De Baidu (BIDU34) e Alibaba (BABA34) a XINA11: BDRs e ETFs tombam até 38% em 1 mês com sangria na China

Enquanto Mark Mobius, entusiasta dos emergentes, diz que "obviamente perspectivas não são boas", analistas se dividem sobre novo governo de XI Jinping

Mariana Segala

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A sangria nos mercados da China, aprofundada na segunda-feira (24) enquanto agentes financeiros digeriam os resultados do Congresso do Partido Comunista Chinês encerrado no domingo (23), tiveram reflexos sobre os ativos com origem no país e negociados na B3.

Nove dos 20 BDRs (Brazilian Depositary Receipts) que mais caem em um mês replicam são lastreados em ações listadas na China ou em Hong Kong. Dentre eles estão papéis conhecidos, como os da gigante do e-commerce Alibaba (BABA34) e do Baidu (BIDU34), o “Google chinês”.

As quedas acumuladas em um mês, até esta terça-feira (25), chegam a 38% – caso dos BDRs da Bilibili (B1IL34) grupo de entretenimento online também apelidado de “YouTube chinês”.

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Dentre os fundos de índices (ETFs), seis dos dez com as piores quedas em um mês investem prioritariamente em ativos chineses. O recuo supera 18% no caso do iShares China Large Cap ([ativo=BFXI39]), BDR de ETF que acompanha o desempenho de grandes empresas do país.

Os BDRs são recibos de ativos negociados em bolsas estrangeiras e listados no mercado local. No caso de BDRs de ETFs, trata-se de papéis que “espelham” fundos de índices negociados no mercado internacional.

O XINA11, que está entre os ETFs de maior negociação na B3, cai 14,6% no período (também até terça-feira, 25). Ele replica o índice MSCI China, composto por empresas de grande e médio porte, listadas em todos os mercados do país.

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Na segunda, as ações em Hong Kong caíram para as mínimas em 13 anos e o iuan onshore despencou para o nível mais fraco em quase 15 anos. O catalisador para investidores partirem em retirada foi a percepção sobre o Congresso do PCC e a formação do novo governo de XI Jinping.

Xi foi novamente nomeado secretário-geral do Partido no domingo. O cargo é o que acumula mais poder no país – desde 1993, o presidente em exercício da legenda também é o presidente da China. Será o terceiro mandato do político.

Sua recondução ao cargo máximo da nação por si só já quebrou a regra não escrita de que o secretário-geral só deveria ser eleito para dois mandatos de cinco anos. A decisão também contraria o histórico de que os líderes se aposentassem após os 68 anos: ele já tem 69.

Além definir a manutenção do atual líder, o Congresso também determinou os membros do conselho de políticos mais poderosos do país, o Politburo. Dos sete membros, quatro são novos nomeados – todos com pelo menos 60 anos de idade.

Enquanto nas redes sociais proliferam os pequenos investidores questionando se, dadas as quedas, a hora é de apostar nos ETFs e BDRs de origem chinesa listados na B3, entre economistas, analistas e gestores as visões se dividem.

“Obviamente, as perspectivas não são boas para investimentos na China em vista das mudanças políticas”, disse Mark Mobius à Bloomberg. Cofundador da Mobius Capital Partners, ele é um conhecido entusiasta de investimentos em mercados emergentes.

“Dada a postura política chinesa e a reação dos Estados Unidos, só podemos esperar tensões elevadas e, possivelmente, sanções adicionais na arena de tecnologia. Sem mencionar outras barreiras comerciais”, afirmou Mobius.

Analistas do Bank of America (Bofa) reconheceram que a nova liderança escolhida na China indica mais concentração no processo decisório superior. “Alguns investidores podem se preocupar com a falta de freios e contrapesos, e o risco de que possíveis erros de política evoluam para grandes choques na economia”, afirmam em relatório. “Por outro lado, esta configuração também implica solidariedade ao mais alto nível, e pode levar a uma execução de políticas mais eficaz e pouca resistência política contra reformas ou mudanças mais ousadas”.

Já a equipe de estratégia global do J.P. Morgan avaliou que a venda exacerbada de China está desconectada dos fundamentos e apresenta uma oportunidade. No fim de semana, dados de crescimento do país que foram divulgados surpreenderam positivamente, mas o mercado acionário reagiu de forma negativa. “Acreditamos que esta é uma boa oportunidade de adicionar [China], dada uma esperada recuperação do crescimento, a reabertura gradual após a Covid e estímulos monetário e fiscal”, afirmaram em relatório.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney