Ao segundo dia de campanha, pingue-pongue entre Costa e Rio acelerou

PS bipolariza campanha enquanto Rio ameaça deixar Costa a falar sozinho e o CDS chama “terrorista” ao PAN.

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António Costa esteve num encontro com mulheres socialistas Nuno Ferreira Santos
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Rui Rio desceu a av. da Igreja, em Lisboa ADRIANO MIRANDA
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Catarina Martins esteve no Fundão LUSA/PAULO NOVAIS
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João Ferreira substituiu Jerónimo de Sousa na tradicional vila do Couço LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO
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Em Évora, Francisco Rodrigues dos Santos "atirou" sobre o PAN LUSA/NUNO VEIGA
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André Ventura esteve na Sertã mas não suscitou muita adesão LUSA/PAULO NOVAIS

Costa, o dois-em-um

Os homens do socialista dizem que ele quer uma “campanha pela positiva”, assente nas suas propostas para o país, mas Costa não tem perdido uma oportunidade para “malhar” em Rui Rio.

António Costa vai apresentar um tema do seu programa em cada dia da campanha. Já o fez na pré-campanha e vai continuar a fazer nas duas semanas que vão levar os partidos a votos para a eleição legislativa.

Com isto pretende evitar que o acusem de não discutir propostas para o país. “Costa quer fazer uma campanha pela positiva e não uma campanha de críticas”, garantiu nesta segunda-feira ao PÚBLICO um membro da sua equipa eleitoral.

Será seguramente verdade, mas não é menos verdade que, quer na pré-campanha, quer nos dois primeiros dias oficiais de disputa de votos, não faltaram as propostas, mas também não faltaram a críticas, especialmente a Rui Rio, e por vezes muito duras.

No domingo, em campanha nos Açores, Costa aproveitou um tweet de Rio que lançava dúvidas sobre onde era validado o voto antecipado para lançar um forte ataque. Começou por dizer que o presidente do PSD tentou “disfarçar o seu desconhecimento” dizendo que foi “uma graçola” e que isso feria a sua “credibilidade”.

Nesta segunda-feira, em Lisboa, o tema era a igualdade entre homens e mulheres e a diversidade. No debate organizado pelas mulheres socialistas o Costa abordou a temática abundantemente, mas, logo no início do seu discurso lá veio a crítica a Rio.

Alertou para o “perigo” da extrema-direita e de quem “a normaliza”, para logo a seguir afirmar: “O pior perigo que representam é quando começam a condicionar os partidos do centro, quando começam a mitigar propostas com raiz desigualaria. (…) Quando se começa a achar que a prisão perpétua não é bem perpétua. Isso é o primeiro passo para para achar que racismo não é bem racismo e a xenofobia não é bem xenofobia e que o reconhecimento da desigualdade de género não é bem o reconhecimento da desigualdade de género.”

Nem foi preciso dizer o nome de Rio para se saber que a crítica lhe era totalmente endereçada, depois do social-democrata ter afirmado num debate com André Ventura, que há vários tipos de prisão perpétua.

Seguramente que será um Costa dois em um que vai cumprir toda a campanha.

Rio sobre Costa: “Se continuar assim, vai ficar a falar sozinho”

Envolto numa nuvem laranja, com muitos ‘jotinhas’ barulhentos e gente de todas as idades aos encontrões, Rui Rio desceu esta segunda-feira a Avenida da Igreja, em Alvalade (Lisboa), na segunda arruada da campanha eleitoral. A aposta foram os cafés e lojas da rua, porque os transeuntes mal o viam no meio da multidão.

Ao fundo da avenida, questionado sobre se estava à espera de tanta gente em plena pandemia, o líder do PSD passou por cima da questão e surfou a onda laranja: “Eu não estava à espera de tanta gente no início da campanha, mas mais para o fim”.

Com Ricardo Baptista Leite, o cabeça de lista por Lisboa, de um lado e do outro Carlos Moedas, Rui Rio recusou que o presidente da Câmara de Lisboa seja uma espécie de amuleto, como lhe perguntaram. “O engenheiro Carlos Moedas ganhou a Câmara de Lisboa e diz-se que não era esperado porque andaram a pôr sondagens que lhe davam 20% a menos”, comentou. Para retorquir: “Mas não era esperado por quê? Os candidatos partiram em igualdade de circunstâncias, fez a campanha dele e ganhou”, disse ainda, sugerindo que o mesmo lhe pode acontecer.

Questionado sobre se a campanha vai continuar a ser um pingue-pongue entre si e António Costa, insistiu nas críticas ao principal adversário: “Está a tentar meter medo aos portugueses, agitando o papão da direita” e “deturpando as minhas propostas”. Mas se continua assim, “vai ficar a falar sozinho”, garante Rio, pedindo “mais elevação” na campanha.

