O que pensa o escritor que mudou a forma como empresas como a Ambev fazem negócios?

Autor de best-seller "O jogo Infinito" dá receita para encontrar propósito, escolher melhores líderes e mudar a forma de ver a concorrência

Mariana Amaro

Simon Sinek (Foto: Divulgação)

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“O líder tem a mesma importância para o desenvolvimento de um time e crescimento de uma empresa que os pais de uma criança têm com o seu desenvolvimento”. A declaração é do britânico Simon Sinek, que estuda sobre liderança e desenvolvimento humano e escreveu cinco best-sellers como “O jogo infinito” (Ed. Sextante; 2020), “Lideres se servem por último” (AltaBooks; 2020) e “Encontre seu porquê” (Ed. Sextante; 2018).

Sinek falou sobre liderança, cultura e compartilhou histórias com a audiência do B2b XPerience, promovido pela XP Inc em Punta del Este, no Uruguai, e acompanhado pela reportagem. Confira alguns dos tópicos mencionados.

Líder é diferente de chefe

Embora as duas figuras — líder e chefe — carreguem autoridade, são, na opinião de Sinek, posições muito diferentes. Os funcionários, por exemplo, farão o que um chefe manda, mas não acreditaram nas motivações dessa pessoa. O que falta para um chefe virar líder é a confiança do time. “Por outro lado, algumas pessoas que não ocupam a cadeira principal em uma empresa podem ser vistos como líderes na equipe porque pegam aqueles ao seu entorno e os ajudam a crescer”, diz.

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Para Sinek, liderança é sobre pessoas – e pessoas são complexas, com famílias, problemas pessoais, ego, ambição, falta de sono. Por isso, os melhores líderes serão aqueles que se consideram aprendizes da função, sabem que não precisam ter todas as respostas e não veem problema em fazer sempre duas colocações: 1) eu não sei; e 2) eu preciso de ajuda. Demonstrar que não sabe tudo e que tem dificuldades é, de acordo com o britânico, essencial para criar um ambiente de confiança, onde as pessoas possam falar sobre seus erros e problemas. “Somente assim uma equipe consegue crescer: falando sobre seus erros e aprendendo com eles. Por isso que a qualidade do líder determina a qualidade da equipe”, diz.

Avaliação baseada em performance?

Sinek desconfia de empresas e líderes que avaliam a equipe baseado apenas em performance. O ideal, ele diz, seria cruzar essa informação com o quanto é possível confiar nessa pessoa. “E confiança não é apenas de acreditar que alguém ‘salvaria a sua vida’, mas confiar também para dar acesso a todo o seu dinheiro”, exemplifica.

Ninguém gostaria de trabalhar com uma pessoa com baixa performance, diz, mas alguém com alta performance e baixa confiança é, segundo Sinek, a definição de uma ‘pessoa tóxica’ no trabalho. “Muitas vezes, promovemos pessoas tóxicas por causa de sua alta performance e deixamos para trás pessoas com uma performance média porém alto nível de liderança e confiança no time”, diz.

Ser uma pessoa tóxica não significa gritar e xingar, necessariamente, mas ter uma agenda diferente e motivações egoístas. “São pessoas que não compartilham informações, não ficam felizes com o sucesso dos outros, não dividem trabalho”, diz. Esse tipo de comportamento pode ser modificado, mas depende, primeiro, do funcionário querer mudar e estar disposto a ouvir sobre os problemas que causa para a equipe.

Diante disso, a forma mais certeira de encontrar bons líderes dentro da empresa é, segundo Sinek, perguntar ao time. “Peça ao time para escrever sobre por quem sente mais gratidão, quem tem mais admiração, mais respeito. Essa pessoa pode não ser aquela com o melhor desempenho, mas é aquela que oferece mais apoio e que a equipe reconhece como uma liderança. Isso é ser líder”, resume.

