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Ethereum quer mudar-se para o "lado sustentável" da força. Goldman Sachs vê oportunidade para destronar bitcoin

A rede de "blockchain" ethereum vai mudar a forma como cada criptomoeda é minerada, passando a adotar um sistema de "proof-of-stake", que pode reduzir em 99% o consumo energético. A bitcoin, que está a ser criticada devido à sua pegada ambiental, poderá sofrer com a mudança.

Getty Images
Gonçalo Almeida goncaloalmeida@negocios.pt 24 de Maio de 2021 às 12:17
O impacto ambiental da bitcoin voltou à baila nas últimas semanas, depois de a Tesla anunciar que ia deixar de aceitar receber bitcoins como forma de pagamento, levando outras empresas e organizações a fazer o mesmo, como a Greenpeace, que deixou de aceitar doações nesta moeda. Para contornar esta preocupação, a ethereum - rede de "blockchain" onde corre a moeda ether - está a estudar alternativas à atual mineração de criptomoedas que pode fazer com que o seu peso ganhe força. 

Atualmente, e apesar da queda de quase 40% no mês de maio, a bitcoin continua a ser a criptomoeda mais valiosa do mercado, com uma capitalização de cerca de 682 mil milhões de dólares, o que é mais de metade de todo o mercado destas moedas digitais, de acordo com o coinmarketcap. Mas já há quem antecipe uma mudança de paradigma. De acordo com uma nota do Goldman Sachs, divulgada pela Bloomberg, o potencial que a ether tinha de ultrapassar a bitcoin, enquanto criptomoeda mais valiosa do mundo, era visto como uma das várias hipóteses que os analistas desenharam para o futuro da bitcoin. 

Umas da razões passa pela sustentabilidade. Em causa estará o estudo que tem sido desenvolvido pela equipa da Fundação Ethereum, que anunciou uma mudança na arquitetura da rede nos próximos meses, com a diminuição da pegada ambiental em cerca de 99,5% face ao atual. Carl Beekhuizen, um dos investigadores desta fundação, disse que, enquanto o atual consumo energético da bitcoin equivalia ao Burj Khalifa, o maior prédio do mundo, a nova forma que a ethereum está a desenvolver iria equivaler a um parafuso. 

A atual mineração de bitcoin, que usa tanta ou mais energia como uma série de países num ano, como Portugal ou a Argentina, é feita à base daquilo a que se chama a "proof-of-work", um protocolo feito à prova de bala dos ataques cibernéticos, mas cujo consumo de energia, no caso da bitcoin toca nos 130 terawatts por hora (TWh), calcula o Centro de Finanças Alternativas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. A única forma que os mineradores terem vantagem uns sobre os outros é usarem computadores mais eficientes, o que faz aumentar o consumo. 

Alguns entusiastas da bitcoin, como é o caso do co-fundador do Twitter, Jack Dorsey, alegam que a criptomoeda pode promover o consumo de energias renováveis, se se aproveitar dos projetos de energia solar e eólica existentes. Mas o que acontece neste momento é que a maior parte da mineração é feita na China, com recurso ao carvão, como fonte de eletricidade. 

Diogo Mónica, o co-fundador da Anchorage, o primeiro banco de criptomoedas regulado em todo o mundo, disse, numa entrevista ao Negócios, que o "impacto ambiental era o novo mito criado sobre a bitcoin", não porque o consumo em si não seja verdadeiro, mas porque "não é justo pensar de forma isolada".

"Vamos pensar nos 'data centers', consomem mais energia que a bitcoin. Mas ninguém se está a queixar de que os 'data centers' estão a consumir energia. Porquê? Porque lhe dão utilidade. E claro que se a bitcoin e a 'blockchain' para mim valem zero, mesmo se gastássemos 1 dólar por ano em energia, já era demasiado", argumentou Mónica, acrescentando que toda a energia que a bitcoin consome é a segurança da rede. "E, se formos comparar, gastamos muito mais dinheiro e é muito mais prejudicial andarmos a tirar ouro do chão. E mesmo o dinheiro em si. As ATM [caixas automáticas], os espaços físicos, o ter de mover o dinheiro de um lado para o outro e os veículos de segurança que transportam dinheiro de um lado para o outro. Tudo isto não é necessário em criptomoeda", conclui.

A ultrapassagem da ether?
A solução que está a ser equacionada pela rede ethereum para resolver o impacto ambiental da sua mineração, que funciona de forma semelhante à da bitcoin, é passar a adotar um outro protocolo de segurança chamado "proof-of-stake", um modelo em que a vantagem dos mineradores é conquistada com a compra e manutenção de criptomoedas na rede. Quanto maior for a quantidade de moeda "congelada", maior é a hipótese de minerar o próximo bloco de moedas. Assim, a mineração de criptomoedas é determinada pelo "stake" (participação) e não pelo "work" (trabalho recorrendo aos computadores).

Beekhuizen diz, na mesma publicação, que a transformação da ethereum neste "proof-of-stake" irá ocorrer nos próximos meses, numa altura em que já existem muitas moedas digitais que são mineradas através deste método. A primeira foi a peercoin, mas seguiram-se outras como a BNB, moeda da "exhange" Binance.  

A nota do Goldman Sachs diz que 
"a ether tem grande chance de ultrapassar a bitcoin como reserva de valor dominante. A rede ethereum oferece suporte a contratos inteligentes e fornece uma maneira de criar novos aplicativos na sua plataforma. O maior número de transações em ether versus bitcoin pode refletir esse novo domínio".

Esta mudança de paradigma da rede que corre a criptomoeda ether, poderá dar um novo impulso a esta moeda que tocou em máximos históricos neste mês, acima dos 5.000 dólares, à boleia também dos NFT ("non-fungible tokens"), que são transacionados com recurso à mesma. Contudo, não escapou à derrocada recente sentida no mercado de criptomoedas e o seu valor chegou a a afundar para a casa dos 2.000 dólares. 

Atualmente, a ether é a segunda criptomoeda mais valiosa do mundo, atrás da bitcoin, com uma capitalização de mercado de 261 mil milhões de dólares. A bitcoin perdeu quase 50% do seu valor desde que atingiu os máximos históricos, em abril, nos 65 mil dólares por unidade, enquanto que a ether caiu mais de metade este mês.
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