Copa do Mundo da FIFA 2022™

Por Valor Online


Criptomoedas, bitcoin, criptoativos — Foto: Reprodução/TV Globo

A Copa do Mundo do Catar foi a primeira a ocorrer em um mundo no qual é possível comprar “fan tokens”, espécie de criptoatvos que dão direito a experiências exclusivas relacionadas a clubes, seleções e jogadores.

Porém, a expectativa de uma explosão da demanda por esses ativos acabou frustrada. O timing do evento esportivo, em meio a uma derrocada nos preços das maiores criptomoedas como o Bitcoin por causa do colapso da corretora FTX, e a falta de compreensão dos investidores sobre esse tipo de token, decepcionaram alguns agentes do mercado.

Maior criptomoeda do setor de “fan tokens”, a Chiliz (CHZ), do grupo Socios.com, experimentou um forte rali que foi do início de julho, quando uma unidade da moeda digital valia US$ 0,09, até o começo de novembro, antes da Copa começar - o token bateu em US$ 0,27. No entanto, logo no sábado (19), um dia antes da abertura da Copa, a criptomoeda caiu 8%, derretendo mais 19,5% no dia 20, início do evento no Catar, a US$ 0,19.

Segundo Tasso Lago, gestor de fundos privados de criptomoedas e fundador da Financial Move, havia expectativa de que as criptomoedas tivessem uma exposição interessante durante a Copa do Mundo. Vale lembrar que uma das empresas que patrocinam o evento é a corretora de criptomoedas Crypto.com. “Mas chegou o sábado e nada de tão interessante aconteceu. O mercado corrigiu junto com a Chiliz”, afirma.

Além disso, a Copa também registrou momentos insólitos para o mercado, como a queda de 23% nos tokens da Argentina da Socios.com, após a derrota da seleção em sua primeira partida da Copa contra a Arábia Saudita, por 2 a 1. Na ocasião, as vendas de Tokens Não-Fungíveis (NFTs) com tema da Arábia Saudita, na coleção chamada “The Saudis”, dispararam 387%.

Para Bruno Maia, CEO da Feel the Match, uma desenvolvedora de propriedades intelectuais para web3, há uma percepção incorreta dos investidores em torno dos “fan tokens”. Maia considera que esse tipo de ativo sofre porque de um lado tenta vender uma experiência ao fã e do outro se torna alvo de especuladores que buscam ganhar dinheiro com a valorização dos tokens.

“A situação com o token da Argentina é mais uma onda especulativa. Muda muito pouco o valor real do criptoativo a derrota da seleção, mas todo ativo financeiro desse tipo possui um preço volátil. As pessoas não têm isso claro. Não acho bom para o ecossistema blockchain esse tipo de circunstância”, defende.

Maia acredita que o modelo de “fan tokens” atual passa por uma bolha que pode estourar assim como a Bolha da Internet no início dos anos 2000, havendo uma verdadeira seleção de quais ativos possuem valor e quais serão extintos. “Você pode criar oferta, mas para a demanda existir precisa haver alguém que efetivamente procure aquilo. Comprar acesso a uma experiência exclusiva por meio de um produto cujo valor flutua é algo que está passando por um teste, mas ainda não conseguiu se provar”, avalia.

Ao mesmo tempo, o mercado de criptoativos como um todo também parece passar por um teste. Desde que a corretora FTX, que já foi a segunda maior do mundo atrás apenas da Binance, começou a ter sua solvência questionada por conta da alavancagem de seu balanço (processo que culminou na falência da exchange), o bitcoin, maior criptomoeda do mundo, já caiu 18%, mas chegou a recuar até 25% no auge da crise. Isso ocorre em um ano que já teve outros eventos catastróficos no mundo dos criptoativos, como o colapso da “stablecoin” algorítmica Terra/Luna.

“Com certeza, um fator que reduziu o interesse por ‘fan tokens’ na Copa é o fato de estarmos em um ‘bear market’ [mercado em queda]. O mercado está irracional. As empresas estão construindo e o ecossistema de criptoativos está crescendo, mas isso ainda não se reflete no preço”, diz Lago.

Se as iniciativas ainda frustram, por outro lado os dados mostram que futebol e criptomoedas têm potencial para se misturarem cada vez mais. Um estudo realizado pela KuCoin revelou que 70% dos investidores de criptomoedas assistem à Copa do Mundo e 35% dos fãs de futebol que também investem em criptomoedas negociaram NFTs nos últimos seis meses, contra 13% da média geral de investidores em criptomoedas. O interesse por NFTs de esportes chega a 42% nos investidores que assistem futebol ante 31% dos demais.

Tentativas de trazer o mundo cripto para a Copa não faltaram. A própria Fifa lançou em outubro o Fifa+ Collect, que se inspira em uma iniciativa semelhante da liga de basquete americana, NBA, e permite que fãs de futebol comprem NFTs de vídeos de lances históricos das Copas do Mundo. Funciona quase como um pacote de figurinhas on-line em que os cromos não são estáticos.

Além disso, em parceria com a Crypto.com, a bandeira de cartões de crédito Visa elaborou a campanha de NFTs Masters of Movement, que fez um leilão de NFTs de gols icônicos antes da Copa e permite que os próprios torcedores criem suas artes digitais após jogarem futebol em um campo digital de LED. Ao Valor, Dario Cutin, vice-presidente de comunicações corporativas da Visa para América Latina e Caribe, diz que a ideia da campanha é permitir que o público se familiarize com a tecnologia NFT e continue a utilizá-la no futuro.

Cutin nega que a demanda seja pequena e aponta que até 30 de novembro a campanha teve mais de 50 mil visitantes, com mais de 10 mil jogadores-fãs no campo digital. E afirma que a Visa quer se tornar a “maneira mais fácil e segura de comprar e/ou usar criptomoedas por meio de um cartão”.

Guilherme Sacamone, diretor de crescimento da Crypto.com no Brasil, detalha que, além da parceria com a Visa para o Masters of Movement, a corretora de criptomoedas oferece oportunidades para clientes novos e existentes assistirem às partidas ou ganharem itens exclusivos. Todavia, a empresa não informou o valor do patrocínio da Copa.

Procurada, a Socios.com não quis participar da reportagem.

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