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Empresas acreditam que modelo híbrido no trabalho veio para ficar

Responsáveis dizem que o teletrabalho trouxe “novas oportunidades”, mas que o factor da proximidade pode criar uma “barreira” num acordo que estará sempre dependente de todas as partes.
20 Junho 2021, 12h00

Um modelo híbrido entre escritório e habitação é visto como a opção mais viável num novo sistema de trabalho que surgiu com a pandemia de Covid-19 estará sempre dependente das responsabilidades laborais e acordos entre todas as partes envolvidas. Esta é a ideia partilhada por alguns dos responsáveis de empresas que operam em Portugal ouvidos pelo Jornal Económico (JE).

“O teletrabalho trouxe seguramente novas oportunidades, mas inevitavelmente pode criar barreiras que na nossa cultura são fundamentais, como a proximidade. Por isso, acreditamos que o modelo flexível (ou híbrido) é o que irá vigorar na maioria das empresas que a atividade o permita”, refere Fernando Reino da Costa, CEO da Unipartner, empresa prestadora de serviços tecnológicos, onde resto assegura que este sistema híbrido já era uma realidade em algumas situações, defendo que o mesmo irá trazerflexibilidade e opção de escolha para os colaboradores de acordo com as tarefas que têm para realizar e como fará mais sentido. “Conseguiremos manter ou até aumentar a produtividade e a motivação, o que trará benefícios para todos. Esta flexibilidade será, seguramente, um fator de competitividade e uma exigência por quem procura uma organização para trabalhar”, salienta.

Este novo sistema de trabalho é também defendido por Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde (SPV), salientando, contudo que as empresas portuguesas têm perfis e sectores muito diversos, onde o trabalho à distância não é de todo possível como é o caso da SPV, dado que a recolha dos resíduos tem mesmo de ser feito de forma presencial.

“Ainda assim, existem várias outras atividades onde efetivamente pode existir um modelo de trabalho híbrido que permita a convivência do trabalho em escritório com o trabalho à distância”, afirma, acrescentando que ao longo destes últimos meses a empresa conseguiu perceber que o trabalho à distância funciona. “Aliás, grande parte dos colaboradores percebeu que este modelo permite que exista uma maior conciliação entre a vida pessoal e profissional”, sublinha, e dando como exemplo, as muitas horas ganhas em deslocações casa-trabalho-casa que podem, neste modelo, ser rentabilizadas para potenciar a vida pessoal de cada um. No entanto, e apesar de acreditar que este modelo híbrido veio para ficar em muitos sectores, a CEO defende que o mesmo “estará sempre dependente do acordo e das vontades de todas as partes”.

Por sua vez, Carlos Gonçalves, CEO do Avila Spaces, destaca que o modelo híbrido já é uma realidade para muitas empresas em Portugal, com vantagens claras em termos de custos e produtividade. “Nos últimos meses, as empresas estão a descobrir que este “novo modelo híbrido” oferecido pelos espaços de cowork permite-lhes utilizar um terceiro espaço numa lógica de ‘Escritório Satélite’”, refere, acrescentando que na prática, os funcionários poderão optar por trabalhar a partir da sede da empresa, da sua residência ou, pontualmente, de um centro de escritórios e cowork. “Com esta crise, muitas empresas prescindiram do seu escritório tradicional, optando por contratar uma solução de escritório flexível, permitindo que os seus colaboradores combinem o teletrabalho com a utilização pontual dos nossos espaços: quer seja um escritório arrendado ao dia ou ao mês, uma sala de reuniões para sessões de trabalho, ou espaços de cowork”, salienta.

Mas estarão as empresas preparadas para receber de volta os seus colaboradores com as condições de saúde e segurança necessárias? “À semelhança da Unipartner, em geral as empresas estão preparadas para receber os colaboradores de forma segura. Ao longo das diferentes fases de confinamento e de desconfinamento foram preparados e aplicados procedimentos para se receber as equipas nos escritórios. Procedimentos estes que têm sido adaptados consoante as orientações da DGS”, explica Francisco Reino da Costa, destacando que com exceção das fases de recolher obrigatório, na Unipartner, os escritórios estiveram e continuam abertos seguindo as recomendações da Direção Geral de Saúde.

