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Itaú, Raia Drogasil e Lojas Renner estão em carteira de gestora global nórdica referência em ESG

Para Eric Pedersen, excluir do portfólio companhias sem compromissos sociais e ambientais claros serve para enviar uma mensagem ao mercado

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São Paulo

Com cerca de 393 bilhões de euros (R$ 2,5 trilhões) em ativos sob gestão, a escandinava Nordea Asset Management é uma das referências globais em investimentos sob a ótica ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança).

Em 2020, a gestora virou notícia ao sacar da carteira ações do frigorífico JBS por não enxergar a melhoria vista como necessária em termos de governança ambiental. Após o episódio, a empresa disse seguir "rigorosa política de controle de compra de matéria-prima".

"Devemos deixar claro que nossa paciência tem limites e que a exclusão é, em alguns casos, necessária para enviar uma mensagem clara às empresas que estão atrasadas nesse processo", diz Eric Pedersen, diretor da área de investimentos responsáveis da Nordea Asset Management.

Eric Pedersen
Eric Pedersen, diretor de investimentos responsáveis da gestora Nordea Asset Management - Divulgação

Ele aponta Itaú Unibanco, BR Properties, Lojas Renner, Hapvida e Raia Drogasil entre as empresas brasileiras que avalia com as melhores práticas ESG no mercado local.

"Investimos em empresas que ajudam a acelerar a transição para uma energia limpa e a eliminação de combustíveis fósseis, e desinvestimos de empresas que estão retardando essa transição."

Como a Nordea Asset Management tem acompanhado o processo de transição energética em curso na economia global? Os custos de mitigação envolvidos na prevenção de novos aumentos de temperatura provavelmente afetarão adversamente os retornos dos ativos até pelo menos meados do século. De modo geral, as economias emergentes parecem ser as mais afetadas pelas mudanças climáticas.

Por outro lado, existem oportunidades de investimento substanciais na própria transição climática, onde a China é um dos maiores mercados potenciais.

Segundo um estudo da Nordea, enquanto as temperaturas globais forem mantidas em cerca de dois graus Celsius acima do nível pré-industrial, os países europeus, e os nórdicos em particular, parecem ser os menos afetados, em termos relativos.

Esse resultado é uma combinação de vários fatores —a temperatura média atual é suficientemente baixa, de forma que um aumento moderado, na verdade, elevaria a produtividade. Isso se deve em parte à gama de condições em que os próprios seres humanos são mais produtivos, mas também porque a maioria das economias europeias depende menos diretamente do capital natural que pode ser destruído em consequência das mudanças climáticas do que, por exemplo, um país como o Brasil.

Quais as melhores maneiras de os investidores se posicionarem para aproveitar ao máximo o processo de transição energética? Os investidores devem olhar para as empresas que têm buscado alinhar sua trajetória com as metas de redução de carbono do Acordo de Paris, empresas que começaram a investir na construção de soluções e processos para uma economia mais verde.

A política de investimento responsável da Nordea Asset Management determina nosso compromisso de termos um portfólio alinhado com as metas do Acordo de Paris, o que significa que as estratégias de investimento devem ser consistentes com a limitação do aquecimento global a menos de dois graus Celsius. E a medida mais importante que podemos tomar para limitar o aquecimento global é reduzir as emissões de combustíveis fósseis.

Por isso investimos em empresas que ajudam a acelerar a transição para energia limpa e a eliminação de combustíveis fósseis, e desinvestiremos de empresas que estão retardando essa transição. Sentimos a responsabilidade de alinhar nossos portfólios com o Acordo de Paris, apoiando uma transição real com nossos investimentos.

Devemos deixar claro que nossa paciência tem limites —e que a exclusão é, em alguns casos, necessária para enviar uma mensagem clara às empresas que estão atrasadas nesse processo.

Como funciona o trabalho de engajamento da área de investimento responsável da Nordea Asset Management com as empresas investidas nas carteiras? Acreditamos que a melhoria da gestão de riscos é vital para gerar retorno com responsabilidade e que o engajamento pode resultar em vantagem competitiva, aumentando a probabilidade de sucesso das empresas no longo prazo, beneficiando empresas, clientes e a sociedade em geral.

O envolvimento com nossas empresas investidas nos permite abordar riscos e oportunidades de sustentabilidade relevantes. O diálogo nos permite expor nossas expectativas sobre o comportamento empresarial e apoiar as empresas na melhoria de seu desempenho em sustentabilidade.

O sr. pode citar alguns exemplos de empresas em que a Nordea Asset Management promoveu o trabalho de engajamento de maneira bem-sucedida? A Samsung SDI é um exemplo. A empresa é especializada em tecnologia de íon de lítio, produzindo baterias recarregáveis para produtos como telefones celulares, painéis solares e veículos elétricos. O cobalto é uma matéria-prima fundamental para o negócio.

No entanto, 70% do suprimento global de cobalto é proveniente da RDC (República Democrática do Congo), onde a mineração geralmente não é regulamentada —ou até mesmo ilegal—, com diversos relatos de abusos dos direitos humanos, incluindo trabalho infantil.

