Opinião

O problema da direita não é o MEL, são as abelhas

Sabe o estimado leitor o que é que a colmeia faz quando a rainha não está em condições de cumprir a sua função? Coloca-se toda em cima dela, fazendo aumentar insuportavelmente a temperatura, até que ela acabe por sufocar

A direita agoniza. Nesta agonia, o país entrega-se à sua Síndrome de Estocolmo: preferir o PS. Todas as sondagens mostram que a direita toda somada não chega sequer às intenções de voto do PS; ou, quando chega, limita-se a isso: a chegar à votação do PS, sobrando todo o eleitorado da extrema-esquerda, cujos partidos continuam a suportar os socialistas no poder.

E isto, desculpem lá, num país cada vez mais pobre, cada vez mais corrupto, onde se morre cada vez mais (e não estou a falar de mortes por Covid19) e onde se nasce cada vez menos, é coisa que não se compreende. Ou melhor, compreende: distribuindo "privilégios" imediatos a um rol de clientelas que votam, o PS vai assegurando a sua permanência no poder.

O estimado leitor duvida? Pense melhor. Após milhares de milhões de euros, vindos da UE, visando a convergência, o país divergiu: é hoje um dos países com o PIB per capita mais baixo da zona euro. Mas não é só. Os pedidos de ajuda aos bancos alimentares aumentaram como nunca, contando-se nesta calamidade, agora, famílias que consideravamos de classe média, e que se veem na contingência de terem de pedir ajuda para uma refeição. Uma refeição! Ao aumento da percepção de corrupção, junta-se uma justiça anquilosada e marcada por mega-processos de corrupção envolvendo elites, que dão a ideia, à generalidade dos portugueses, que o crime, para os fortes, compensa. Desde o início da última série estatística em uso, morriam em média cerca de 100 mil portugueses por ano. Até 2014. De 2015 até 2019, antes dos efeitos da pandemia, morreram em média 105 mil portugueses por ano. Das duas uma: ou o socialismo, com as suas obsessões ideológicas e a sua práctica orçamental, mata ou então morre-se mais porque a população está cada vez mais envelhecida; e isso é, por si só, uma tragédia em vários actos. O que nos leva ao último ponto: Janeiro e Fevereiro foram os meses em que nasceram menos crianças desde que há registos. Porque será?

Talvez porque a vida da generalidade dos portugueses seja uma agrura sem esperança. Vamos a um bocadinho de quotidiano? Os portugueses estão, por esta altura, à espera do reembolso do IRS - que este ano é menor porque a carga fiscal é maior - para pagar o IMI. Com o subsídio de férias, no próximo mês, esperam pagar o seguro do carro. Quase no final do ano lectivo verificaram que a escola onde foram obrigados a inscrever os seus filhos tem um desempenho lastimável no ranking nacional. Não é relativo, é absoluto. Não é a posição que ocupa, são os resultados que apresenta. Já a primeira consulta de especialidade no centro de saúde, que é urgente, tarda, e a operação ficou para 2023.

E a direita, ante isto, faz o quê? Discute se é fofinha, se é a sério, se é envergonhada, federada, se admite o centro ou se tolera a extrema. Fechada para se discutir - ou no divã, para usar as palavras clarividentes da Cecília Meireles - foram raros os contributos úteis para os portugueses que, na convenção do MEL (Movimento Europa e Liberdade), se ouviram. Disse raros, não disse inexistentes. Desses, vou destacar apenas dois: Paulo Portas e Pedro Passos Coelho. Paulo Portas ofereceu à direita um guião e ao país uma solução. Carregado de pragmatismo, estudo, muito mundo e imensa moderação e bom senso alertou para os desafios a que um país que se quer melhor vai ter de responder nos próximos anos. Pedro Passos Coelho, porque no seu silêncio quase humilde e na sua escuta atenta, lembrou que ao "programa" que Portas apresentou falta a liderança que ele personifica. Programa e liderança.

Sobre o programa, Paulo Portas alertou para a importância dos Estados aprenderem a lidar com a gestão de crises, apostarem nas respostas na área da saúde, investirem na recuperação económica e salvaguardarem a manutenção de um mundo aberto e de trocas permanentes. Isto faz-se com autoridade do Estado, complementaridades entre o público e o privado, e muita economia. E isto tudo derrogando categoricamente populismos ("à esquerda e à direita") e governação para likes nas redes sociais. Mais: em tudo, futuro e esperança. Deixem lá o passado e o rancor, se fazem favor. Querem agenda mais conservadora liberal que esta?

Sobre liderança, Passos, calado, brilhou logo no contraste com os prolixos líderes do PSD e do CDS. Hoje não vou falar aqui de Cotrim Figueiredo, que tem méritos e lapsos, nem de Ventura, que derroguei no parágrafo anterior. Vou ficar-me pelos partidos que juntos tiveram, em 2015, 2 milhões de votos. Ora, no PSD temos um contabilista. E não pensem que estou menosprezar Rio. Não o estou a menosprezar, porque ele é um excelente contabilista. Dá gosto ouvi-lo falar de contabilidade e dá gosto vê-lo falar de contabilidade. Todo ele se agita, todo ele se encanta. No CDS temos Francisco Rodrigues dos Santos, com aqueles rodriguinhos palavrosos, que é um muito competente presidente. De uma Associação de Estudantes do ensino secundário. Dá-se o caso de nem o PSD ser um gabinete de contabilidade, nem o CDS uma Associação de Estudantes. A sério: quem é que, de entre vós, ainda acha que estes cavalheiros são líderes à altura das exigências?

Sobre a direita, mais uma coisa: Jorge Marrão e Paulo Carmona têm o mérito dos audazes. Organizaram, pela 3.ª vez, um fórum essencial. O problema não está no MEL. O problema, infelizmente, está nas abelhas. E, sobretudo, nas abelhas rainhas. Sabe o estimado leitor o que é que a colmeia faz quando a rainha não está em condições de cumprir a sua função? Coloca-se toda em cima dela, fazendo aumentar insuportavelmente a temperatura, até que ela acabe por sufocar. É uma imagem útil, não acham? Aumentar a temperatura nas colmeias. Que é o mesmo que dizer, fazer renascer o futuro dos partidos nos próximos congressos. Maurice Maeterlinck, autor do The Life of the Bee, afirma uma coisa muito útil para este contexto: "se as abelhas desaparecerem, ao homem restam apenas 4 anos de vida". E 4 anos é o tempo de mais uma legislatura socialista.

Querem discutir o futuro? Parem de olhar para o passado, mudem as lideranças e apresentem um programa de esperança, que dê respostas úteis à Maria, aos Maneis, à Katia e ao João. Ainda vão a tempo das próximas legislativas.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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