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Criptomoeda ether, do blockchain Ethereum (Foto: Pexels)

Criptomoeda ether, do blockchain Ethereum (Foto: Pexels)

A perda de acesso a criptomoedas está se tornando algo comum no mundo, ao ponto em que, de acordo com o jornal The New York Times, bilhões de dólares apenas em Bitcoin estão perdidos para sempre devido ao esquecimento de senhas ou do acesso às contas digitais dos clientes.

No entanto, a história da família de Yuki e Art Williams é ainda mais surpreendente. Eles compraram três mil ativos da moeda digital Ethereum em 2014 em uma pré-venda ao lançamento da moeda digital. O total investido por eles durante a ocasião foi em torno de US$ 932, cuja quantia é avaliada atualmente em uma cotação equivalente a US$ 6 milhões.
Porém, os dois não têm acesso ao investimento.

Durante o processo de pré-venda ao lançamento da Ethereum, um Bitcoin estava avaliado em US$ 560, que poderia comprar 2 mil Ethereum à época. Diante dessa oportunidade, Yuki e Art Williams decidiram investir na nova moeda digital que seria lançada em breve. Eles criaram uma conta com uma senha e realizaram o processo de download para baixar o arquivo da carteira JSON. Em seguida, fizeram uma proposta de compra, tendo como referência a oferta de 1,5 Bitcoin. Então, os dois receberam em retorno 3 mil Ethereum.

A família explicou à rede WJLA, a afiliada da ABC na região de Washington D.C., a capital dos EUA, que alguma coisa deu errado durante o processo de download do arquivo JSON, que atua como uma chave privada necessária para abrir e dar acesso à carteira de criptomoedas.

"As instruções eram para deixar o computador ligado por uma hora e meia e, conforme a barra de progressão mostrasse preenchendo, o arquivo JSON apareceria. Infelizmente, para nós não apareceu", comentou Art Williams à WJLA.

A reportagem da WJLA traz, ainda, print screens para mostrar o local onde o download falhou. No caso da família Williams, eles podem ver os 3 mil em Ethereum em sua carteira, mas não podem ter acesso aos ativos porque eles não têm o arquivo JSON. Eles também alegam ter entrado em contato o Ethereum para realizar um backup no arquivo JSON, mas não receberam um e-mail em resposta.

Em 2018, a família contratou um advogado para tentar alcançar um compromisso com a Fundação Ethereum, localizada na Suíça, inclusive com a oferta de um acordo em um ponto. Contudo, ao final, a equipe legal da Fundação Ethereum alegou que a organização não tem “responsabilidade para perda de carteiras, senhas e chaves privadas”, encerrando as discussões, reportou o WJLA.

Assim, a família Williams foi até a emissora de televisão para anunciar que está realizando uma vaquinha virtual para levantar US$ 250 mil, que seriam destinados a levar o caso a uma corte de justiça internacional.

O site Mashable teve acesso aos print screens e constatou que a carteira de Yuki e Art Williams contêm 3 mil Ethereum, os quais estão sem movimentação desde 30 de julho de 2015, quando a moeda digital foi devidamente lançada no mercado, após pouco mais de um ano de sua pré-venda.

Um comentário deixado em novembro de 2017 na página de transações Etherscan parece confirmar que a conta pertence à família Williams. Um usuário com o nome "hanayukiart" escreve: “Eu comprei o Ether[eum] durante a pré-venda. Porém, o arquivo JSON nunca foi preenchido (congelou após algum tempo). Entrei em contato com o SAC para fazer backup do arquivo, mas nenhuma resposta. Qualquer dica a mais para acessar a carteira seria MUITO apreciada. Obrigado pelo seu tempo".

Além disso, o nome do usuário corresponde a uma conta do YouTube pertencente à família há mais de uma década.

Outro comentário deixado há dois meses em uma página de contrato de outra moeda digital diz: "Se tivermos que depender de Vitalik [Buterin, um dos co-fundadores da Ethereum], estamos condenados. Comprei 3000 Eth[ereum] na pré-venda e eles nunca me enviaram o arquivo JSON para que eu pudesse acessá-lo. Levei-o à Corte da Suíça e eles nunca me ajudaram. Canal 7 fará a história este mês".

Embora esteja claro que a família Williams busca essa causa há anos, há questões a serem investigadas e que não foram levantadas pela emissora de televisão de Washington D.C. De acordo com a reportagem do site Mashable, o arquivo JSON é muito pequeno e levaria apenas alguns segundos para ser baixado. A reportagem do site também lembra que a versão dada pela família para se esperar uma hora e meia para o download do arquivo não parece ser verossímil, pois, ao se analisar várias versões de pré-venda da Ethereum, não se achou menções sobre isso.

O Mashable também publicou um vídeo na reportagem exemplificando a facilidade em baixar o JSON, no qual se pode ver múltiplos avisos sobre a necessidade de se baixar o arquivo, explicando que, sem a os arquivos de carteira e senha, os ativos da Ethereum “seriam perdidos e irrecuperáveis”.

Segundo a reportagem do Mashable, outra desconfiança às alegações da família Williams está no print screen oferecido sobre a falha no download do arquivo JSON. A carteira Ethereum não existia durante o período de pré-venda. O que aparece na imagem é uma tentativa de importar um arquivo JSON para a carteira Ethereum, um processo que move os ativos da Ethereum para carteira digital. Esse processo teria ocorrido algum tempo após o download inicial JSON durante a pré-venda. O print screen também foi realizado em torno de um ano depois da pré-venda.

Há, ainda, a questão da mediação da troca entre as moedas. Durante a pré-venda, os ativos da Ethereum só poderiam ser obtidos no site da empresa através da utilização da carteira de Bitcoin, mas a matéria da rede WJLA traz Coinbase como meie troca, que não era permitido a realizar a transação à época.

Além disso, apesar de a família Williams alegar que não, eles devem ter recebido um e-mail da Ethereum durante a pré-venda sobre um backup das compras da moeda digital. Em uma postagem no site da Ethereum de 2014, Buterin escreveu: “Você deveria receber um backup de sua carteira em seu e-mail. Se você inseriu um endereço de e-mail falso e ao mesmo tempo se esqueceu de baixar sua carteira, então, infelizmente, você não tem nenhum recurso”.

Dessa forma, de acordo com a reportagem do Mashable, embora as datas corresponderem, não se sabe se houve uma falha ou, caso tenha existido, de quem seria a culpa. Um site criado por terceiros para servir de guia aos investidores em Ethereum ressalta justamente que essa criptomoeda está em desenvolvimento, assim as pessoas que o utilizam “deverão esperar problemas ao usá-lo, ou, no pior dos casos, perder o seu dinheiro”.

O Mashable entrou em contato com a família Williams, mas não obteve resposta. Já a Fundação Ethereum afirmou que não iria dar declarações públicas sobre o tema.

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