Erdogan reafirma política de juros baixos e lira turca acentua queda livre

Os mercados continuam a penalizar a divisa turca num cenário em que, com a taxa de inflação perto de 20%, o banco central continua a apostar numa estratégia de redução das taxas de juro

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EPA/SEDAT SUNA

Ao seu já longo historial de constante interferência no trabalho do banco central, Recep Tayyip Erdogan juntou esta semana mais um discurso de defesa da estratégia agressiva de cortes nas taxas de juro que está a ser seguida pelo país. O resultado foi, esta terça-feira, mais uma queda de 15% no valor da lira turca face ao dólar, afundando a divisa para o nível mais baixo da sua história e acentuando o risco de uma crise financeira grave no país.

Ao início da tarde desta terça-feira, de acordo com a Reuters, passaram a ser necessárias 13,45 liras turcas para conseguir trocar, no mercado cambial, um dólar. Isto é, cada lira turca passou a valer pouco mais de 0,074 dólares, o seu novo mínimo histórico.

É a consequência de uma tendência já longa de depreciação da moeda, que vai agora no seu 11º dia consecutivo de quedas. Desde o início do ano, a lira turca perdeu 45% do seu valor face ao dólar e só esta terça-feira a queda foi de 15%, a segunda maior perda diária de sempre.

O resultado tão negativo desta terça-feira – mesmo para uma moeda já com um passado repleto de episódios de instabilidade e volatilidade – tem como causa próxima declarações que o presidente da Turquia fez no dia anterior sobre o futuro da política monetária. 

Contrariando as notícias que davam conta da possibilidade de uma inversão de política, Tayyp Erdogan voltou a defender o corte acentuado das taxas de juro que tem vindo a ser realizado pelo banco central, com o objectivo de fazer crescer de forma rápido as exportações, o investimento e o emprego. Erdogan, tal como o actual governador do banco central, Sahap Kavcioglu, têm vindo a defender a ideia que, para baixar a taxa de inflação se encontra neste momento na casa dos 20%, o que o país precisa de fazer é, em vez da habitual receita de subida de taxas de juro, precisamente o inverso. É uma estratégia que, não só vai contra aquilo que normalmente é recomendado pelos economistas, como tem vindo a ser recebida pelos mercados com enorme desconfiança, estando a conduzir a uma fuga generalizada dos investidores da sua exposição à divisa turca.

Erdogan, na segunda-feira, no final de uma reunião do seu executivo que se esperava poder ser de mudança de rumo, voltou a dizer que rejeita “políticas que irão contrair o país, enfraquecê-lo, condenar a população ao desemprego, fome e pobreza”. Perante este sinal de que não haverá uma inversão de estratégia por parte do banco central, os mercados voltaram a penalizar a divisa.

A estratégia de taxas de juro baixas defendida por Erdogan tem vindo a ser imposta pelo presidente ao banco central através da nomeação de governadores que apostem também nessa política, sendo demitidos sucessivamente os responsáveis que defendem uma estratégia mais ortodoxa. O último a ser retirado do seu posto foi o vice-governador Semih Tumen, que, esta terça-feira, na sua conta do Twitter, atacou o rumo que está a ser seguido pela Turquia na sua política monetária: “Esta experiência irracional sem qualquer hipótese de sucesso tem de ser abandonada imediatamente e precisamos de voltar às políticas de qualidade que protegem o valor da lira turca e a prosperidade da população”.

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