Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Alto custo e cobrança de sustentabilidade vão delinear agronegócio de 2022

Preços externos, demanda e exportações, no entanto, devem manter bom desempenho no período, segundo a CNA

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O próximo ano será um período de custos elevados, margens mais apertadas e cobranças externas por sustentabilidade, mas ainda com preços bons e aumento de exportações do agronegócio.

Esse é um cenário básico projetado pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) nesta quarta-feira (8), ao avaliar o desempenho do setor em 2021 e traçar perspectivas para 2022

Seguramente os custos vão ser um grande gargalo para os produtores, principalmente durante a safrinha.

A relação de troca de insumos por produtos está bem pior, devido ao aumento dos preços dos fertilizantes e dos defensivos, segundo Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA.

Essa situação econômica prejudica ainda mais o produtor voltado para o mercado interno, e que não exporta. Ele produz com os custos elevados dos insumos, já vindos do mercado internacional, e da pressão dólar nas importações, o que encarece ainda mais sua atividade.

O Brasil vai ter de conviver com os custos de logística, de energia, crises geopolíticas, barreiras de alguns países e os custos do dólar elevado.

Lucchi diz que os preços dos insumos vão continuar elevados até o segundo semestre, mas o risco de faltar produto é baixo.

O principal mercado para a agropecuária brasileira ainda é o interno, segundo o diretor da CNA. Os números macroeconômicos do próximo ano, no entanto, ainda mostram preocupação em alguns indicadores. A Selic deverá ser de 11,25% ao ano e a taxa de desemprego estará em 11,7%.

A projeção do PIB nacional indica pouca expansão, apenas 0,5%, e, além disso, será um ano de eleições, o que torna a economia mais incerta.

Sobre as eleições, o presidente da CNA, João Martins, diz que a entidade não faz política partidária, mas política classista. Aponta para todos os candidatos as deficiências do setor e as necessidades de correções de rumo para que o agronegócio se torne mais competitivo.

Martins ressalta, no entanto, que cada um tem a sua preferência política e que o setor esteve próximo desse governo, mas pelo Ministério da Agricultura.

Lucchi destaca, ainda, outros pontos de atenção para o agronegócio: oscilação do dólar, dificuldades na retomada do consumo interno e novas variantes da Covid.

Na área internacional, o setor foi bem neste ano, atingindo a marca recorde US$ 111 bilhões exportados de janeiro a novembro. O bom desempenho poderá continuar no próximo ano, segundo Lígia Dutra, diretora de Relações Internacionais da CNA.

A demanda externa é boa, e as perspectivas de exportações são positivas, segundo ela. O país precisa, porém, buscar novos mercados e aumentar a diversificação dos produtos. As exportações de frutas, que devem atingir US$ 1 bilhão neste ano, é um exemplo.

Com relação às carnes, uma das principais preocupações atuais do agronegócio, devido à interrupção de compras pela China, Dutra diz que sempre podem ocorrer problemas com quem está no mercado.

O importante é buscar novos parceiros, e ela cita a grande expansão do setor nas exportações para os Estados Unidos e para o Chile.

Sobre a necessidade de diversificação de mercados, é preciso avançar na agenda para a Ásia e para outros países, como a Rússia, grande importadora de carnes do Brasil no passado, e que está de volta.

Apesar deste momento, a diretora da CNA destaca o potencial das exportações de carne para a China, que tem uma população com um consumo cada vez maior de proteína animal.

O Brasil não pode ficar, no entanto, apenas nos produtos de grandes volumes, como soja e carne, mas necessita conhecer melhor os mercados de atuação e explorar novos nichos. É o caso dos aumentos das exportações de mel, feijão e gergelim que ocorreram neste ano.

Pessoas com macacão branco em linha de produção de frigorífico
Linha de produção de frigorífico da Seara, em Lapa (PR) - Pedro Ladeira-21.mar.2017/Folhapress

Um ponto que dificulta o país é a inserção no mercado mundial. O Brasil tem apenas 1% do comércio mundial, o que significa que a movimentação de navios por aqui é pequena. Já no agronegócio, a participação é de 7%.

A diretora da CNA alerta que a discussão ambiental vai entrar cada vez mais no comércio mundial. Antes era uma questão da União Europeia, mas agora outros países já adotam postura semelhante à dos europeus.

O que o país precisa verificar é o que realmente são exigências de sustentabilidade e o que são meras barreiras comerciais, afirma ela.

Segundo o presidente da entidade, a CNA defende as questões de sustentabilidade, mas não os produtores que agem na ilegalidade. Estes são casos de polícia.

Até novembro deste ano, os cinco principais importadores do Brasil geraram 62% das receitas obtidas pelo país. China, na liderança, importou o equivalente a US$ 38,9 bilhões, com aumento de 19,8% no período.

Para o próximo ano, a CNA prevê o PIB do agronegócio entre 3% e 5% e o da agropecuária em 2,4%. O seguro rural, que o setor espera que atinja R$ 1,3 bilhão em 2021, deverá ficar em pelo menos R$ 990 milhões em 2022.

Já o VBP (Valor Bruto da Produção) terá um crescimento de 4,2%, abaixo da evolução dos anos anteriores, e ficará em R$ 1,25 trilhão.

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