Analistas dizem que dólar pode cair com vitória de Biden, mas ambiente fiscal brasileiro precisa colaborar

Apesar do partido Democrata historicamente gastar mais, se o Brasil estourar o teto de gastos não há como falar em apreciação do real

Ricardo Bomfim

(Crédito: Pixabay)

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SÃO PAULO – Com a proximidade das eleições nos Estados Unidos, analistas já buscam maneiras de se posicionar para capturar o movimento dos mercados a depender de quem vença. Naturalmente, a vantagem do candidato democrata Joe Biden leva investidores a estudarem mais sobre o que fazer caso ele seja eleito, muito embora o sistema eleitoral dos EUA torne o cenário pouco claro.

A equipe de análise do banco Morgan Stanley, por exemplo, acredita que o mercado financeiro global está subestimando a possibilidade dos democratas “varrerem” as eleições, isto é, conseguirem eleger Biden e obter maioria na Câmara de Representantes e no Senado.

“Com pouco tempo restando e a maioria dos votos já depositados, acreditamos que a oportunidade para uma mudança no rumo das eleições é limitada”, avaliam os analistas.

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“Embora o resultado ainda não seja certo, em um potencial cenário de vitória democrata completa a relação risco/retorno nos níveis de câmbio atuais parece atrativa para nós, particularmente ao considerarmos que as casas de apostas parecem subestimar essa vitória ante o que as pesquisas indicam.”

A vantagem de Biden sobre Trump nas pesquisas é de 8,5 pontos percentuais a 5 dias das eleições. Em 2016, a vantagem da candidata Hilary Clinton, sobre o republicano, já havia caído para 4 pontos percentuais neste período.

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O banco, então, sugere a compra de reais, pesos mexicanos e pesos colombianos contra o dólar, uma vez que um governo de unificação democrata no Executivo e no Legislativo poderia resultar na aprovação de vultosos estímulos econômicos. Afinal, é o partido de Biden que pede no Congresso um programa de US$ 2,2 trilhões contra os impactos do coronavírus.

Além disso, as moedas latino-americanas seriam mais sensíveis às notícias sobre o desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus. Vale lembrar que boa parte dos resultados da fase três das profilaxias em andamento saem depois do pleito presidencial americano em novembro.

Na mesma linha, James Gulbrandsen, fundador e gestor da NCH Capital, durante uma live com o Stock Pickers, disse que a principal questão para o mercado brasileiro será o câmbio.

“Se os democratas levarem Câmara, Senado e presidência, a tendência é de queda do dólar, porque vai haver muito gasto do governo e aumento de impostos”, afirma o gestor destacando que, historicamente, o partido de Biden tende a gastar mais.

E, por isso, a moeda americana deveria recuar nos meses seguintes à eleição, o que, para ele, é algo muito bom para o Brasil.

Falta combinar com o Brasil

Já Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora, não crê que o câmbio vá se desvalorizar muito caso Biden seja eleito, principalmente considerando a força da segunda onda da pandemia e lembrando que o democrata é bem mais favorável que Trump a medidas que restrinjam as atividades comerciais para conter o contágio da Covid-19.

“Ele pode dar mais estímulos, mas sem vacina é bem provável que ele tome medidas como lockdown, que enfraqueceriam ainda mais a economia americana e reduziriam o apetite por risco globalmente”.

Outro ponto de atenção é a margem de vitória caso Biden seja eleito. “Se houver uma contestação dos resultados, como o Trump já sinalizou que pedirá, o mercado deve ficar mais nervoso.”

Além disso, Iha comenta que o Brasil não é o melhor destino do mundo para investimentos em vista dos problemas político e fiscal que enfrentamos. “Com tanta chance do governo furar o teto de gastos não acho que o dólar vai cair tanto assim”, resume.

Para ele, se a Europa estivesse em uma condição econômica e de combate à pandemia melhor, seria mais fácil prever o cenário, mas com o impacto da segunda onda fica difícil imaginar o quanto os ativos de risco sofrerão.

Em um cenário de Trump reeleito, por outro lado, Iha acredita que o dólar deva se manter onde está. “Trump é polêmico e vai continuar brigando com a China não só na economia como também na política, principalmente em relação a Hong Kong, Taiwan e tecnologia 5G. A tensão geopolítica que o Trump provoca justifica uma busca pelo dólar por ser um ativo mais seguro”, destaca.

O operador da Fair Corretora projeta um dólar acima de R$ 5,50 no final deste ano, podendo se firmar em R$ 5,70. ”

Bruno Lavieri, economista da 4E Consultoria, ressalta que por mais que Trump seja mais radical e Biden mais moderado, o espaço para grandes impactos no câmbio é limitado.

“O cenário do Brasil é muito mais importante. Os Estados Unidos são um país com instituições fortes, então o espaço é limitado para grandes mudanças. Não é como no Brasil em que um governo pode mudar completamente o que foi construído pelo anterior”, defende.

Para Lavieri, ao contrário do que muitos dizem, uma vitória de Biden poderia até mesmo provocar uma tendência de aumento dos juros ao longo do tempo, já que o cenário geopolítico ficaria mais calmo. Se isso ocorresse, o dólar poderia até mesmo se apreciar porque os títulos americanos se tornariam mais rentáveis.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.