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Exclusivo: “Criamos uma Brisanet em número de usuários a cada semestre”, diz CEO da Oi

04 out 2021, 7:32 - atualizado em 11 abr 2022, 21:05
Rodrigo Abreu
Segundo o CEO da Oi, Rodrigo Abreu, que conversou com exclusividade com o Money Times, a tele mudou da água para o vinho nos últimos anos e está pronta para voltar ao crescimento (Imagem: Divulgação/Oi)

A Oi (OIBR3;OIBR4) é uma das empresas mais badaladas da Bolsa, por maus e por bons motivos. Alguns a consideram uma furada, visto o desempenho dos últimos anos. Mesmo após anunciar seu plano de reestruturação, com foco em fibra óptica, os papéis ainda não engataram: desde 2016, quando entrou com o pedido de recuperação judicial, aprovado em 2018, as ações derreteram 40%. Só neste ano, a queda supera os 42%. 

O histórico da Oi nos últimos anos mostra uma enorme volatilidade dos papéis, que ainda não engrenaram

Porém, outros tantos veem a empresa descontada, visto o potencial de geração de valor com a sua nova empresa de fibra óptica, a V.tal, em parceria com um fundo do BTG (BPAC11). 

Com a quarta maior rede móvel do Brasil e com o declínio da telefonia fixa, a empresa viu que o melhor era focar na fibra óptica. “O grande diferencial da empresa é sua infraestrutura de fibra óptica. Nenhuma outra operadora tem a infraestrutura que a gente tem”, afirma o CEO da Oi, Rodrigo Abreu, que conversou com exclusividade com o Money Times.

Mas ela não está sozinha nesse jogo. Só nos últimos quatro meses, três empresas provedoras de internet e fibra óptica chegaram à BolsaBrisanet (BRIT3), Unifique (FIQE3) e Desktop (DESK3). 

Suas concorrentes diretas, Vivo (VIVT3) e Tim (TIMS3), também vêm apresentando resultados interessantes em relação ao FTTH (fibra para o lar), com ambas criando suas próprias subsidiárias.

Porém, Abreu pontua que há espaço para todas as empresas e que, nessa corrida, a Oi já sai na frente. 

“A soma de todos esses IPOs é menor que o investimento de um ano de fibra da Oi até agora. É preciso entender as proporções dos nossos investimentos. A cada trimestre, nós conectamos mais de 300 mil clientes novos. Quando você olha para o maior ISP (segundo dados da Anatel, a Brisanet) do Brasil ele tem hoje 700 mil usuários. Então, em dois trimestres nós criamos o maior ISP (Provedor de Serviço Internet, em português) do Brasil”, observa.

Segundo ele, a tele mudou da água para o vinho e está preparada para voltar ao crescimento. Abreu chegou à operadora em 2018, ainda como membro do conselho de administração, e assumiu a presidência em 2020. Veja os principais trechos da entrevista.

Money Times: Qual cenário para a Oi você traça para os próximos anos?

Rodrigo Abreu: A Oi, com o foco em fibra óptica, está dando um passo audacioso, mas vimos esse passo funcionar em outros países. Esse foco da nova Oi permite que ela volte a ter uma perspectiva de crescimento. Ela começa uma nova vida, com uma receita da ordem de R$ 9 bilhões, mas que tem um potencial de crescer para um patamar de R$ 15 bilhões até o final de 2024. É a volta ao crescimento.

Vai ser uma companhia sustentável, que vai gerar caixa novamente. A Oi passa então a ter dois grandes pilares: a Nova Oi, focada em clientes, com baixíssimo investimento de capital. E a de infraestrutura, a V.tal, no qual somos sócios grandes.

Olhando para o futuro, esperamos continuar a crescer muito na fibra residencial, na fibra empresarial e corporativa. Começamos com uma dezena de milhares de usuários e vamos terminar esse ano com quase 4 milhões de usuários. Temos a intenção de nos tornarmos líder de fibra no Brasil.

A ideia é chegar a 9 milhões de usuários e com isso puxar a receita. A Oi também pretende explorar todas as áreas de receitas adjacentes ligadas à fibra. É o que chamamos de  além da conectividade. Isso envolve serviços de conteúdo, marketplace, serviços com parceiros de educação, de saúde, de serviços financeiros, de logística e de atendimento ao cliente.

Nós temos no grupo empresas que nos ajudam a fazer isso, como a Serede com 20 mil técnicos espalhados pelo Brasil.  Com isso, criamos uma rede de receitas que pode corresponder a 10% da receita total daqui a três anos.

Também temos planos para diminuição de custos e aumento de eficiência, como a redução de tamanho. E por fim, queremos resolver a concessão de telefonia fixa, que ainda tem muitas obrigações e custos que já não fazem sentido. Possuímos obrigação de investir quase R$ 200 milhões em orelhão. E a receita de orelhão é literalmente zero.

Oi OIBR3
“A ideia de qualquer empresa é ter a geração de dividendos, mas no nosso caso a geração está um pouco no futuro”, aponta o CEO

MT: Quando a Oi voltará a pagar dividendos aos acionistas?