O seu propósito

O autor, que já vendeu muitos livros sobre o como encontrar seu propósito, também sugeriu uma maneira simples para as pessoas encontrarem suas motivações pessoais.

Para ele, a forma mais fácil de fazer isso é pensar em alguma experiência profissional transformadora. “Pense em alguma situação, projeto, experiência que você amou e pergunte por que você gostou tanto disso? É isso o que você ama no seu trabalho”, resume. Para que o truque funcione, é preciso que a história não seja genérica e tenha relevância para a profissão.  “Não pode ser ‘estudei medicina porque gosto de ajudar pessoas’. Precisa ser algo como ‘peguei um caso que ninguém mais queria porque tinha certeza que faria tudo que fosse possível para salvar aquela pessoa”.

Essa experiência, diz Sinek, pode ser usada em entrevistas de emprego ou negociações com clientes. “Quando alguém te perguntar o que você faz, não vai mais responder que trabalha com saúde, beleza, finanças. Vai dizer: ‘Deixe eu te contar uma história sobre a minha carreira…’. Pode ser que você não consiga a vaga ou o cliente, mas vai conseguir passar a sua verdade”, diz.

Um jogo diferente

Sinek também propõe uma forma diferente de olhar para os negócios  e usa uma analogia simples para isso: futebol. O jogo mais popular do Brasil é o que ele chama de jogo finito: possui regras claras, jogadores conhecidos e começo, meio e fim. Já relações entre pessoas podem ser classificadas como jogos infinitos: as regras são variáveis, novos jogadores podem aparecer a qualquer momento e não há um conceito de meio e fim.

Para Sinek, muitas empresas jogavam – e ainda acham que jogam – o jogo finito. “Ouço muitos líderes falando em ser o número um e bater a concorrência. Minha resposta costuma ser: ‘baseado em quê? Você estabeleceu o prazo sozinho, determinou os números, não sabe se pode surgir um novo concorrente amanhã’. Tentar ganhar da competição é bobo e, francamente, impossível, porque você escolheu as métricas sozinho”, afirma.

Esse foco em ganhar um jogo imaginário, para Sinek, faz com que as empresas foquem na meta errada e esqueçam dos  clientes. Enquanto no jogo infinito, a meta é melhorar sempre, se manter preparado e, ter, com isso, a oportunidade de encontrar os outros jogadores que são melhores e diferentes e aprender com eles para melhorar também.

Para exemplificar, Sinek contou que em meados de 2005, foi para uma conferência da Microsoft. “Lá, eles passaram a maior parte do tempo falando sobre como bater a Apple e apresentaram um tocador de música muito melhor que o iPod”, relembra. Poucos dias depois, Sinek foi a um evento semelhante da Apple e notou que o assunto era como ajudar alunos e professores a trabalhar melhor juntos.

Na saída do evento da Apple, Sinek informou um dos diretores da companhia de Steve Jobs que tinha visto o equipamento da Microsoft que concorria com o iPod e que a versão da empresa de Bill Gates era muito melhor. “Ele respondeu ‘não tenho dúvida’ e não falou mais sobre o assunto. Pouco tempo depois, a Apple lançou o iPhone e transformou todos os tocadores de música em obsoletos”, conta. E conclui: “é isso que fazemos quando estamos obcecados com a competição: perdemos a chance de inovar”.

Para Jean Jereissati, presidente da Ambev, conhecer esse conceito de jogo infinito mudou a forma da empresa que ele dirige enxergar o mercado. “Nos primeiros anos da Ambev, olhávamos muito para o consumidor e a competição”, disse Jereissati, na Expert XP 2022, que aconteceu em agosto e foi acompanhado pela reportagem do InfoMoney. “Depois de aprender sobre o conceito de jogo infinito, entendemos que precisamos olhar menos para marketshare e mais para o ecossistema de cervejas. O nosso objetivo agora é viver os próximos 100 anos”, finaliza.

Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.