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Sustentabilidade não é uma opção, mas uma inevitabilidade

Conferência sobre ‘Os Imperativos da Sustentabilidade’, promovida pela consultora Accenture, deixou claro que as grandes empresas já não podem dar-se ao luxo de olharem para a sustentabilidade como uma coisa curiosa. Até porque a sustentabilidade é indutora de novos negócios.
23 Junho 2021, 14h12

Num quadro em que a sustentabilidade já não está numa fase de análise de benefício – já passou para o capítulo da inevitabilidade – o debate sobre os caminhos que ainda falta percorrer para a sua estruturação como esteio do desenvolvimento foi o motivo por trás da conferência sobre ‘Os Imperativos da Sustentabilidade’, promovida pela consultora Accenture, com o Jornal Económico como media partner.

Com um painel que dificilmente podia ser mais luxuoso – João Amaral, Chief Development Officer da Sonae, Luísa Ribeiro, Senior Manager na área de Strategy & Consulting da Accenture Portugal, Margarida Sá Costa, Head of Human Rights, Sustainability and Inclusion Cabinet da Altice Portugal , e Eduardo Moura, Diretor Adjunto de Sustentabilidade da EDP – coube a Aída Rodríguez Moral, Accenture Iberia Non-Financial Risk & Sustainable Business Lead, introdudir  tema com uma intervenção focada no “Delivering on the promise of sustainability”.

Aída Rodríguez foi clara quando afirmou que, de facto, “a sustentabilidade é inevitável, mas também “um caminho que se vai percorrendo”, onde “há diversos graus” de comprometimento e de alcance do objetivos. Pesem embora todas as diferenças que as organizações afirmam no seu seio – e por isso na forma como a sustentabilidade as impacta – Aída Rodríguez afirmou haver uma espécie de matriz que pode ser usada para inferir da sustentabilidade como uma estratégia.

Essas “chaves da sustentabilidade” têm de ser claras “quanto aos seus objetivos”, na forma “como esses objetivos vão ser priorizados”, que “metas específicas” estão envolvidas e, finalmente “de que modo estão quantificadas” e por isso podem ser de algum modo certificadas pelo seu conhecimento público.

Sendo todas as empresas envolvidas no debate líderes do mercado e organizações com elevado grau de exposição pública por um lado, e capazes de liderar mudanças por outro, não é nenhuma surpresa que, em cada uma delas, a sustentabilidade já é um conceito há muito incorporado.

João Amaral disse isso mesmo sobre a Sonae – lembrando o pioneirismo do fundador do (moderno) grupo Sonae, Belmiro de Azevedo, para quem a sustentabilidade foi, fora de tempo, uma opção antiga. Referindo que a sustentabilidade tem de ter “valor económico” para ser desejada como opção, João Amaral referiu ser inevitável que se perceba que “a importância do sistema” vai muito além.

E elencou aquilo que definiu como grandes metas do grupo: CO2 e alterações climáticas, circularidade dos plásticos, natureza e biodiversidade, desenvolvimento inclusivo e comunidade envolvente. O plano é transversal a todo o grupo, mas “cada uma das empresas tem de contribuir: todas têm de contribuir para o todo”, afirmou.

João Amaral chamou ainda a atenção para o facto de, mesmo havendo mensuração de resultados, a sustentabilidade ser também um “modo de estar” – e atingir esse patamar é que verdadeiramente marca a diferença.

Também Margarida Sá Costa defendeu a existência de “uma cultura para a sustentabilidade” com a qual “a Altice está comprometida há muitos anos” – até porque a sua qualidade de empresa cotada em mercados de grande exposição a isso obrigou. E identificou esta postura ‘íntima’ como uma forma de estar da Altice em Portugal: “os nossos colaboradores são muito criativos, têm grande capacidade de criarem” novos procedimentos sustentáveis, afirmou.

A EDP “percebeu que o futuro estava nas renováveis em 2006”, disse por seu turno Eduardo Moura – que, por outro lado, quis colocar uma tónica especial num tema pouco abordado em painéis deste género: “são as empresas que criam inovação na sustentabilidade e a partir daí fazes o seu mercado”, afirmou. Um dado importante – que identifica as organizações, a par dos legisladores, como o epicentro da criação de sustentabilidade e que vai ao arrepio de outras teorias segundo as quais a resposta sustentável foi induzida às empresas pela procura dos consumidores. “A sustentabilidade não é pura e virgem”, disse.

Este outro paradigma foi apoiado por todo o painel. Margarida Sá Costa recordou mesmo que “a pandemia trouxe novas oportunidades para a sustentabilidade”, que foram identificadas pelas empresas e não pelo consumo.

De qualquer modo, recordou Luísa Ribeiro, “a sustentabilidade continua a ser diferenciadora”, mesmo que para isso seja preciso ‘secá-la’ da componente de moda que também encerra. “Nem todas as empresas estão ao mesmo nível de sustentabilidade” – mesmo que a justeza da economia circular já tenha sido apreendida por todas as organizações.

A Accenture tem por outro lado a preocupação de transmitir à organização todos os pressupostos que compõem a sustentabilidade – fator de absoluta importância que se transfere também para as cadeias de valor. De facto, todos os presentes afirmaram que uma das formas de ‘sustentar a sustentabilidade’ é transmitir (mesmo que ‘transmitir’ possa confundir-se com ‘obrigar’) os seus princípios a fornecedores e clientes.

Todas as empresas envolvidas estão comprometidas em diversos graus e em diversas fases com a sustentabilidade no seio das suas organizações – seja sustentabilidade de produto seja sustentabilidade social (nomeadamente as questões de género) – o que implica, recordaram, a utilização de métricas para que esse verdadeiro esteio do desenvolvimento não se fique pelas nobres intenções, mas possa ser publicamente certificado e a partir daí usado como elemento diferenciador e concorrencial.

É neste quadro que a sustentabilidade é mais um caminho de indução de novos negócios – além de, em muitos casos, ser uma forma de diminuir custos operacionais em maior ou menor grau – pelo que é uma opção sem retorno.

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