Rodrigo Abreu: Quando olhamos para a V.tal, ela terá a característica de ser uma grande geradora de dividendos no futuro, porque é uma empresa de infraestrutura que gera um Ebitda muito alto. A ideia de qualquer empresa é ter geração de dividendos, mas, no nosso caso, a geração está um pouco no futuro. Ainda para pós-2024.

Até lá, estamos reequacionando a estrutura de capital. Não faria sentido pensar em geração de dividendos antes disso. No entanto, a Oi vai se beneficiar da distribuição da sua subsidiária e da monetização da nossa participação na V.tal.

Porque, além de todo o potencial de geração de dividendos, e até por causa disso, a V.tal terá a possibilidade de abrir capital (IPO) dentro de um período de curto e médio prazo com um potencial de valorização da nossa participação muito alto, porque é uma empresa que possui todas as características para isso. É uma companhia que tem previsibilidade futura.

A fibra não vai desaparecer, muito pelo contrário, ela será cada vez mais necessária ao longo das próximas décadas. A V.tal tem estabilidade de contratos, com contratos de longo prazo. E terá crescimento, porque a demanda pela fibra será muito grande.

Como ela é uma rede neutra, tem um potencial de utilização e monetização desses ativos muito maior. Possui todas as características para ser uma empresa com múltiplos atraentes, com boa geração de dividendos.

Com isso, pegamos carona nesse crescimento para monetizar a nossa própria participação acionária. Só a nossa participação na V.tal é bem maior que o nosso market cap (valor de mercado).

E quando olhamos para a participação futura, essa participação é maior do que a dívida e o market cap somados. Dentro de alguns anos, a Oi passa a ser uma empresa com R$ 15 bilhões de receitas, com uma capacidade de geração de Ebitda interessante para uma empresa puramente de serviços.

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“Se olhar só para a operação, sem considerar a participação acionária na Vital, você está desconsiderando o maior ativo da companhia”, afirma o CEO (Imagem: Money Times/ Gustavo Kahil)

MT: Logo após a Oi apresentar o seu plano de negócios até 2024, as ações da empresa tombaram cerca de 20%. Os investidores avaliaram que a alavancagem financeira veio bem acima do esperado, ou seja, que a empresa iria consumir mais caixa do que o imaginado. Você acha que a preocupação faz sentido?

Rodrigo Abreu: Talvez a grande diferença de interpretação do caso se dê porque, se você olhar só a equação da Nova Oi, sem considerar a empresa de infraestrutura, é óbvio que seria uma preocupação.

A nossa intenção é que a alavancagem da empresa esteja abaixo de 3x em 2024 justamente pela possibilidade de monetização da participação na V.tal, que certamente tem o potencial de contribuir em valorização para a Oi algo superior a R$ 9 bilhões comparada a nossa participação de partida.

E dessa forma nós conseguiríamos, via essa monetização, ou reduzir essa dívida ou até mesmo eliminá-la completamente até 2024. A nossa intenção divulgada no plano é trazer uma companhia que possa ter uma alavancagem entre 2x e 3x em 2024.

Essa monetização se dá, porque não faria sentido vender integralmente a V.tal, mesmo que isso nos possibilitasse ter uma alavancagem menor no início do período, porque nós estaríamos abrindo mão de R$ 8 a R$ 10 bilhões ao longo dos três a quatro anos. Isso não faz sentido, mesmo tendo que suportar uma alavancagem mais alta.

Essa, talvez, tem sido a grande questão que os investidores que possuem uma visão superficial da empresa precisam entender. Se olhar só para a operação, sem considerar a participação acionária na V.tal, você está desconsiderando o maior ativo da companhia. 

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“A soma de todos esses IPOs é menor que o investimento de um ano de fibra da Oi até agora. É preciso entender as proporções dos nossos investimentos”, diz

MT: Nos últimos meses, três novas empresas de fibra óptica estrearam na Bolsa, sendo que uma outra entrou com pedido para abrir capital. Como você avalia a chegada desses players?

Rodrigo Abreu: É óbvio que sabemos que a competição existe e vai continuar existindo. Porém, há espaço para vários competidores nesse mercado, até porque ele vai se tornar muito grande.

Ele tem um ritmo de crescimento incrível hoje e, se nós olharmos para o que vai acontecer nos próximos três a quatro anos, certamente o crescimento da fibra vai fazer com que a maioria das conexões de banda larga de velocidade alta no Brasil sejam conexões de fibra.

Então existe um espaço de crescimento grande, que vai ser ocupado por nós e também pelos operadores regionais, os ISPs (Provedor de Serviço Internet, em português). Não é uma questão de quem é que vai ganhar porque não vai existir monopólio de fibra no país.

Mas, com o nosso modelo, temos vantagem de ser uma das únicas empresas que atua de fato no Brasil inteiro, com um nível de escala grande, com vantagens competitivas e com crescimento que nos permite ocupar a posição de liderança de fibra no país ao longo dos próximos três anos. 

Até 2024, queremos ser a empresa líder em fibra residencial no país. Se você somar os usuários de todos os ISPs certamente a posição deles será competitiva. Mas vamos lembrar que são várias empresas e não uma só. Nós temos visto que os investimentos em ISPs são saudáveis.

