Economia

“Recebemos pressões de todos os lados. Ninguém gosta de trânsito na sua rua”, diz líder da Waze

A Waze tem por base a comunidade e a inteligência artificial
A Waze tem por base a comunidade e a inteligência artificial

Noam Bardin, diretor executivo da Waze, diz que chegou a hora de a plataforma de navegação começar a ser usada antes de os condutores entrarem no carro

Por duas vezes, Noam Bardin, líder da Waze, teve de explicar que o Waze é um serviço diferente do Google Maps, apesar de ter sido comprado pela Google. “Waze é um serviço especializado no trânsito”, esclareceu em duas aparições na Web Summit, depois de lembrar que o Google Maps também tem informação turística ou sobre restaurantes. Feito o esclarecimento, seguiu-se a revelação mais estrondosa: “Recebemos pressões de todos os lados. Ninguém gosta quando mandamos o trânsito para a sua rua”, diz Bardin.

Waze é uma plataforma que tem por base a comunidade e vai continuar a funcionar assim. Se a informação fornecida pela comunidade acaba por levar tráfego para locais menos previsíveis, os responsáveis da plataforma pouco podem fazer – mesmo depois de serem alvo de pressões e queixas de autarquias ou cidadãos.

Bardin diz mesmo que, nos mais de 80 países onde o Waze já opera, há bairros ricos que se fazem valer dos recursos financeiros ou dos círculos de relações para tentar convencer o Waze a desviar rotas. “Recusamos fazer isso”, riposta Bardin, sem deixar de constatar: “Se as autarquias fazem as estradas, então essas estradas são para usar”.

Mais à frente, o gestor daquela que é possivelmente a plataforma de trânsito e navegação mais famosa da atualidade admite que o facto de não atender a pressões não impediu de produzir as melhorias necessárias no Waze.

“Já conseguimos prever que, ao mandar alguém para um sítio, podemos estar a gerar congestionamentos passados 15 minutos”, refere, numa alusão aos aperfeiçoamentos que já foram implementados, no passado, nos algoritmos da plataforma de navegação.

Apesar de garantir que não cede a pressões, Bardin recorda que tem vindo a disponibilizar o caixa de ferramentas que permite integrar funcionalidades do Waze em serviços de autarquias – e que em cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro, no Brasil, há mesmo ferramentas usadas pelas autoridades locais para receber alertas da população relativamente ao estado das estradas.

Recusando avançar com uma solução especializada para marcas de automóvel (o que significa que os carros mais recentes terão sempre de descarregar a app), Bardin aponta para o próximo estágio de evolução: “queremos que os utilizadores comecem a usar o Waze antes de entrarem nos carros – seja uma hora antes, seja um dia antes”.

O líder da Waze admite que pode haver uma margem de progressão num negócio dedicado à navegação automóvel se se apostar na vertente de planeamento de viagem.

A própria pandemia, que revelou uma quebra de 70% dos quilómetros percorridos entre utilizadores do Waze, ajuda a reforçar essa expectativa. Funcionalidades de partilha de automóveis, planeamento para marcas especializadas em serviços de entrega e até viagens de longo curso que proliferaram em pleno confinamento são alguns pilares desta estratégia.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: senecahugo@gmail.com

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