Já sobre o facto de o Ministério Público ter hoje pedido a condenação do seu secretário-geral, José Silvano, por falsidade informática no caso da marcação da presença no parlamento por outra deputada, Rio desvalorizou: “Já pediu muitas vezes, agora nas alegações finais pediu mais uma. Não me parece que seja mau para o PSD. É uma coisa sem importância”.

BE diz que “tem boa memória” do PS em 2015

Os cenários pós-eleitorais continuam a marcar o segundo dia da campanha oficial do Bloco de Esquerda, que esta segunda-feira concentrou a sua caravana no mercado semanal do Fundão, distrito de Castelo de Branco. No final do único ponto da agenda de Catarina Martins – que à noite se sentou a debater com todos os restantes partidos com assento parlamentar – a coordenadora respondeu às perguntas dos feirantes sobre o “fim da geringonça” e recordou que também em 2015, António Costa recusou durante a campanha soluções à esquerda, tendo sido “a força dos votos” que permitiu o acordo pós-eleitoral.<_o3a_p>

“Eu tenho boa memória. Lembro-me de, em 2015, ter proposto a António Costa que abandonasse o projecto de congelar pensões e que abandonasse o projecto de despedimentos conciliatórios, que era uma forma de facilitar despedimentos, para que no dia a seguir às eleições houvesse uma solução de governo para o país à esquerda”, disse.<_o3a_p>

Catarina Martins recordou que António Costa também passou parte da campanha de 2015 - pré-geringonça - a afirmar que o PS “seria por si só o diálogo à esquerda, recusando qualquer contrato efectivo de governação”.<_o3a_p>

“Mas a força dos votos, a força de quem não se resignou, de quem não quis cortes nas pensões, de quem quis salários dignos, de quem quis que o país respondesse, essa força dos votos fez do Bloco de Esquerda a terceira força política em 2015, contra todas as sondagens e conseguimos soluções”, afirmou. E reafirmou o partido como parte da solução governativa que António Costa continua a desdenhar.

Jerónimo voltou a casa e a CDU foi ao Couço acusar o PS de chantagem

“Não há uma bandeira, não há nada... Onde é que isto já se viu?”, lamentou Gracinda Nunes à porta do salão da Casa do Povo do Couço torcendo o nariz. Bem tentou interceder junto de camaradas da organização mas nada. A tradicional ida ao Couço teve um sabor insosso, sem bandeiras nem cozido nem frijoca, e sem festa, algo que nem parece do PCP. Sobretudo no dia em que Jerónimo de Sousa teve alta hospitalar e regressou a casa para o resto da recuperação. O partido já fixou o calendário: o secretário-geral deve retomar a actividade política no fim-de-semana.

À porta da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, onde se soube da alta de Jerónimo, os jornalistas bem tentaram que João Ferreira fizesse um balanço das suas funções de substituto, mas nada. É quase a mesma reacção que vão tendo os militantes no Couço: preferem elogiar o secretário-geral, dizer que Ferreira tem jeito mas falar de sucessão nem por isso.

Perante uma plateia de reformados, João Ferreira centrou-se nas pensões, no futuro da Segurança Social e nos serviços de saúde. Defendeu o aumento geral dos salários para permitir também melhores pensões, mais receita à Segurança Social e “arrebitar a economia”, a fixação da reforma aos 65 anos ou 40 anos de descontos e o fim do factor de sustentabilidade. Insistiu na ideia de que só houve aumentos extraordinários anuais de 10 euros por exigência do PCP e atacou os socialistas por não haver aumentos neste Janeiro. “Podia fazê-lo mas não quis. Não foi por não haver orçamento. O PS resolveu transformar isto numa chantagem, numa arma eleitoral.”

PAN, PAN, PAN: CDS tem um alvo de eleição

Francisco Rodrigues dos Santo voltou esta segunda-feira a visar o PAN mas com mais partidos à direita na mira. Num almoço-comício em Évora com meia centena de apoiantes, o líder do CDS não gastou muitas palavras com PSD e Iniciativa Liberal, mas as que usou foram duras.<_o3a_p><_u13a_p>

“Fiquei preocupado, confesso-vos, com as recentes notícias que dão nota de que Rui Rio e João Cotrim de Figueiredo admitem entender-se com o PAN para a formação de Governo de Portugal. Para o PSD, pelos vistos, já vale tudo. Para nós não”, enfatizou. E acusou a IL de se apresentar como “grande defensora das liberdades”, quando “esmaga a liberdade dos outros pela ditadura de gosto”, no caso da tauromaquia.

O CDS, distinguiu Rodrigues dos Santos, “não fará nenhum entendimento de base de governo com o PAN”, porque este é “um partido animalista radical que tem uma agenda ditatorial que quer destruir o modo de vida das pessoas que trabalham no campo, que respeitam as tradições e são os verdadeiros ambientalistas”. Reiterando que o CDS não deixará de defender “a boa gente taurina” e os caçadores, que “gerem o ambiente e a biosfera”, Rodrigues dos Santos chegou a acusar o PAN, enquanto partido que “humaniza animais e animaliza pessoas”, com “concepções excêntricas” e “preconceitos urbanos”, de ser, “nesse sentido, terrorista”.

