Em teoria, os habituais prémios anuais que celebram os melhores jogadores desse mesmo ano dizem respeito apenas e só a esse período temporal. Não são prémios de carreira, não são prémios de homenagem e não são prémios de compensação por qualquer motivo. São prémios atribuídos, única e exclusivamente, pelo mérito desportivo do ano que passou — mas essa ideia parece ainda ser difícil de entender.

Esta segunda-feira, na cerimónia dos prémios FIFA The Best onde Robert Lewandowski foi eleito o Melhor Jogador do Ano e Cristiano Ronaldo também foi homenageado pelo 115 golos que marcou ao serviço da Seleção Nacional, a surpresa generalizada surgiu com a revelação do Onze do Ano do futebol feminino. O motivo é simples: Alexia Putellas, a vencedora do galardão de Jogadora do Ano, não foi incluída nas escolhas, assim como Jenni Hermoso e Sam Kerr, as outras duas finalistas do prémio mais importante.

O problema torna-se ainda maior quando percebemos que nenhuma jogadora do Barcelona, que ganhou a liga espanhola, a Taça da Rainha e a Liga dos Campeões, foi escolhida para o Onze do Ano. Embora algumas opções façam sentido, como a sueca Magdalena Eriksson, a francesa Wendie Renard ou a neerlandesa Miedema, a verdade é que alguns dos 11 nomes parecem cumprir o critério errado do “prémio de carreira”: Carli Lloyd, Marta e Alex Morgan, sendo que a primeira até deixou os relvados em 2021, já foram das melhores jogadoras do mundo mas já deixaram de o ser, algo que não impediu o facto de fazerem parte deste lote. Depois, ainda existem os casos de Estefania Banini e Barbara Bonansea, que nem sequer ficaram entre as 30 primeiras classificadas na corrida a Médio do Ano — sendo que a primeira até está afastada da seleção argentina e só competiu no Atl. Madrid ao longo da época.

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De recordar que a eleição do Onze do Ano resulta de uma votação das próprias jogadoras, através do sindicato FIFPro. Algo que não afasta a polémica e que não impediu o jornal Sport, catalão, de vincar o desagrado com a ausência de jogadoras do Barcelona. “A explicação? O voto das próprias futebolistas, que é um sintoma grave e claro de que é preciso dar muito mais visibilidade ao futebol feminino para que se possa votar com propriedade. Elas são as primeiras prejudicadas por uma escolha assim mas a FIFA também o é, porque perdeu toda a credibilidade com estes prémios e devia defender-se. Talvez com uma lista prévia ou algum tipo de filtro prévio à votação final que evite tal despropósito, para além de potenciar muito mais a visibilidade do futebol feminino no mundo inteiro. É preciso melhorar um sistema de eleição que acabou por ser uma piada de mau gosto”, pode ler-se no editorial desta terça-feira, que tem como título “O onze da vergonha”.

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O Onze do Ano, contudo, não foi o único prémio do futebol feminino a causar alguma estranheza. Também o galardão de Treinador do Ano, conquistado por Emma Hayes, do Chelsea, foi controverso — até porque os blues perderam a Liga dos Campeões precisamente para o Barcelona.