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Na esteira de El Salvador, outros países poderão vir a usar a bitcoin. Porquê?

Na esteira de El Salvador, outros países poderão vir a usar a bitcoin. Porquê?
Dado Ruvic
O economista Filipe Garcia, falando ao Expresso, põe as notícias em contexto e fala das externalidades que justificam a decisão salvadorenha. Mais do que uma revolução financeira, este e outros países, quase todos com moedas muito fracas, podem procurar objetivos secundários como fazer entrar mais facilmente remessas de imigrantes ou criar um cluster de inovação

Luís M. Faria

Jornalista

Depois de El Salvador ter anunciado recentemente que vai passar a utilizar a bitcoin como moeda legal, países como a Tanzânia, a Nigéria e o Quénia dão indicações de que também eles poderão vir a adotar a mais antiga e mais conhecida das criptomoedas. Não será por acaso que se trata de países onde uma parte substancial da população não tem acesso ao sistema bancário tradicional. Ainda não se sabe em que termos as pessoas comuns serão obrigadas a aceitar a criptomoeda - em princípio, podendo convertê-la logo a seguir em dólares, para evitar a volatilidade inerente à bitcoin - e todos os demais pormenores de utilização permanecem por estabelecer.

Ao mesmo tempo, há governos a tomar medidas de sinal contrário. A China, que em maio tinha confirmado uma proibição das transações em bitcoin, acaba de anunciar o encerramento de algumas das suas maiores minas de bitcoin e o Banco Central Europeu, pela voz de um representante sénior, disse ontem ao "Financial Times" que a introdução de um euro digital será uma forma de combater a disseminação de moedas digitais e proteger os consumidores.

De qualquer modo para os antagonistas da bitcoin, que incluem nomes tão proeminentes como Paul Krugman, vencedor do prémio Nobel da Economia, a bitcoin ainda não demonstrou ter qualquer utilidade económica para além do seu uso como veículo especulativo. Todas as outras funções de uma moeda ou uma unidade de valor podem ser melhor desempenhadas através de outras formas já existentes, segundo Krugman, e não há indícios de que as notícias vindas de El Salvador tenham mudado a sua posição.

Para Filipe Garcia, economista do IMF - Informação de Mercados Financeiros, o anúncio de El Salvador é "mais simbólico do que real". Falando ao Expresso, explicou: "Não me parece que seja extraordinariamente elaborado aceitar outras moedas para pagamento do que quer que seja. Acontece todos os dias entre as empresas e as pessoas. O que é novo é a possibilidade de poder pagar impostos em bitcoin".

Acrescentou depois o economista: "O importante não é poder-se pagar numa determinada moeda, mas a forma como os preços e os impostos são calculados. Eu assumo que, pelo menos por enquanto, os impostos vão continuar a ser calculados em dólares, e depois o pagamento será feito em bitcoins. Mas ainda não há regulamentação. Ninguém sabe, para dizer a verdade".

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