Porém, a soma de todos esses IPOs é menor que o investimento de um ano de fibra da Oi até agora. É preciso entender as proporções dos nossos investimentos. A cada trimestre, nós conectamos mais de 300 mil clientes novos. Quando você olha para o maior ISP do Brasil ele tem hoje 700 mil usuários.

Dessa forma, em dois trimestres nós criamos o maior ISP do Brasil. Quando olhamos para os cinco maiores ISPs, a cada trimestre criaríamos um top 5 de ISP do Brasil. Na prática, temos uma ordem de magnitude que nos ajuda muito nessa competição. 

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“O Cade declarou que isso não significa nenhum julgamento de valor. Essa é uma classificação técnica do Cade. Pura e simplesmente”, responde o CEO (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

MT: Em julho, o Cade declarou que a venda das operações móveis da Oi era um processo complexo. Isso preocupa?

Rodrigo Abreu: Isso é um não evento. É óbvio que a operação seria considerada complexa. O Cade declarou que isso não significa nenhum julgamento de valor. Essa é uma classificação técnica do Cade. Pura e simplesmente.

O Cade possui três tipos de operações: rito sumário, que é quando não existe nenhuma concentração competitiva, rito ordinário, onde você tem que fazer verificações básicas, e o rito complexo, que é quando existe grande concentração de mercado. O rito complexo é uma classificação técnica.

Nós já sabíamos desde sempre que essa seria considerada uma operação complexa. Significa que você define um prazo máximo, que no nosso caso vai até o final de novembro, para a análise da operação e que ela precisa passar pelo conjunto de diligências de fornecimento de informações.

Para mim, a maior desinformação de notícia que foi feita sobre o processo de recuperação da Oi foi essa divulgação. Estamos acompanhando esse processo, fornecendo todas as informações necessárias. Esperamos que o processo esteja finalizado até o final do ano. 

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“Pela as altas velocidades, precisa ser fibra. E aí entra o principal benefício para a Oi de todo o processo de licitação e criação do crescimento do 5G”, aponta (Imagem: REUTERS/Albert Gea/File Photo)

MT: Como a Oi vê o processo de 5G aqui no Brasil?

Rodrigo Abreu: O 5G é uma ruptura. Eu diria que temos uma combinação de duas tecnologias que fazem com que isso seja possível: é a fibra mais o 5G. O 5G não existe sem a infraestrutura de fibra.

Pela as altas velocidades, precisa ser fibra. E aí entra o principal benefício para a Oi de todo o processo de licitação e criação do crescimento do 5G. A V.tal será um grande player de provimento de fibra para as operadoras que vão atuar no 5G. Então isso foi desenhado desde um primeiro momento do plano.

Existem outras duas possibilidades que estão sendo avaliadas: a primeira, que depende de uma análise de edital, é a possibilidade do uso das frequências de 26 gigas, que são as mais altas, para prestação de serviços fixos.

Ele tem um custo bastante alto de licença, então está sendo feito uma análise para entender se faz sentido entrar nesse mercado, ou como Oi ou como V.tal. E a outra oportunidade são as redes privadas: grandes corporações, mineração e agronegócio começam a investir nessas redes privadas de comunicação.

Isso já ocorre no 4G e vai acontecer no 5G. Essas operações não dependem de frequência pública. A Oi Soluções já está participando desses processos. Fechamos um contrato público, com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, onde vamos operar uma rede privada de 4G para o estado dar suporte a toda a infraestrutura desse serviço.

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“Para que os investidores possam tomar decisões mais fundamentadas é necessário conhecer o caso com um pouco mais de detalhe”, diz (Imagem: Divulgação/Oi)

MT: Mesmo com a aprovação da nova Oi, as ações patinam 40% no ano. Que mensagem você deixa para os investidores e para quem quer investir na Oi?

Rodrigo Abreu: A mensagem que eu gosto de deixar é que obviamente o time da companhia, seja a gestão ou o conselho, acreditam no plano. É um plano de médio e longo prazo, não é um plano de curto prazo. Não adianta imaginar que o investimento na Oi é um investimento que no próximo trimestre eu tenho uma possibilidade de mudança gigantesca e vou ter um retorno de curtíssimo prazo.

Não é essa a nossa visão de planejamento, principalmente em relação ao investimento em infraestrutura e telecom, que são investimentos em longo prazo.  Sabemos que existe um nível de volatilidade que vem em função dessa presença de pessoas físicas tentando trabalhar com eventos. Aprova ou não aprova, vende ou não vende, cresce ou não cresce.

Acreditamos que essas flutuações são naturais de operação de qualquer tipo de ação, mas no nosso caso se exacerba pela liquidez que a ação tem, uma mais das líquidas da Bolsa. Para que os investidores possam tomar decisões mais fundamentadas é necessário conhecer o caso com um pouco mais de detalhe. Não é um caso simples, tem vários componentes.

Envolve o crescimento da Nova Oi, a solução da concessão, o crescimento da V.tal e o potencial IPO futuro, que envolve o crescimento da fibra. É a maior transformação corporativa da história do país até agora.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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