É com o foco nas três principais causas do PAN que Inês Sousa Real encerra esta campanha para as legislativas. O discurso não muda muito em relação àquilo que a candidata defendeu nas últimas duas semanas, mas aperta mais o cerco ao bloco central, com críticas mais duras, e sobretudo mais diretas, a PS e PSD.

Comecemos pelas pessoas. “A receita utilizada até agora, quer pelo PS  quer pelo PSD (de mãos dadas com o CDS e que agora admite abrir a porta ao Chega) não serve quem devia servir”, atirou, para depois discorrer numa série de exemplos. Para Inês Sousa Real, os socialistas “esqueceram a classe média”, afirmando que este Governo chega ao fim do seu mandato com o “quarto salário médio mais baixo” da União Europeia. Já o PSD, diz, quer “adiar o alívio fiscal da classe média”.

Na Saúde, a candidata aponta que o PS “insiste em ter um SNS com um saldo negativo de 400 milhões de euros” e que o PSD “acha que a classe média deve pagar os cuidados prestados” no Serviço Nacional de Saúde.

Animais. Para Inês Sousa Real, o Governo “continua a dar aos canis municipais apenas 30% do que precisam”, enquanto que acusa o PSD de querer “devolver a tutela do bem estar e proteção animal à DGAV”. A candidata volta assim a defender que a proteção animal seja inserida na Constituição portuguesa, mas também alargada a criminalização dos maus tratos a todos os animais. E refere ainda a tauromaquia para destacar que esse “não pode ser um fenómeno cultural” e que esta atividade “tem os dias contados”.

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Na natureza, a porta-voz do PAN é clara. Lembra que socialistas deram “carta branca” à exploração do lítio em áreas protegidas e atira que social-democratas querem criar um “simplex de licenciamento das atividades económicas ligadas ao mar”. Sobre as florestas, a candidata visa até diretamente Capoulas Santos, antigo ministro da Agricultura, que “aprovou uma reforma das florestas” que levou a que o país “tenha a maior área ardida da UE entre 2016 e 2018. Mas atira também aos social-democratas, para voltar a referir a política dos eucaliptos que o partido quer seguir.

Inês Sousa Real optou por um discurso focado no bloco central, que tem dito que prejudica o país. Mas volta também a lembrar os partidos da esquerda. Usa a narrativa de que criaram uma crise política “totalmente inevitável”, sublinhando que o PAN foi o “único partido responsável”. “Agora estão dispostos ao diálogo, bem-vindos ao diálogo”, reforça Inês Sousa Real, em referência à disponibilidade que PCP e Bloco de Esquerda demonstraram para entendimentos com António Costa já na reta final da campanha.

“Nas eleições do próximo domingo, Portugal precisa de um voto com utilidade”, apelou. A última intervenção da porta-voz do PAN atrás de um palanque fecha assim a campanha do partido nestas legislativas, num jantar-comício que reuniu uma centena de pessoas, mas que não contou com caras do partido como Bebiana Cunha, cabeça de lista pelo distrito do Porto, ou até André Silva, ex-líder.

PAN desce o Chiado em comitiva discreta e quase se encontra com Rui Rio

Na comitiva do PAN, a descida do Chiado esta tarde, em Lisboa, foi discreta. A caravana, pouco composta, até se cruzou com a do PSD, que também iria fazer aquele caminho numa arruada. Inês Sousa Real contornou de forma natural, e pela esquerda, a comitiva social-democrata, sem barulho.

“Hoje é um dia em que estamos todos na rua, já nos cruzámos com o PS, com o PSD, com outras forças políticas”, garante a porta-voz do PAN, que não se encontrou com Rui Rio porque o líder social-democrata ainda não tinha chegado.

Mas se se encontrasse com ele? “Cumprimentaria e desejaria boa sorte para o resto da campanha, sendo que o resto do diálogo e do debate terá de vir de todas as forças políticas e não apenas do PSD no pós 30 de janeiro”, afirma.

Poucos metros mais à frente, Inês Sousa Real encontra Teresa Leal Coelho, social-democrata que estaria a caminho da arruada do PSD. Entre desejos mútuos de boa sorte, a ex-deputada até deixou o convite — aquele que não tem chegado por parte de Rui Rio. “Vou para a nossa arruada. Quer juntar-se a nós? Não era mau”, atirou, entre risos, Teresa Leal Coelho.