O que explica a disparada das ações de Localiza e Unidas na quinta, mesmo após a avaliação do Cade sobre a fusão?

Para a XP, o que impactou mesmo o desempenho das ações foi o rendimento dos títulos nos EUA, mais do que a avaliação do órgão antitruste sobre a fusão

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na última quinta-feira (20), um movimento na Bolsa intrigou muitos investidores. Unidas (LCAM3, R$ 26,29, +5,12%) e Localiza (RENT3, R$ 62,47, +4,53%) se destacaram entre as maiores altas do Ibovespa mesmo após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) enxergar concentração excessiva na fusão das empresas o que, a princípio, poderia evidenciar mais desafios para a união das locadoras de automóveis.

A Superintendência-Geral do órgão antitruste avaliou que a união das companhias necessita de análise mais aprofundada pelo conselho. De acordo com despacho publicado no Diário Oficial da União (DOU), a superintendência declarou o negócio “complexo”, o que significa que a operação irá para análise do tribunal do Cade, composto por seis conselheiros e o presidente (veja mais clicando aqui).

A avaliação corrente que surgiu na véspera foi de que, apesar do órgão decidir aprofundar a análise da fusão das empresas, houve certo alívio a receios no mercado de que ele recomendasse de primeira a não aprovação do acordo.

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Contudo, vale destacar que, fora do índice, a rival Movida (MOVI3, R$ 17,78, +7,24%) também subiu forte.

Pedro Bruno e Lucas Laghi, analistas da XP apontaram em relatório que, embora reconheçam a importância do resultado da fusão para o setor, não veem uma ligação entre a alta dos ativos na data de ontem e a avaliação do Cade.

Para eles, o que pode explicar o desempenho das ações é a forte correlação inversa entre as ações de locadoras de automóveis e as taxas de juros de longo prazo (taxa americana de 10 anos, no caso). Na véspera, houve recuo dos rendimentos das taxas futuras dos títulos do governo norte-americano (treasuries), com o vencimento de 10 anos na última sessão ficando em 1,62%, após se aproximar de 1,70% na quarta-feira.

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Bruno e Laghi ressaltam que o valuation de locadoras de automóveis é altamente correlacionado com as taxas de juros de longo prazo, uma vez que as companhias do setor possuem um perfil de fluxo de caixa de duration [tempo médio em que se recebe os pagamentos de um investimento] alto.

Assim, maior parte de seu valor patrimonial está na perpetuidade, uma vez que é um setor que combina alta intensidade de capital com forte crescimento no médio prazo.

Portanto, taxas de juros de longo prazo menores, causam valorizações significativamente maiores, e vice-versa. A volatilidade das ações do setor, eles apontam, aumentou desde que o mercado levantou preocupações com a inflação nos EUA, em meio a programas trilionários de governo, uma vez que mexeram substancialmente com o movimento dos juros nos EUA.

Já sobre a avaliação do Cade em relação à fusão de Localiza e Unidas, os analistas a veem como neutra, uma vez que as duas implicações práticas já eram de certa forma esperadas.

São elas: (i) o processo sendo caracterizado como “complexo” permite que o conselho prorrogue sua decisão final por 90 dias. Assim, dos 240 dias previamente definidos para sua visão final sobre o caso, encerrados em 6 de outubro, o órgão pode estender a decisão final para 6 de janeiro de 2022; e (ii) o conselho confirmou que será necessária uma análise mais aprofundada para avaliar a proposta, tendo em vista as preocupações levantadas por terceiros-interessados que impetraram contra a fusão (Movida e Fleetzil, por exemplo).

Assim, os analistas reiteraram a visão positiva para o setor e também a visão de que a fusão entre Localiza e Unidas ainda não está precificada pelo mercado.

A recomendação da XP para as ações de Unidas, Localiza e Movida é de compra. A Localiza é a preferida do setor para a XP, com preço-alvo de R$ 76, alta de 21,66% em relação ao fechamento de quinta-feira; o preço-alvo de LCAM3 é de R$ 34, valor 29,33% frente o fechamento da véspera. Já para a Movida, o target é de R$ 23, ou potencial de alta de 29,36% frente o último fechamento.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.