No futebol, substituir um técnico que fez um trabalho de reconhecidos bons resultados é uma difícil missão, já que a expectativa do time, da torcida e dos funcionários do clube é alta para manter e até superar os patamares alcançados. As cobranças e a pressão são do tamanho da responsabilidade. No mundo corporativo funciona mais ou menos da mesma forma. A Oracle Brasil acaba de mudar de comando. A depender do preparo, do otimismo e dos objetivos expostos pelo novo técnico, colaboradores, clientes e parceiros podem esperar por conquistas. Alexandre Maioral substitui Rodrigo Galvão na presidência da operação brasileira. Após quatro anos na cabeça do organograma nacional, Galvão parte para assumir a vice-presidência de Tech Cloud na América Latina. Maioral, com 10 anos de casa, chega para dar continuidade ao trabalho e traça plano ousado: no ciclo de dois anos, alcançar três dígitos de crescimento em faturamento, diversidade e apoio a projetos de relevância. Significa dobrar de tamanho. “Inicio esse novo momento com uma base sólida. Nossa escada está firme para darmos os próximos passos”, afirmou Maioral, que participou do comitê de transformação da companhia no Brasil, liderada por Galvão, tanto no aspecto cultural quanto em oferta de soluções ao mercado, principalmente em cloud.

No último biênio, Maioral foi vice-presidente sênior de Aplicativos. Antes, passou por posições de liderança nas principais linhas de negócio. Agora, na cadeira de presidente, pretende colocar em prática uma gestão bottom up, de baixo para cima, mais colaborativa, com participação efetiva dos grupos para chegar a um direcionamento. Uma metodologia implantada nos últimos anos. “Humanizamos e colocamos as pessoas no centro de uma empresa de tecnologia. Se queremos mostrar algo ao mercado, precisamos estar preparados de dentro para fora.”

Com essa filosofia, a pretensão é ter profissionais capacitados a adaptações e ao atendimento às demandas dos clientes. Na ponta do processo estão a manutenção e aumento dos atuais contratos e a atração de novos negócios, para que a Oracle Brasil contribua ainda mais para o faturamento global da companhia de Santa Clara, na Califórnia (EUA). Os números locais não são revelados, mas a participação da operação brasileira na América Latina é “exponencial”, segundo o executivo, e contribuiu para a receita de US$ 40,5 bilhões em 2021, ano fiscal encerrado em 31 de maio. A variação positiva em relação a 2020 é de 3,6%, após queda de 1% em comparação a 2019. Serviços de nuvem foram responsáveis por US$ 28,7 bilhões do faturamento atual, aumento de 5% em relação ao ano anterior, seguido de licenças de nuvem e on-premise (instalação local), com
US$ 5,4 bilhões, também com alta de 5%.

Istock TELECOM A TIM anunciou a migração de 100% de seus datacenters para a nuvem, com a Oracle sendo parceira estratégica da mudança que vai gerar maior produtividade. (Crédito:Istock)

LIDERANÇA Esses números são fruto da liderança da Oraacle em alguns quadrantes da consultoria Gartner, entre eles o de provedor de soluções de ERP (Enterprise Resource Planning, ou sistema de gestão integrado) em nuvem para empresas de médio e grande portes do mercado financeiro. Com ferramentas como Oracle Fusion Cloud ERP e o Oracle NetSuite, atende a 31,5 mil clientes no mundo. “O foco de seus recursos de Inteligência Artificial é fornecer hiperautomação, buscando abordar operações sem toque e uma capacidade de fechamento contínuo”, disse a consultoria em seu relatório. Os concorrentes no quadrante são a SAP e a Workday, com Microsoft e Sage Intacct apontadas como visionárias.

O setor de finanças é um dos pilares da empresa, junto a varejo e telecomunicações. Três ramos que passaram por rápidas e expressivas transformações. Na área de telecom, a Oracle é parceira da TIM no recente anúncio da migração para a nuvem de 100% de seus datacenters de São Paulo e Rio de Janeiro, por meio do OCI (Oracle Cloud Infrastructure) de segunda geração. “É a Ferrari dos datacenters e estrutura de nuvem”, afirmou Alexandre Maioral. Com o multicloud – a Microsoft também está no projeto com o Azure –, a companhia de telefonia visa aprimorar processos de atendimento ao cliente, operações internas, faturamento, arrecadação e gestão de plataformas digitais com rapidez, escalabilidade e segurança. A conclusão de todo o processo está prevista para 2023. “Em média, soluções de nuvem geram redução de custos de 30% e de ganhos de 50%”, afirmou o executivo.

Para avançar no varejo, a empresa montou a Casa Oracle, em São Paulo, para estreitar conexões com os clientes e parceiros ao mostrar na prática como funcionam as experiências de cocriação de soluções baseadas em nuvem e em tecnologias emergentes, como Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial e blockchain. O espaço conceito foi inaugurado em novembro de 2019, pouco antes da pandemia. Com o surto de Covid-19, a Casa Oracle passou a ser digital, a partir de solução de realidade virtual, em que as pessoas entram na loja, caminham, escolhem produto, colocam no carrinho e fazem o pagamento. Toda a jornada do cliente tem ferramentas Oracle embutidas. “Geramos mais sinergia entre clientes e consumidores”, disse Maioral.