O fundador do PAN “foi um activista extremista que defendia coisas como a purificação nacional” e queria tornar o país “completamente vegetariano. Uma brigada do tofu e uma política de beringela”, satirizou.<_o3a_p><_u13a_p>

O dia ficou ainda marcado pelas promessas de apoio às forças de segurança. “Não deixaremos que outro partido qualquer se aproprie desta bandeira, que sempre foi do CDS”, avisou Rodrigues dos Santos.

Apesar do sol de Inverno, campanha do Chega arrefeceu na Sertã

Ao contrário do que tinha acontecido este domingo, no arranque oficial da campanha eleitoral, a tarde desta segunda-feira não foi fértil em interacções para a comitiva de André Ventura. A cerca de dez minutos da hora marcada para a arruada do Chega na Sertã, eram poucos os que ocupavam a Praça da República, local escolhido para a concentração.

Acompanhada pelo pai, Maria Duarte, foi a primeira a chegar ao ponto de encontro. Confessando que tem uma divisão em casa decorada com artefactos do Chega – nos quais se incluem posters de André Ventura nas paredes –, a empresária agrícola virou costas ao CDS em 2019 para se juntar ao eleitorado do partido populista.

“O CDS não chegava, não tinha aquela garra que eu acho que o André Ventura e o Chega têm. Identifico-me mais com eles”, adianta, considerando “um exagero” as acusações de racismo e xenofobia dirigidas ao partido. Responsável por uma empresa familiar de produção de leite de cabra, Maria Duarte identifica-se com André Ventura nos argumentos da falta de mão-de-obra em vários sectores, mas reconhece que os patrões têm de ser impedidos de explorar os trabalhadores migrantes, especialmente na actividade agrícola. “Isso tem de ser proibido, [os patrões] não podem explorar as pessoas. Têm de ser justos. Mas também se os patrões fazem isso é porque a empresa não dá para pagar [melhores salários]”.

Enquanto Maria Duarte aguardava a chegada de André Ventura, duas dezenas de jovens com mochilas às costas sentaram-se na escadaria da Praça da República. Prontamente, um responsável do partido distribuiu bandeiras pelos menores. “Quero ver todos de pé quando chegar o André Ventura”, dirigia. Depois, questionava: “Vocês são da Juventude do Chega? Não? A responsável vai estar cá hoje. Venham para a juventude, estamos a precisar de jovens”, instava.

Um pequeno grupo de alunos mantinha-se mais afastado e sem bandeiras na mão. “Alguns são nossos colegas de escola, outros não sabemos quem são. Os que conhecemos estão só aí para tirar selfies e fazer memes”, confessou um dos rapazes.

A arruada foi acompanhada por cerca de 40 militantes, mas as ruas vazias obrigaram o líder do Chega a entrar dentro de alguns estabelecimentos para criar contacto com a população local. Os poucos contactos com transeuntes envolveram, em alguns dos casos, membros da própria comitiva – ou familiares destes –, dispersados ao longo do percurso.

Pouco antes de chegar ao ponto final do encontro, uma jovem com uma bandeira arco-íris às costas confrontou a comitiva à distância. Helena Batista, natural da Sertã, sentiu a necessidade de “tomar posição” contra a presença de André Ventura na vila. “Foi uma tomada de posição. É inadmissível não respeitarem as relações entre pessoas do mesmo género. Cada um merece ter os mesmos direitos, independentemente de quem gostamos”, resume em tom de desafio.

O evento terminaria em 30 minutos, com André Ventura a seguir viagem para Lisboa, onde se realiza a partir das 21h o debate com todos os candidatos às eleições legislativas.

Antes de se colocar a caminho do debate, André Ventura respondeu às críticas de Francisco Rodrigues dos Santos. O líder do CDS acusou alguns partidos de copiarem algumas das “bandeiras” defendidas pelos centristas há vários anos. Ventura diz que o CDS se deixou ultrapassar e que, ao contrário do que afirma “Chicão”, são os centristas a copiar o Chega.

“O CDS acordou agora, a poucos dias das eleições. Quis ser o PSD número dois, com Assunção Cristas, quis tornar-se o partido que nem era carne nem peixe. Esqueceu-se do mundo rural, alinhou na história do racismo contra todos os outros e do politicamente correcto. Agora, viu o crescimento do Chega e quer imitar-nos no estilo e na forma. Não é por acaso que o CDS passou para zero vírgula qualquer coisa nas sondagens e o Chega está quase nos 10%. É sinal de que as pessoas já perceberam que há um original e há uma cópia: neste caso o original é o Chega e a cópia o CDS”, responde Ventura.

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