As criptomoedas têm dominado as manchetes, à medida que grandes empresários e bancos centrais se pronunciam sobre o futuro da tecnologia. Há uma enorme divisão de opiniões: muitos consideram-nas o futuro das finanças descentralizadas e dos pagamentos; outros veem-nas apenas como uma forma glorificada de jogo a dinheiro, sem lugar no mundo financeiro. Quem terá razão?

Certo é que, no momento de crise atual, as instituições financeiras não podem permitir-se ignorar o potencial das criptomoedas. Não há como negar que elas já percorreram um longo caminho desde o seu aparecimento. Aquilo que era, ao início, um instrumento de investimento especulativo transformou-se num método de pagamento convencional. As criptomoedas entraram na circulação financeira e a sua quota de mercado está a aumentar rapidamente. Espera-se que até 2026 a dimensão do seu mercado global atinja os 2,2 mil milhões de dólares, com um CAGR de 7,1%.

Tal como acontece com qualquer tecnologia emergente, ainda não vemos todo o seu potencial: os pagamentos são apenas um dos muitos aspetos que possibilitam. Soluções para pagamentos rápidos de pequenas quantias, ou empréstimos com base em garantias para obter liquidez de forma célere, começam a apresentar-se como alternativas que vão para além dos aspetos elementares das criptomoedas.

Tal não poderia ter acontecido em melhor momento: depois da pandemia, as grandes empresas de retalho estão cada vez mais determinadas a mudar para um modelo 100% sem dinheiro vivo. Os custos associados ao seu manuseamento em milhares de lojas são uma despesa que pretendem eliminar. A transição para estruturas de pagamento digitais, incluindo a adoção de criptomoedas, é um caminho que muitos vão começar a percorrer ao longo do próximo ano.

A encriptação das criptomoedas também adiciona uma importante camada extra de segurança às instituições financeiras, eliminando os riscos de falsificação. A infraestrutura digital, os protocolos e processos ajudam as instituições financeiras a manter-se protegidas contra fraudes e lavagem de dinheiro; mas a encriptação oferece um modelo mais seguro e à prova de burla.

No entanto, a maior vantagem que elas podem oferecer à cooperação internacional prende-se com a sua própria conceção: uma política monetária fixa, conhecida e predefinida, que conta com a representação de um instrumento financeiro que pode ser transferida de forma totalmente descentralizada e sem necessidade de permissões, e à qual todos os participantes internacionais podem aderir em pé de igualdade. É o único instrumento financeiro neutro que existe, onde a cooperação pode acontecer mesmo sem confiança mútua, abrindo portas a oportunidades sem precedentes para o comércio internacional.

Estando as criptomoedas inexoravelmente a ganhar terreno, se as instituições financeiras estabelecidas não encontrarem uma forma de as incorporar nas suas ofertas, outras fá-lo-ão e elas perderão o controlo. A pandemia forçou muitas organizações a encontrar formas mais eficientes de fazer negócios, pelo que as criptomoedas e a tecnologia blockchain vivem agora uma verdadeira “febre do ouro”.

O caminho mais evidente para os bancos tradicionais é criar instrumentos financeiros cada vez mais baseados em bitcoin. Poderão oferecer novos serviços de custódia ou opções de investimento adicional; podem até oferecer um sistema de crédito baseado no empréstimo garantido de bitcoin, utilizado depois para pagar numa moeda à escolha.

A maior oportunidade estará em compreender como esta nova tecnologia pode trazer um conjunto completamente novo de serviços financeiros. Tal pode comparar-se ao advento da Internet, momento em alguns procuraram tornar-se fornecedores de serviços de Internet (ISP) – no fundo, atualmente os bancos e bolsas olham para a bitcoin como os ISP outrora olhavam para o “acesso à Internet”. A História mostrou-nos, entretanto, que os novos modelos de negócio alicerçados na Internet foram os vencedores. Da mesma forma, quando dispusermos dos novos serviços habilitados pelas criptomoedas, vamos certamente perguntar-nos como conseguíamos viver sem eles.

As criptomoedas não são uma moda passageira. De forma silenciosa, mas segura, estão a ganhar terreno em pagamentos e transações, enquanto a sua tecnologia subjacente inspira mudanças colossais nas políticas monetárias. O seu impacto terá ramificações muito para além dos pagamentos – e quem for, desde já, pioneiro na exploração do seu potencial terá a possibilidade de se tornar num dos principais líderes de um novo mundo comercial.