EDUCAÇÃO Não é só crescimento em receita que a Oracle Brasil está interessada, segundo o novo presidente. Na sua gestão também será fomentado o projeto ONE (Oracle Next Education), plataforma de educação e geração de emprego que forma os profissionais do futuro. O programa de seis meses oferece cursos para desenvolver hard e soft skills, com foco em programação e empreendedorismo. A meta inicial era ajudar 3 mil jovens de baixa renda a se prepararem para novas oportunidades no mercado de trabalho. Agora é de 6 mil. A Oracle oferece suporte na curadoria do conteúdo e no encaminhamento para vagas. Após o curso, os alunos têm acesso a uma plataforma em que se conectam a empresas clientes e parceiras da Oracle. “Vamos aumentar o apoio à educação e à sociedade. O desemprego é enorme e na nossa área [de tecnologia] falta mão de obra. É uma esquizofrenia que temos de ajudar a solucionar”, afirmou o executivo, novo técnico do time Oracle Brasil. O esquema de jogo está colocado.

CALL COM… ALEXANDRE MAIORAL DA ORACLE

Claudio Gatti

A Oracle se destaca pelo… dinamismo, pelo espírito de startup e pela vontade de sempre querer inovar. Nossas pessoas têm esse DNA de intraempreendedorismo muito forte que faz com que estejamos sempre buscando entregar os melhores resultados e atender cada vez melhor os nossos clientes.

Este novo desafio na carreira significa… mais uma etapa de desenvolvimento na minha vida profissional e pessoal. E entendo que estar na posição de presidente é uma responsabilidade enorme sobre pessoas: as que estão na Oracle, as que estão na empresa cliente e todas as que são indiretamente impactadas pelas nossas soluções e iniciativas, que contemplam a perspectiva ESG. Pretendo dar o meu melhor para cuidar de todas elas com os recursos que tenho em minhas mãos. Foi assim que eu sempre trabalhei durante a minha vida toda, priorizando as pessoas.

Para você, a tecnologia será disruptiva… já. Ela é o meio, não o fim. E sem as pessoas, não é nada. A tecnologia hoje já é disurptiva porque ainda não temos, como humanindade, todo o conhecimento necessário para conseguir usá-la na sua máxima potência. Ela precisa ser o meio para transformar a vida das pessoas e os negócios. Não é apenas uma questão de desenvolvimento exponencial. É saber usar o poder da tecnologia para nos ajudar a lidar com as mudanças deste momento da humanindade, em que estamos vivendo uma pandemia e vultuosas mudanças estruturais e comportamentais.

A próxima tendência será… uma liderança mais humana e preocupada com as pessoas. E a consequência de priorizar as pessoas será estabelecer relações baseadas na confiança e, com isso, aprimorar serviços e estabelecer negócios sustentáveis. Trazer as pessoas para o centro da estratégia impulsionará as próximas grandes conquistas. E do ponto de vista da tecnologia, a próxima tendência será quebrar travas mentais e mindsets para o mundo cloud.

Seu lema de vida é… cuidar de pessoas. Meu pai é psiquiatra e ele tem uma frase que eu levei para a vida: “o segredo da humanindade é a relação humana.” Parece óbvio, mas não é. Tivemos muitos avanços tecnológicos que foram muito importantes para estarmos aqui hoje. Mas a chave de tudo isso foram as relações que construímos. Se interessar e escutar alguém de forma genuína são caminhos para a realização.

As palavras que definem a pandemia são… reinventar-se, sair da zona de conforto. Essa pandemia nos fez refletir sobre muitas coisas e estamos no caminho para aprender a lidar com o diferente e inesperado, com as características deste mundo Bani (Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível). Precisamos questionar padrões e mentalidades, e colocar como prioridades questões sociais, como diversidade e inclusão, para a construção de uma sociedade mais equânime e equilibrada.

Um aprendizado que você carrega é… com minha experiência no mercado de tecnologia, um dos grandes aprendizados foi como eu consegui me conectar com as pessoas através do mundo digital. Liderar equipes digitalmente foi desafiador para todos nós. E fomos encontrando formas de conexão ainda maiores digitalmente.

A frase que definirá esta década será…“A tecnologia continuará sendo a grande catalisadora das transformações exponênciais e a consciência humana, a responsável pelo futuro que virá”. Acredito e trabalho para que este futuro seja mais sustentável, harmônico e melhor
para todos.

Como legado você pretende… transformar a vida das pessoas, ser relevante. O que me faz levantar de manhã da cama e me sentir energizado é saber que eu tenho como ajudar de alguma forma as pessoas a se desenvolverem e a buscarem a melhor versão de si mesmas. E pensando especificamente na posição em que eu estou, quero que essa cadeira esteja em um nível ainda maior do que eu recebi. Isso eu ouvi numa palestra do Bernardinho e levei como aprendizado: sempre fazer o meu melhor com o que me for oferecido para entregar a posição em outro nível.