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Automóveis e ‘smartphones’ cortam produção por falta de semicondutores

Fábricas paradas, ‘stands’ vazios e clientes sem carro e dinheiro. Esta é a situação atual do mercado automóvel e de ‘smartphones’, que viram a produção cair consideravelmente em 2021. Segundo a consultora Alix Partners, ficam por fabricar mais de 7,7 milhões de veículos em todo o mundo.
22 Outubro 2021, 18h10

A escassez de semicondutores, os famosos chips, têm afetado a produção da indústria automóvel. Com a falta destes chips a fazer desesperar um sector já fragilizado pela pandemia, as marcas automóveis têm diminuído a capacidade produtiva para 2021, admitindo que vão continuar a ser fortemente afetados.

A mais recente marca a adaptar os seus resultados de produção foi a Renault. A fabricante francesa assumir cortar a sua produção em 500 mil veículos até ao fim do ano, mais do dobro da previsão anterior.

Ainda que as marcas acreditem numa melhoria no último trimestre do ano, continuam a estimar que a falta de material se prolongue até 2022, voltando a afetar as perspetivas que têm para o novo ano fiscal. Embora assumam uma ligeira melhoria em termos de produção, as marcas, nomeadamente a Renault, adianta que os preços dos materiais têm aumentado nos últimos tempos, o que os tem levado a subir os preços finais.

A quebra perspetivada agora pela Renault representa 13% do total de 3,75 milhões de veículos vendidos em 2019.

A Mitsubishi foi uma das primeiras a avançar com cortes na produção devido à falta de semicondutores. Perto da fonte asiática de chips, a fabricante optou por cancelar a produção de mais de 20 mil veículos no início do ano

Também a Toyota tinha anunciado, no passado mês de agosto, que ia avançar com um corte de 40% na sua produção global automóvel em setembro, tendo voltado a comunicar um corte de 15% para novembro. Ou seja, em dois meses cortou a sua produção por duas vezes, não lançando carros suficientes para o mercado devido à falta de chips.

Na altura do salão automóvel de Munique, no início de setembro, as grandes marcas alemãs tinham alertado para uma extensa crise no sector que, provavelmente, duraria até 2023. Na fábrica de Rastatt, a Mercedez-Benz parou a produção devido à escassez do produto.

No entanto, a produção parada não implica apenas que os trabalhadores vão para casa. A falta de fornecimento implica que os clientes têm de esperar vários meses pela entrega de veículos que já tiveram de pagar. Apesar do volume de encomendas estar em constante crescimento, a fabricante não consegue produzir em número suficiente, o que em muitos casos pode significar um tempo de espera superior a um ano.

A BMW não cortou as suas previsões de produção, mas anunciou que aumentava as perspetivas de lucro. A marca alemã de desportivos fez novas contas e apontou que as receitas iam rondar os 9,5% a 10,5% em vendas, sendo este um movimento de aumento de preços dos veículos para compensar a falta de produção do último ano.

No início do mês foi também conhecido que a falta de semicondutores bloqueou a fábrica alemã da Opel até ao próximo ano. Na fábrica de Eisenach, foram mandados para casa 1.300 colabores até 2022, dado que a produção foi totalmente suspensa devido à falta de componentes de produção e montagem.

A Stellantis apontou que as suas marcas (Citröen, Fiat, Opel, Peugeot e Vauxhall) vão produzir menos 1,4 milhões de veículos devido à falta de chips. Devido à falta de semicondutores, várias fábricas do grupo foram forçadas a paralisar temporariamente a atividade em algumas localizações na Europa e Canadá.

A Audi – também alemã – perspetiva que o segundo semestre seja verdadeiramente mais fraco que a primeira metade do ano. O CEO da Audi admitiu que a marca foi obrigada a aumentar os preços dos seus carros para combater as fracas vendas que aconteceram, impulsionando as margens de lucro. De relembrar que foi a subida dos preços que fez com que a Audi fosse a fabricante que mais contribuiu para os lucros da Volkswagen.

Esta falta de chips no mercado produtor fez com que as marcas tomassem decisões drásticas, entre as quais se insere o aumento do preço de venda para o consumidor. Ainda assim, outra medida foi que apostassem nos modelos mais vendidos, deixando de lado novos lançamentos e veículos mais potentes. Neste contexto, as empresas tiveram de analisar quais os modelos automóveis mais vendidos no mercado, optando por se focar nestes e atrasando as outras produções o máximo de tempo possível.

Smartphones também são alvo de atrasos

A falta de produção de semicondutores também tem afetado o lançamento de smartphones, computadores e tablets. Apesar de um ligeiro aumento nas vendas no segundo trimestre de 2021, a instabilidade em termos de produção manteve-se o mercado dos aparelhos móveis em sobressalto.

A Apple foi uma das empresas de smartphones que continuou a lançar novidades para o mercado durante a pandemia, mas nem todas as previsões de produção se mantiveram. Fontes da empresa disseram à “Bloomberg” que cerca de dez milhões de unidades do novo iPhone 13, cujo lançamento ocorreu em setembro, ficassem por produzir, afetando as contas finais.

A empresa tinha perspetivas de lançar 90 milhões de unidades do mais recente smartphone para o mercado, mas a contagem foi revista em baixa devido à falta de componentes. Em julho, a empresa de Tim Cook já tinha previsto a desaceleração do crescimento da sua receita devido à escassez de semicondutores.

Um estudo da Canalys, divulgado esta semana, estima que a venda global de smartphones apresente uma quebra de 6% no quarto trimestre do ano, impactando as contas finais das empresas. Embora que as empresas estejam a fazer os possíveis para manter os consumidores satisfeitos, a falta de chips tem afetado fortemente a produção dos aparelhos numa altura em que a procura se mantem elevada.

Fatura em 2021 é pesada

A crise dos chips, que tem penalizado vários sectores, vai apresentar uma fatura de 210 mil milhões de dólares (180 mil milhões de euros) em 2021 devido às pesadas reduções de vendas ao longo do ano. Os dados foram avançados pela consultora Alix Partners, sendo este valor apenas enfrentado pela indústria automóvel.

Para a consultora, ficam por fabricar mais de 7,7 milhões de veículos em todo o mundo, uma fatura pesada para os construtoras de carros. Esta previsão divulgada em setembro piora significativamente o cenário face aos dados de maio. No quinto mês do ano perspetivava-se um custo de 110 mil milhões de dólares e menos 3,9 milhões de veículos por produzir. Assim, trata-se de um prejuízo de 97% na produção e de 90% nos lucros quando comparada a atualização dos valores.

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