Economia

Comissão de Trabalhadores do Santander denuncia discriminação das mulheres e corte de 25% do pessoal

Comissão de Trabalhadores do Santander denuncia discriminação das mulheres e corte de 25% do pessoal

Membros da CT do banco acusam gestão de retaliação e falam em discriminação: mulheres com mais de 55 anos estão a ser afastadas das reformas antecipadas

Comissão de Trabalhadores do Santander denuncia discriminação das mulheres e corte de 25% do pessoal

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A comissão de trabalhadores (CT) do Santander em Portugal calcula em 25% a redução do quadro de pessoal entre outubro de 2020 e o final do presente ano. Os responsáveis do órgão representativo dos trabalhadores falam em pressão, e os partidos veem o corte com preocupação, segundo deixaram explícito na audição parlamentar que se realizou esta segunda-feira, 19 de julho.

Entre setembro de 2020 e junho de 2021, saíram do banco 493 trabalhadores, havendo assinaturas para o fim do contrato de trabalho com outros 220 funcionários.

“São mais de 700 trabalhadores que ou já saíram ou estão já com a assinatura do contrato de saída. E neste momento surge um novo plano que afeta 685 trabalhadores. Tudo junto, ultrapassa os 1400 trabalhadores, num espaço temporal que vai de outubro de 2020 até ao final deste ano. Quinze meses, 1400 trabalhadores, 25% da força de trabalho”, declarou João Pascoal, coordenador da comissão nacional de trabalhadores do Santander, no Parlamento.

O Santander tem chegado a acordo para a saída de pessoal, mas há semanas anunciou o plano de reestruturação que visa 685 postos de trabalho. Se não cumprir o objetivo, o banco de capitais espanhóis ameaçou com a realização de medidas unilaterais, como despedimentos.

A comissão de trabalhadores lança várias críticas ao processo, desde logo o facto de ter sido informada ao mesmo tempo que a comunicação social, e dizendo que a gestão do banco tem apostado numa “quantidade muito grande de trabalho externo”, com entidades não vinculadas ao banco. Ou seja, para esta entidade, há uma redução de pessoal ao mesmo tempo que há procura por funcionários fora do banco.

A retaliação a trabalhadores que pertencem à comissão foi outra das acusações deixadas na audição por João Pascoal, que diz que o banco tem apenas o objetivo de “potenciar a taxa de lucro”, lembrando que foram têm sido entregues dividendos a Espanha.

Na audição, outros representantes da comissão de trabalhadores disseram que o Santander “não está a ter cuidado em casos sociais”, nomeadamente com filhos ou casais, como defendeu Alberto Pereira. Tudo isto sob uma "pressão acrescida, com a capa do despedimento" e "sob grande agressividade".

Já Paula Oliveira e Silva, que também integra a CT do Santander, relatou que as mulheres estão a ser discriminadas face aos homens e que tal já foi transmitido à Direção-Geral de Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT). Mesmo quando têm mais de 55 anos, é-lhes proposta a revogação por mútuo acordo e não as reformas antecipadas, com a justificação de que tal se deve aos cálculos atuariais (como as mulheres têm maior esperança de vida, custam mais ao banco).

A audição ocorreu por requerimento do Bloco de Esquerda (“há entidades patronais que estão a aproveitar para enxugar as empresas e a exercer enorme pressão para que trabalhadores com contratos, com direitos, saiam da empresa”, disse José Soeiro).

Os vários partidos presentes mostraram apreensão com a situação no Santander, lembrando porém que o caso é transversal à banca (o PCP até acusou o governador, Mário Centeno, de colocar-se ao lado dos bancos e não dos trabalhadores) e alargando até a outros sectores (o PSD quis referir a TAP).

Entretanto, Pedro Castro e Almeida, CEO do banco, só deverá ser ouvido dia 28, a mesma data em que previsivelmente serão ouvidos sindicatos bancários, caso o requerimento do PSD seja aprovado na próxima quarta-feira. Na semana passada, realizou-se uma inédita manifestação que juntou sete sindicatos do sector e está em cima da mesa a ameaça de greve, tendo em conta os cortes de postos de trabalho em quase todos os bancos nacionais.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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