Solicitamos à Samsung SDI que garantisse que seu suprimento de cobalto fosse de origem sustentável certificada. Após uma visita de campo à Coreia do Sul, em 2017, pedimos à empresa que fizesse uma auditoria, de modo a aumentar a transparência de sua cadeia de fornecimento.

Como resposta, a Samsung SDI criou uma ferramenta de gerenciamento de risco e começou a auditar sua cadeia de suprimentos. A empresa tomou medidas para garantir uma linha de fornecimento com total transparência, mas também está trabalhando com pares do setor para resolver o problema em nível governamental.

Além de continuar a trabalhar em torno da transparência da cadeia de abastecimento, encomendamos um relatório que deverá ser publicado no próximo ano, revisando os riscos ESG na indústria de mineração de cobalto na RDC.

Há também o caso da Xcel Energy, empresa que fornece eletricidade e gás natural para clientes de varejo nos Estados Unidos. Antes do início do nosso engajamento, a companhia baseava 60% de sua geração de eletricidade em carvão e outros combustíveis fósseis.

Trabalhamos para que a empresa se alinhasse às metas estabelecidas pela iniciativa Climate Action 100+, que visa garantir que os maiores emissores corporativos de gases de efeito estufa tomem as medidas necessárias para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Poucos meses após o início do engajamento, a Xcel se tornou a primeira do setor a se comprometer com o fornecimento de eletricidade 100% livre de emissões até 2050. Também se comprometeu a uma redução de 80% nas emissões associadas à eletricidade até 2030.

Embora a empresa ainda não tenha um plano detalhado para atingir suas metas após 2030, as metas de 2050 estão estabelecidas. O diálogo contínuo com a companhia está atualmente focado nos esforços no período de 2020 a 2030 e nas possibilidades concretas de realizar fechamentos mais cedo do que o planejado de usinas movidas a carvão, com adição de maior capacidade renovável.

Quais empresas brasileiras se destacam no ranking ESG da Nordea? Posso mencionar as cinco empresas brasileiras que atualmente detemos em nossa estratégia de ações "Emerging Stars ESG": Itaú Unibanco, BR Properties, Lojas Renner, Hapvida e Raia Drogasil. Para entrar nessa seleção, fazemos uma análise completa dos aspectos ESG, como informações a respeito de suas práticas comerciais e controvérsias.

A Lojas Renner, por exemplo, tem fortes práticas de governança ao longo de toda sua cadeia de suprimentos, com um código de conduta que precisa ser seguido pelos fornecedores. A política da Raia Drogasil de contratar pessoas da comunidade local, contribuindo dessa maneira com o desenvolvimento da região, também é uma ação que avaliamos de forma positiva.

Varejista Lojas Renner está entre as empresas brasileiras na carteira ESG da gestora escandinava Nordea Asset Management
Varejista Lojas Renner está entre as empresas brasileiras na carteira ESG da gestora escandinava Nordea Asset Management - Divulgação

No caso do Itaú, o fato de um grande banco ter poucas questões controversas relacionadas ao seu nome já representa uma importante conquista, em nossa avaliação. O banco também tem adotado medidas na frente de responsabilidade social, como recentemente por meio do programa "Todos pela Saúde", ou via concessão e extensão de linhas de crédito a clientes atingidos pela crise do coronavírus.

Como a Nordea Asset Management avalia a evolução dos últimos anos no engajamento dos mercados emergentes em relação aos investimentos responsáveis, sejam por empresas ou investidores? Nos mercados emergentes, geralmente há pouca divulgação em relação aos riscos ESG. Portanto, antes de comprarmos a ação de uma empresa, precisamos nos encontrar, de preferência pessoalmente, e fazer perguntas.

Aproveitamos muitas das oportunidades para nos envolvermos ativamente com as empresas de modo a gerar mudanças benéficas. Nossos esforços de engajamento incluem trabalhar na melhoria da divulgação de informações.

Felizmente, estamos vendo melhorias na divulgação ESG em mercados emergentes. Por exemplo, a Bolsa de Valores de Hong Kong, uma das principais da Ásia, está em processo de tornar a divulgação de riscos ESG uma responsabilidade dos conselhos.

Os mercados emergentes representam uma oportunidade empolgante, na medida em que buscamos empresas que possam se tornar "ESG Stars" no futuro. Quando identificamos empresas que demonstram esse potencial, trabalhamos com elas para examinar as áreas onde suas credenciais ESG podem ser aprimoradas e padronizadas.

Raio-x | Eric Pedersen, 54

É diretor da área de investimentos responsáveis da Nordea Asset Management, gestora de recursos escandinava com R$ 2,5 trilhões sob administração. É formado em economia pela Universidade de Copenhague (Dinamarca), e, após concluir a tese de mestrado sobre reforma econômica na Índia, começou a carreira na ONU como economista júnior no PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) na República do Mali, África.

Em 1996, Pedersen ingressou no Unibank of Denmark, banco dinamarquês predecessor do grupo Nordea. Ele já atuou no comitê de governança corporativa da Dinamarca.

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