“Aumentámos o número de vezes em que os espaços são higienizados, criámos postos de higienização das mãos e adicionámos nova sinalética para ajudar a relembrar os colaboradores no que diz respeito ao correto cumprimento das regras”, afirma, destacando que mesmo com estas medidas o regresso aos escritórios implicará sempre uma responsabilidade individual e coletiva, através de um guia de prevenção e proteção designado ‘keep safe together’ desenvolvido pela empresa. “Estas regras que adotámos incluem a utilização da máscara no local de trabalho, o número limitado de pessoas que podem utilizar as salas, a copa e as casas de banho, o normal distanciamento entre colaboradores, que obriga à redução de mesas de trabalho disponíveis e incentivamos a utilização do terraço, um espaço ao ar livre, para almoçar ou para as habituais e necessárias conversas de corredor”, refere.

No caso da Sociedade Ponto Verde, Ana Trigo Morais realça que estão reunidos todos os meios e planos de contingência necessários para que esteja assegurada a segurança de todos, mas considera “normal que durante os próximos meses ainda não seja possível regressar a um modelo considerado de normalidade, mas iremos assegurar uma evolução gradual que acompanhe também a evolução da própria situação social que o país viva”, admitindo que existem novas práticas que vieram para ficar e outras antigas que provavelmente se ajustarão para o futuro, dando como exemplo, que as deslocações para pequenas reuniões fora do escritório não voltarão a ser uma prática recorrente, bem como as inúmeras plataformas de videoconferências que se tornaram tão populares no último ano continuarão por cá. “Mesmo que a situação epidemiológica registe uma evolução favorável não nos faz sentido voltar a atravessar o país para uma reunião de uma hora quando a podemos realizar via online com os mesmos efeitos”, refere a CEO.

Por seu turno, Carlos Gonçalves defende que com a adoção do modelo híbrido, as empresas reforçaram o investimento em soluções tecnológicas, nomeadamente em plataformas colaborativas de gestão de equipas remotas. “Do ponto de vista logístico e organização dos espaços de trabalho, as soluções de Cowork têm tido uma procura crescente por parte de empresas com mais de 30 colaboradores, permitindo-lhes arrendar postos de trabalho partilhado, escritórios mobilados chave-na-mão e salas de reunião equipadas com a mais moderna tecnologia”, sublinha o responsável, explicando que existem várias combinações possíveis e que os contratos são flexíveis, ou seja as empresas pagam apenas o tempo e o espaço que utilizam.

Além das condições de segurança e saúde, as soluções tecnológicas são também fundamentais para que as empresas possam a melhor qualidade de trabalho possível aos seus colaboradores. Francisco Reino da Costa, defende que estamos perante um novo paradigma laboral que deve ser pensado para o aumento da produtividade e diferenciação das organizações e melhoria da qualidade devida das pessoas, sendo que cabe às empresas pensar se faz ou não sentido regressar ao local de trabalho, e em que moldes. “As organizações devem investir na visão de um posto de trabalho moderno, móvel e seguro, que integre um conjunto de necessidades de trabalho em uma só plataforma digital e segundo as boas práticas. Tecnologia e meios não faltam para assegurar a produtividade num modelo de trabalho híbrido que garanta a segurança dos dados, interna e externamente”, explica, dando como exemplos o Microsoft Teams e a Power Platform, como plataforma ágil de suporte à inovação e digitalização dos processos de negócio.

Já Ana Trigo Morais relembra que os últimos meses foram já de uma adaptação profunda no ambiente de trabalho da maioria das empresas , o que fez com que surgissem novas tecnologias e modelos, permitindo que o trabalho do dia-a-dia seja executado à distância com a mesma produtividade. “As inovações que as organizações trouxeram aos seus colaboradores para que se adaptassem ao teletrabalho, podem e devem ser agora adaptadas para o regresso ao escritório, para que o investimento feito seja otimizado”, realça.

Carlos Gonçalves deixa também elogios à Direção Geral de Saúde que “tem feito um trabalho exemplar no domínio da prevenção, prestando as informações necessárias às empresas”, dando como exemplo as práticas utilizadas no Avila Spaces, onde com base nas orientações do Governo e das boas práticas internacionais desenvolveram em maio de 2020, a iniciativa “Work Safe”, implementando sete medidas para garantir a protecção de clientes e colaboradores no regresso ao escritório e cowork, com a criação de um Business Lounge/Terraço ao ar livre, onde os clientes poderão trabalhar, ter reuniões informais ou organizar pequenos eventos de networking com todo o conforto e privacidade.

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