperados cerca de 3 mil milhões. Pedro Sánchez assumiu na entrevista que o Estado está “longe” da recuperação de todo o montante.

Para o Governo, disse o líder do Governo espanhol, o importante é “defender o interesse público, maximizar a participação pública e dar estabilidade e certezas” a um sector que se vai ter de reestruturar, como Sánchez assumiu.

A decisão definitiva caberá ao FROB, o fundo de resgate bancário do Estado espanhol, que é o acionista direto do Bankia (com 62%), que também tem uma parcela do capital cotada em bolsa – aliás, os mercados reagiram positivamente à intenção de fusão.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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