Há alguns anos — difícil precisar quando — o conceito de Recursos Humanos Estratégico começou a compor o discurso de profissionais e empresas. A intenção era desvincular a área do burocrático departamento pessoal, para posicioná-la como disciplina fundamental para o sucesso da empresa. Mas o RH era de fato estratégico? A resposta para essa pergunta deve começar a mudar a partir deste ano. Em sua Carta Anual aos CEOs de 2022, Larry Fink, um dos capitalistas mais influentes do mundo à frente da gestora de fundos BlackRock, abriu o texto discutindo as relações de trabalho e colocando o CEO e o trabalho realizado pelo RH como fatores verdadeiramente críticos para a boa performance das companhias.

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Na carta, publicada no site da gestora na segunda-feira (18), o CEO afirma: “Colocar o propósito de sua empresa na base de seus relacionamentos com seus stakeholders é fundamental para o sucesso a longo prazo”. A frase ganhou destaque na página, com fundo amarelo. Um detalhe que, nas entrelinhas, evidencia o peso que a declaração tem. No decorrer do texto, o executivo é enfático ao dizer que as relações entre patrões e empregados mudou radicalmente com a pandemia. Que o mundo de trabalho presencial nos cinco dias de semana e relações desiguais ficou no passado. E vincula a postura que a corporação adotará  nessa nova realidade aos resultados futuros, afirmando que “criar ambientes melhores e mais inovadores para seus funcionários [são] ações que ajudarão as empresas a obter maiores lucros para seus acionistas”.

Com  o posicionamento da BlackRock não seria de se estranhar que a agenda social e de recursos humanos faça jornada semelhante ao que aconteceu com a pauta ESG: ainda que o conceito de sustentabilidade já existisse desde 1972 quando surgiu durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, só ganhou força na mesa do C-level quando o mesmo Larry Fink, na Carta aos CEOs de 2018, declarou que considerar os riscos ambientais passava a ser crucial para análise de risco de negócios.

Ter escolhido falar de gestão de pessoas, propósito e modelos de trabalho no início da carta não significa que a pauta ESG perdeu força para o presidente da BlackRock. Ao contrário, indica um fortalecimento, já que começa a olhar para o pilar social com as mesmas lentes que usou para o ambiental nos últimos anos. Em suma, está mostrando ao mercado que o ESG não é modismo. É capitalismo, como escreve no texto. Sobre o pilar E (environmental) se mostra mais alinhado do que nunca à luta global pelo controle do aquecimento do planeta, meta do Acordo de Paris. “Todas as empresas e todos os setores serão transformados pela transição para um mundo net zero. A questão é: você vai liderar ou você será liderado?” Quem pergunta é o CEO de um fundo de US$ 10 trilhões que está sempre em busca de onde alocar os recursos de seus clientes.